O presidente da Capes, Dr. Jorge Almeida Guimarães, em um evento na Academia Brasileira de Ciências, afirmou que a educação é o maior desafio para a ciência, tecnologia e inovação no século 21.
No Brasil esse desafio é ainda maior em função de aspectos sociais, econômicos e históricos. Uma prova disso são os resultados presentes no Anuário da Competitividade Mundial (World Competitiveness Yearbook). Essa publicação revela o quão bem os países administram seus recursos econômicos e humanos para elevar a sua prosperidade.
Dos 60 países avaliados, o Brasil despencou da 38º em 2010 para a 54º posição em 2014. Esse fato aponta que frente a um mundo globalizado o país está se tornando menos competitivo.
Isso é ainda mais preocupante quando se considera o contexto histórico brasileiro e o mundo globalizado no qual vivemos, cujo modelo econômico preconiza que é mais barato destruir a Terra agora do que usar os seus recursos de forma sustentável para que as futuras gerações possam ter acesso a eles.
Dessa forma, a mudança de paradigma é necessária, ou seja, é preciso mudar o eixo da economia para um sistema que busque, nas palavras de Paul Hawken, a cura do futuro e não o seu roubo.
A educação é a chave para que essa mudança ocorra. Entretanto, no Brasil os modelos de ensino tradicionais em áreas chaves para o desenvolvimento sustentável de um país, tais como a engenharia, não estão sendo capazes de suprir as necessidades da sociedade por profissionais criativos e inovadores. Isso porque a forma de ensino comumente usada nas universidades brasileiras tem o foco centrado no professor. Em geral, as aulas se desenrolam em torno de um monólogo, ou seja, um espetáculo teatral dirigido e estrelado pelo professor que tem como plateia estudantes passivos.
Algumas vezes o professor tem sucesso e consegue prender a atenção dos estudantes, mas na maioria das vezes o que se vê é uma plateia sonolenta e desinteressada.
Essa situação não traz prejuízos apenas aos alunos. Os professores se sentem desvalorizados como profissionais, com o tempo perdem a motivação em buscar novos conhecimentos e, por fim, acabam se acomodando.
Uma alternativa para mudar essa situação seria a implementação da aprendizagem ativa (do inglês, active learning) nas universidades brasileiras. A aprendizagem ativa visa quebrar a passividade do aluno em sala de aula pela construção de um conhecimento coletivo dos alunos com o professor, evidenciando e desenvolvendo suas habilidades e competências. Dessa forma, o foco do aprendizado deixa de ser o professor e passa a ser o aluno.
Existem diferentes formas de usar a aprendizagem ativa em sala de aula. Técnicas simples podem ser adotadas, como ao longo de uma hora de aula fazer pausas de 2-3 minutos para que em duplas os alunos possam esclarecer dúvidas que surgiram até o momento. Outras opções seriam promover uma discussão em grupo a respeito de um capítulo de livro ou um artigo científico previamente lido pelos estudantes ou a apresentação de um problema real aos estudantes para que busquem uma solução. Nos meios impressos e digital existe uma variedade de publicações dedicadas ao tema, com exemplos que podem ser usados em sala de aula para diferentes conteúdos (teórico, quantitativo, prático).
Entretanto, se a aprendizagem ativa é tão promissora, por que ela não é amplamente adotada no Brasil? Uma possibilidade seria a falta de conhecimento desse método. Na formação de professores para o magistério superior em áreas como as engenharias, por exemplo, não existem disciplinas que preparem o profissional para o ensino. Considerando que no Brasil a maioria dos titulados em programas de doutorado desenvolve carreira acadêmica, seria importante a inserção de disciplinas ligadas ao ensino nos currículos de pós-graduação.
No entanto, a aprendizagem ativa não é uma prática totalmente incomum nas universidades brasileiras. Por exemplo, na Universidade Federal de Viçosa o ensino de ecologia tem sido conduzido de acordo com as diretrizes da aprendizagem ativa ao longo de 15 anos. Essa experiência foi reportada em 2011 no livro intitulado “Práticas em ecologia: incentivando a aprendizagem ativa”. A Universidade Federal do Acre (Ufac) também faz uso de ferramentas de aprendizagem ativa nos cursos de graduação da instituição. Em agosto de 2014, vários co-autores deste artigo fizeram um curso promovido pela Universidade da Florida sobre aprendizagem ativa.
Os conhecimentos adquiridos vêm sendo aplicados na prática. Em uma disciplina da pós-graduação em Ciências de Florestas Tropicais do INPA, em Manaus, os alunos avaliaram a disciplina como uma das melhores do seu programa, citando como um dos motivos as técnicas de aprendizagem ativa aplicadas. A mesma opinião discente foi encontrada quando essas técnicas foram usadas em duas disciplinas do curso de Licenciatura em Química e em duas disciplinas do curso de Engenharia Florestal da Ufac. Em todas elas os estudantes apontaram o diferencial na aprendizagem devido ao maior estímulo dentro de sala de aula, o que refletiu na maior atenção e interesse dos alunos.
Iniciativas como as mencionadas devem ser estimuladas, pois esse dinamismo dentro de sala de aula é condizente com o mundo atual, o qual está em constante mudança. O estudante deve ser visto como um profissional em formação que deve estar apto para pensar e buscar soluções para problemas inesperados. Um exemplo é a questão das mudanças ambientais globais. A literatura aponta as possíveis consequências do aquecimento global, porém será que os estudantes de hoje estão preparados para lidar com elas? Será que os estudantes são ensinados a tomar decisões de forma rápida e efetiva? A sobrevivência de milhões de pessoas poderá depender disso.
Nesse sentido, a aprendizagem ativa vem como alternativa para propiciar a aquisição do conhecimento e o desenvolvimento de habilidades essenciais em um mundo em mudanças. É claro que esta não é única solução para resolver todos os problemas da educação, mas com certeza é uma das ferramentas da educação para o futuro que queremos.
Sabina Cerruto Ribeiro*, professora do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre. Atua nas áreas de manejo florestal, dendrometria, quantificação de biomassa e carbono em florestas e políticas relacionadas às mudanças climáticas.
Anelise Maria Regiani*, Professora do curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre. Atua nas áreas de ensino de química, educação científica para a inclusão social, conhecimentos tradicionais e química de novos materiais.
Miguel Gustavo Xavier*. Professor do curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre, atua nas áreas de ensino de ciências, educação indígena, gestão de risco ambiental e nanociência.
Fernando Augusto Schmidt*, Professor de Ecologia e docente permanente do Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais na Universidade Federal do Acre. Atua na área de Ecologia de Comunidades, utilizando as formigas como modelo de estudo.
Foster Brown*, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Cientista do Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consorcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre (CEGdRA).