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‘Não tem nada certo com a Mailza, a gente precisa ter calma’, diz secretário-geral do MDB, Aldemir Lopes, sobre eleições 2026

'Não tem nada certo com a Mailza, a gente precisa ter calma', diz secretário-geral do MDB, Aldemir Lopes, sobre eleições 2026

Foto: Reprodução

O MDB do Acre está no centro das articulações para a disputa pelo governo em 2026. Cortejado pelos dois principais pré-candidatos, Mailza Assis (Progressistas) e Alan Rick (Republicanos), o partido se vê diante de uma escolha capaz não só de redesenhar o tabuleiro político do estado, mas de definir seu próprio futuro – o que explica a hesitação que levou a legenda a empurrar para o ano que vem o anúncio oficial sobre o apoio.

Aldemir Lopes, secretário-geral do MDB, ex-prefeito de Brasiléia e uma das figuras mais importantes do partido no estado, admite que a agremiação vive uma encruzilhada: há resistências históricas ao PP, afinidades pontuais com Alan Rick e divergências internas que vão de posicionamentos ideológicos a cálculos eleitorais.

Em entrevista exclusiva À GAZETA, ele revela que o partido tenta evitar um passo em falso. Por isso, os emedebistas seguem dialogando internamente, observando a conjuntura e atrasando ao máximo a decisão para quando o cenário local estiver mais consolidado. Na conversa, ocorrida na sede da legenda, ele detalha os bastidores, as pressões, os temores e as peças que ainda precisam se mover antes de o martelo ser batido.

'Não tem nada certo com a Mailza, a gente precisa ter calma', diz secretário-geral do MDB, Aldemir Lopes, sobre eleições 2026
Sede do MDB em Rio Branco – Foto: Leandro Chaves

Confira:

A GAZETA – Havia sido divulgado que a decisão sobre o apoio do MDB ficaria para o dia 15 de dezembro, mas vocês resolveram deixar para o ano que vem. O que aconteceu?

ALDEMIR LOPES – “Há algumas questões que precisam ser resolvidas. Alguns cenários. Então a gente resolveu não se apressar muito. Tem vários pontos, inclusive nacionais. Nosso presidente Vagner Sales ainda vai ter uma conversa com o presidente nacional Baleia Rossi. Tem também essa questão do Gladson, o cenário desse processo dele. E também porque nós ainda temos que conversar internamente. O presidente está construindo uma comissão para discutir detalhes de uma possível aliança com um ou com outro. Um fórum grande”.

“Porque as visitas que foram feitas aqui elas foram, digamos, muito supérfluas. Ninguém trata de determinados detalhes. E nós também ainda temos que conversar com o nosso pessoal do interior. E como tá apertado, dia 15 já está aí na porta, aí vem Natal, Ano Novo… Então a gente preferiu aguardar um pouco mais”.

O partido trabalha, realmente, com a indicação da Jéssica Salles para fazer essa composição com um dos dois pré-candidatos?

“Bom, o interesse do partido é fazer parte de uma chapa majoritária. E chapa majoritária leia-se Senado e vice, já que nós não temos candidato a governador. Esse é o nosso desejo. E também, prioritariamente, formar uma chapa de candidatos a deputado federal, porque isso é importante para o partido, já que nós perdemos essa representação nacional nas eleições passadas. São pontos que têm que estar na pauta para a gente discutir”.

'Não tem nada certo com a Mailza, a gente precisa ter calma', diz secretário-geral do MDB, Aldemir Lopes, sobre eleições 2026
Família Sales – Foto: Leandro Chaves

O MDB tem sido bastante cortejado pelos dois principais pré-candidatos. O que o partido teria a oferecer a essas duas candidaturas?

“O MDB, nas eleições passadas, tirou 111 mil votos, praticamente em quatro municípios: Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Brasiléia. Nós disputamos também em Capixaba, Epitaciolândia e Quinari, mas os nossos candidatos não foram bem votados lá. Mas, nesses quatro municípios, nós tiramos voto à beça. Além disso, nós credenciamos quadros como o Marcus Alexandre, a própria Jéssica Sales, a Leila Galvão, a Sara Frank, o Chicão e, agora, o Leonardo Melo, que veio para cá e pretende também ser candidato a deputado federal”.

