De execuções a céu aberto em bairros periféricos a um linchamento brutal baseado em boatos. O ano de 2025 foi marcado por crimes violentos no Acre, que chocaram a população, alimentaram debates nas redes sociais e escancararam o avanço das facções criminosas no Estado, a exemplo do que ocorre em grande parte do país.
Dados divulgados pelo Ministério Público do Acre (MPAC), por meio do Núcleo de Apoio Técnico (NAT) apontam que, em 2024, foram registrados 164 homicídios entre janeiro e novembro; em 2025, este número subiu para 177, um aumento de 7,93%
A GAZETA relembra algumas das histórias que marcaram o ano. Confira:
Execução no Taquari: jovens mortos em guerra de facções
Os assassinatos de Micaias Santos Almeida, de 18 anos, e André Silva dos Santos, também de 18, no bairro Taquari, em Rio Branco, expuseram, ainda em fevereiro, a disputa entre facções criminosas na capital. Os dois jovens foram atacados por homens armados em motocicletas enquanto trafegavam de bicicleta durante a madrugada.

Micaias morreu no local após ser atingido por vários disparos, já André sobreviveu ao ataque, mas morreu, meses depois. As investigações apontaram ligação direta do crime com a guerra entre organizações criminosas.
O caso ganhou novos capítulos quando uma intervenção policial resultou na morte de Yago Silva e Silva, de 16 anos, e na prisão de Eduardo Queiroz Veríssimo, apontados como envolvidos em homicídios na região e no assassinato de Micaias e André. Ambos já eram investigados por outros crimes violentos, incluindo as mortes de adultos e até de uma criança.
“Tribunal do crime”: o linchamento de Yara Paulino
Um dos episódios mais impactantes do ano foi a morte de Yara Paulino da Silva, de 27 anos, linchada em via pública no Conjunto Habitacional Cidade do Povo, sob acusação, posteriormente confirmada pela polícia como sendo falsa, de ter matado a própria filha, uma bebê desaparecida.
Yara foi torturada e morta diante dos próprios filhos, de 10 e 2 anos, após boatos se espalharem pela comunidade. O crime foi classificado pela Polícia Civil como um “tribunal do crime”, conduzido por integrantes de facção, e não um linchamento espontâneo.

As investigações avançaram e revelaram uma trama ainda mais complexa: a polícia passou a trabalhar com a hipótese de que a bebê teria sido entregue ou doada, e não assassinada. O fato de a criança não ter registro de nascimento e de seus pertences terem desaparecido levantou fortes indícios de planejamento. A bebê, batizada como Cristina Maria, segue desaparecida.
Todos os envolvidos no assassinato foram identificados e presos, incluindo o pai da criança e parentes da vítima. O processo agora se aproxima da fase final, quando a Justiça decidirá se os réus irão a julgamento pelo Tribunal do Júri.
Crime familiar: homem morto a facadas pela própria irmã
O assassinato do acadêmico Ramón Arruda Braz, de 41 anos, morto com dezenas de facadas pela própria irmã, Camila Arruda Braz, chocou Rio Branco pela violência e pelas circunstâncias envolvendo transtornos mentais.
Camila afirmou à polícia que agiu durante um surto, acreditando que o irmão estaria abusando de sua filha, versão tratada como delírio pelas autoridades. A Justiça converteu a prisão em preventiva e determinou avaliação psiquiátrica da acusada.

Em junho, a Justiça do Acre aceitou a denúncia do Ministério Público contra Camila Braz. Com a decisão, Camila passa oficialmente à condição de ré na ação penal por homicídio duplamente qualificado: por motivo fútil e por ter agido de forma que dificultou a defesa da vítima.
Em outubro, a Justiça do Acre aceitou pedido da defesa de Camila e determinou que ela passe por um exame de sanidade mental.
Caso Juliana Chaar: Confusão em bar termina em morte de advogada
A morte da advogada Juliana Chaar, de 36 anos, após uma briga generalizada em frente a uma casa noturna em Rio Branco, teve forte repercussão social. Imagens de câmeras de segurança mostraram o momento em que um advogado, que era amigo de Juliana, sacou uma arma durante a confusão e, pouco depois, ela foi atropelada por uma caminhonete. Juliana foi aprovada postumamente no Exame da OAB.

O caso se desdobrou em prisões, solturas, recursos judiciais. Ainda em dezembro, a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Acre decidiu, por unanimidade, rejeitar recurso apresentado pelo Ministério Público contra a decisão que concedeu liberdade provisória a Diego Luiz Gois Passo, acusado de homicídio qualificado por atropelar e matar a bacharela em Direito.
Outro investigado envolvido na briga, o advogado e amigo da vítima Keldheky Maia, foi preso, mas liberado em seguida.
Colunista social Moisés Alencastro é assassinado dentro da própria casa
Na semana do Natal, uma triste, violenta e impactante notícia gerou grande comoção entre a sociedade acreana: Moisés Alencastro, ativista cultural, jornalista e colunista social foi encontrado morto, no seu apartamento, na noite de segunda-feira, 22, no bairro Morada do Sol.
A Polícia Civil investiga a morte como possível latrocínio (roubo com resultado morte). A vítima apresentava diversas perfurações por faca nas regiões da costela, abdômen e pescoço. O veículo de Moisés foi localizado, posteriormente, na estrada do Quixadá. Não havia sinais de arrombamento no imóvel.
Dois homens são investigados pelo assassinato de Alencastro: Antônio de Sousa Morais, que foi preso na manhã de quinta-feira, 25; e Nataniel Oliveira de Lima, que foi detido no início da noite do mesmo dia. No último dia 26, ambos tiveram as prisões mantidas após audiência de custódia.









