A morte do colunista social, ativista cultural e servidor público Moisés Alencastro segue cercada de questionamentos e investigações em andamento no Acre. Encontrado morto dentro do apartamento onde morava, em Rio Branco, na noite de segunda-feira, 22, o caso avançou rapidamente nos primeiros dias, mas ainda depende de laudos periciais e da conclusão de diligências para o esclarecimento completo das circunstâncias e da motivação do crime.
Em coletiva à imprensa nesta quarta-feira, 24, a Polícia Civil apresentou os principais pontos já apurados e detalhou as linhas de investigação que estão sendo seguidas. Segundo os investigadores, há um suspeito identificado, com prisão preventiva decretada, além de indícios de que uma segunda pessoa possa ter participado do crime. A polícia também passou a afastar, neste momento, a hipótese de latrocínio.
Como o crime foi descoberto
A Polícia Civil foi oficialmente notificada na noite de segunda-feira sobre o desaparecimento de Moisés Alencastro. Antes disso, as autoridades já tinham a informação de que o veículo da vítima havia sido encontrado abandonado na estrada do Quixadá, o que levou equipes ao local para recolhimento e acionamento da perícia.
Ainda naquela noite, os investigadores se dirigiram ao apartamento da vítima, no bairro Morada do Sol, onde constataram a morte de Moisés. O corpo apresentava sinais de violência provocados por arma branca, e o imóvel foi isolado para os trabalhos periciais. Não foram identificados sinais de arrombamento.
O que a polícia já apurou
De acordo com o delegado Alcino Júnior, responsável pela investigação, diversos indícios foram reunidos nas primeiras diligências e embasaram o pedido de prisão preventiva do principal suspeito.
Entre os elementos já identificados estão a subtração de objetos pessoais da vítima, como celular e outros pertences, além do uso indevido de cartões bancários após o crime. Segundo a polícia, houve tentativa de utilização dos cartões em um comércio, mas a transação foi recusada. Imagens relacionadas ao episódio foram coletadas e incorporadas ao inquérito.
A investigação também localizou objetos pertencentes a Moisés em um endereço ligado ao suspeito, além de relatos de que ele teria sido visto com roupas sujas de sangue. As peças foram apreendidas e estão sendo submetidas a exames periciais para análise de vestígios biológicos.
Prisão preventiva e suspeito foragido
Com base nos indícios reunidos, a Polícia Civil representou pela prisão preventiva do principal suspeito, Antônio de Souza Moraes, de 22 anos. O mandado foi expedido pela Vara de Plantão do Poder Judiciário durante a madrugada seguinte ao crime.

Desde então, o suspeito é considerado foragido. As buscas seguem tanto na capital quanto em possíveis rotas de fuga para o interior do estado, como as regiões de Feijó e Tarauacá.
Crime não teria sido cometido para roubo
Apesar da subtração de bens após a morte, a Polícia Civil avalia que, até o momento, os elementos do caso não indicam que Moisés tenha sido morto com a finalidade principal de roubo. A linha adotada é a de homicídio seguido de furto, tecnicamente classificado como concurso material de crimes.
Para os investigadores, o fato de não haver sinais de arrombamento reforça a hipótese de que a entrada no apartamento ocorreu de forma consensual, possivelmente por pessoas conhecidas da vítima.
Brutalidade e hipótese de crime passional
Outro ponto destacado na coletiva foi a violência empregada no crime. A quantidade de golpes e a forma como foram desferidos levaram a Polícia Civil a considerar a possibilidade de motivação passional.
Segundo o delegado, a dinâmica do homicídio sugere que um desentendimento ocorrido dentro do apartamento pode ter levado à morte da vítima, com a subtração de bens acontecendo posteriormente.
Possível participação de uma segunda pessoa
A investigação também trabalha com a hipótese de que uma segunda pessoa tenha participado do crime. Há indícios de que mais de uma pessoa esteve no apartamento de Moisés no momento dos fatos, além da própria vítima.
A identificação desse possível segundo envolvido ainda está em andamento e depende do aprofundamento das diligências e da análise do conjunto probatório.
O que ainda falta esclarecer
Apesar dos avanços iniciais, a Polícia Civil ressalta que o caso ainda não está completamente esclarecido. Entre os principais pontos pendentes estão:
- a conclusão do laudo cadavérico, que deverá confirmar oficialmente o número exato de golpes e ajudar a reconstruir a dinâmica do crime;
- a identificação e eventual responsabilização de uma segunda pessoa envolvida;
- a definição técnica da motivação do homicídio, a partir da consolidação das provas;
- a localização e prisão do principal suspeito, que segue foragido.
Repercussão e pedidos por justiça
A morte de Moisés Alencastro provocou forte repercussão no Acre. O colunista era servidor do Ministério Público do Estado do Acre há mais de 19 anos e atuava no Centro de Atendimento à Vítima (CAV).
No sepultamento, realizado na quarta-feira, 24, familiares e amigos se vestiram de branco, seguraram balões e entoaram cânticos em homenagem à vítima, em um gesto coletivo de despedida marcado por pedidos de justiça e de respostas para o crime.

Informações que possam contribuir para o esclarecimento do caso podem ser repassadas às autoridades de forma anônima. O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) disponibilizou o canal Investigador Cidadão, coordenado pelo Gaeco, pelo WhatsApp (68) 99993-2414. Denúncias também podem ser feitas diretamente à Polícia Civil, pelo telefone 197.