“Então, a gente tem quadros ainda bons e com densidade eleitoral, sobretudo nos dois maiores municípios do Acre. Por isso, talvez, o MDB seja um pouco cortejado. Porque pode ser que o MDB seja a diferença que falte para qualquer uma das duas forças políticas [que nos corteja] ganhar as eleições”.

Isso demonstra, então, um certo prestígio, um reconhecimento da história do MDB no Acre?

“Pois é, o MDB tem realmente um legado muito grande. E essa é uma das nossas preocupações como dirigentes do partido. Onde é melhor para ancorar esse legado? Por um lado, nós fomos adversários do PP, e, agora, diante de uma possível aliança com eles, nós temos que analisar bastante isso. Já uma aliança com o Alan, digamos, ela é menos traumática. Embora o Alan não tenha ajudado o MDB nas eleições municipais passadas, ele se tornou o adversário da gestão que está aí. Então essa é uma questão que nós também estamos analisando bastante, porque a gente não pode decepcionar esse eleitor que deu o voto ao MDB”.

“Somos um partido que tem tradição e história, que tem diretórios em todos os municípios do Acre. Então, mesmo sem representação nacional, o MDB é um grande partido do Acre. O PT passou 20 anos no poder. Saiu do poder e, em tese, se acabou. O MDB está há mais de 20 anos fora do poder e sobrevive. Está aí, disputando eleições, como um partido de ponta e de história. Tudo isso a gente tem que avaliar na hora de fazer alianças”.

'Não tem nada certo com a Mailza, a gente precisa ter calma', diz secretário-geral do MDB, Aldemir Lopes, sobre eleições 2026
Aldemir Lopes (à direita) – Foto: Reprodução

O senhor, particularmente, prefere caminhar com a Mailza ou Alan Rick?

“Nesse momento, nós, dirigentes, não podemos colocar nossa posição pessoal. Nós temos que pensar no partido como um todo. O nosso presidente tem sido muito democrático, tem aberto o partido para fazer diálogos. A gente conversa constantemente com lideranças de outras forças políticas. E já também conversamos de forma institucional com Alan Rick e Mailza. Nós só não conversamos com o PT porque nós não temos essa intenção. E nem com o Bocalom, que também fala em ser candidato. A nossa preferência é Mailza ou Alan Rick”.

Então, existem tendências dentro do partido que preferem um ou preferem outro? E isso está sendo azeitado para ver com quem, no final das contas, vai chegar a um entendimento?

“Existe, sim. Mas isso faz parte da democracia. É claro que tem gente que defende que o MDB marche com a Mailza e tem gente que defende que vá com o Alan. É por isso que a gente tem que ter muita cautela para analisar bem e não dar um passo errado. Daí a necessidade de conversar com as lideranças dos municípios, e que, infelizmente, nós ainda não fizemos, porque a gente não tem nada ainda de concreto. Nessas discussões [com Mailza e Alan] não ficou nada de concreto. A gente discute a possível participação em uma chapa majoritária, mas isso também depende muito do cenário. E a gente entende essas forças políticas”.

“Por exemplo: o Alan é muito forte na capital. Então ele pretende e prefere, evidentemente, se fortalecer nos municípios. Por outro lado, as pesquisas mostram que a Mailza, nos municípios, é um pouco mais forte e na capital ela deixa a desejar. Então, nós temos que ter muito cuidado. A maioria, o bom senso e o pragmatismo é o que vai resolver para onde nós vamos, porque nós temos que ir para onde for melhor para o MDB”.

'Não tem nada certo com a Mailza, a gente precisa ter calma', diz secretário-geral do MDB, Aldemir Lopes, sobre eleições 2026
Mailza Assis em diálogo com o presidente do MDB, Vagner Sales – Foto: Cedida

E o MDB, pelo visto, consegue ajudar os dois pré-candidatos nessas duas deficiências. A do Alan Rick no interior e a da Mailza na capital. Concorda?

“É uma sinuca de bico, eu diria, porque o Alan precisa muito de apoio no interior, sobretudo no Juruá, e, como eu disse, a Mailza precisa de uma força aqui na capital. E a gente tem mesmo as duas peças que encaixam aí, que são as nossas principais lideranças. A Jéssica, no Juruá, e o Marcus Alexandre, na capital. Eles são as cerejas do bolo, digamos assim, dessas duas forças políticas com as quais nós estamos dialogando”.

Então é verdade que o MDB trabalha com a possibilidade de o Marcus Alexandre ser o indicado a uma composição como vice?

