A brutalidade do assassinato do ativista cultural, jornalista e servidor público Moisés Alencastro levou a Polícia Civil a avaliar que o crime pode ter motivação passional, e não patrimonial. A análise foi apresentada pelo delegado Alcino Júnior, responsável pela investigação, durante coletiva à imprensa, nesta quarta-feira, 24, na Divisão Especializada em Investigação Criminal (Deic).
Segundo o delegado, a dinâmica do crime, a quantidade de golpes e a forma como a violência foi empregada reforçam essa linha de apuração, embora a conclusão definitiva dependa da finalização dos laudos periciais.
“O homicídio, pra gente, está muito bem delineado, até pela quantidade de estocadas que foi feita e a maneira que aconteceu. Esse aspecto a gente precisa aprofundar. Eu não vou descartar, mas me parece uma questão mais passional do que algo direcionado”, afirmou.
De acordo com a Polícia Civil, apesar de haver subtração de bens e tentativa de uso de cartões bancários da vítima após o crime, isso não significa que o homicídio tenha ocorrido com o objetivo de roubo.
“A gente, às vezes, pode ter a falsa impressão de que, pelo fato de ter subtração de bens, necessariamente seria um latrocínio, mas essa verdade não é uma verdade absoluta”, explicou o delegado.
Homicídio seguido de furto
A investigação trabalha com a hipótese técnica de concurso material de crimes, ou seja, um homicídio seguido de furto. Para a polícia, os elementos levantados até o momento indicam que a violência ocorreu antes da retirada dos bens.
“Provavelmente aconteceu um desentendimento que levou ao óbito da vítima. E aí, em seguida, foi observada a oportunidade de subtrair bens”, disse Alcino Júnior.
O delegado reforçou que não há sinais de arrombamento no apartamento onde Moisés foi encontrado morto, o que indica que a entrada no imóvel ocorreu de forma consensual.
“Pelas circunstâncias de não arrombamento no domicílio, ali no apartamento, não ter sinais de que houve violações, faz crer que as pessoas que estavam no apartamento entraram de forma consensual”, afirmou.
Avaliação do MPAC
Em nota divulgada nesta terça-feira, 23, o Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) levantou dúvidas sobre a versão inicial de latrocínio e apontou que o nível de violência empregado no crime não condiz com um roubo seguido de morte.
Para o MPAC, as múltiplas perfurações por arma branca em regiões vitais indicam uma agressão exacerbada, que pode estar associada a crime de ódio ou motivação pessoal, reforçando a necessidade de cautela na tipificação penal.
Para membros da instituição, esse tipo de agressão costuma estar associado a crimes motivados por intolerância e discriminação, fenômeno recorrente em assassinatos de mulheres e de pessoas LGBTQIA+.
A Polícia Civil, no entanto, ressalta que o inquérito ainda está em fase inicial e que a motivação será definida com base no conjunto probatório.
“A gente está com menos de 48 horas da notificação. Não me parece que tenham matado para roubar”, afirmou o delegado.
Investigação continua
Moisés Alencastro foi encontrado morto dentro do apartamento onde morava, no bairro Morada do Sol, em Rio Branco. O principal suspeito do crime, Antônio de Souza Moraes, de 22 anos, teve a prisão preventiva decretada e é considerado foragido.
A Polícia Civil aguarda a conclusão do laudo cadavérico, que deve indicar a quantidade exata de golpes e contribuir para o esclarecimento da dinâmica e da motivação do crime.