“O MDB trabalha com todos os cenários. Mas precisamos entender que a gente tem que levar em consideração a questão pessoal de cada um. O Marcus tem dito que não pretende ser candidato a vice-governador. A Jéssica ainda se balança, está para definir. Então a gente tem que considerar isso, ninguém pode obrigar ninguém a ser o que não quer. Tem muito tempo ainda para a gente tomar essa decisão. Até porque a gente sabe que até a janela partidária, muita coisa vai mudar. Hoje, de repente, tem partidos aí que têm muitos candidatos, mas, na janela, certamente, todo mundo vai procurar o seu lugar e a gente tem que aguardar isso”.

'Não tem nada certo com a Mailza, a gente precisa ter calma', diz secretário-geral do MDB, Aldemir Lopes, sobre eleições 2026
Marcus Alexandre – Foto: Leandro Chaves

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, vem despontando como um quadro importante no governo Lula e vem sendo ventilada como possível vice numa eventual candidatura Lula 4. Se isso acontecesse, como o MDB do Acre se comportaria?

“Bom, eu acho que isso é meio difícil. O MDB sempre foi, nacionalmente, um partido regionalista. Então, hoje, você vê, por exemplo, que o Sudeste é mais ou menos Lula. Já o Sul não quer saber muito de Lula. Mas o Nordeste, sobretudo, é mais Lula. Então, eu acho difícil essa composição de o MDB ser vice, porque ele é dividido. No Acre, o MDB nunca apoiou o PT. Mesmo quando o Michel Temer foi candidato a vice-presidente na chapa da Dilma Rousseff, o MDB não foi para o palanque. Porque também é importante dizer que o MDB é muito democrático. O que acontece: a Executiva Nacional libera os estados para seguir o caminho que for melhor. A Simone não vai ter, no meu ponto de vista, o apoio do partido como um todo para ser vice. E se isso acontecer, mesmo assim, o MDB do Acre dificilmente estará no palanque do Lula. Pode ter certeza disso”.

'Não tem nada certo com a Mailza, a gente precisa ter calma', diz secretário-geral do MDB, Aldemir Lopes, sobre eleições 2026
Aldemir Lopes e Alan Rick – Foto: Reprodução

Circulam nos bastidores a informação de que o Vagner já teria se decidido pela Mailza. E que essa última reunião com o Alan Rick teria sido apenas protocolar, faltando apenas ajustar um ponto ou outro para ocorrer esse anúncio oficial. Isso é verdade?

“Não tem nada certo com a Mailza. Isso é coisa da mídia, de que o Vagner acertou com ela. Não existe isso. Não é fácil não, sabia? O MDB está numa situação, eu diria, muito complicada para tomar essa decisão. Então a gente precisa ter calma. A situação é muito complicada. Mas o nosso presidente nunca chegou aqui para dizer que acertou algo. Eu nem sei mesmo se a tendência dele é ir com a Mailza. Ele nunca disse isso para nós”.

Outra informação que nos chegou é de que um dos entraves para o Vagner ainda não ter fechado com a Mailza seria o senhor, que preferiria o Alan Rick. Isso é boato também?

“Quem sou eu para ser entrave? Não existe nada disso. Eu não estou aqui sendo o cabo eleitoral do Alan Rick. Na realidade, a gente tem a liberdade, aqui dentro, de divergir. Até porque nós estamos em busca daquilo que a gente entende que pode ser o melhor para o nosso partido. E é importante que haja essa divergência. Porque a possibilidade de acertar é maior. Se todo mundo achar que todos têm que ir para um lado, é complicado. Mas quem sou eu. Eu vou para onde [o partido] for. Eu trabalho para onde for melhor para o MDB. Se for com a Mailza, eu até acho, e tenho discutido isso aqui, em termos de condição da montagem de uma chapa de deputado federal, eu acho que a Mailza no governo teria mais chances de nos proporcionar isso, porque está no poder. Então ela pode canalizar nomes para compor a nossa chapa. Agora, eu costumo dizer o seguinte: ninguém pode oferecer o que não tem. Ou então oferecer aquilo que não é conveniente para nós. Porque nós também não vamos querer que qualquer um venha para cá. A gente também quer saber quem são as pessoas que possam vir. E esse é um dos motivos também que faz a gente ter um pouco de calma e ir devagar”.

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