A casa mais visitada do Acre fica na Rua Batista de Moraes, 487, em Xapuri, cidade de 14 mil habitantes a 180 quilômetros da Capital, Rio Branco. Pequena, feita de madeira, foi nela que o sindicalista e ambientalista Chico Mendes foi morto a tiros por dois fazendeiros quando saía para tomar banho. Vinte anos depois do assassinato, a casa é mantida intacta, como estava no dia da morte, inclusive com a mancha do sangue de Chico Mendes na parede. Nela funciona uma espécie de museu, com guia e tudo, sustentado pelo Instituto Chico Mendes. Criado pelos herdeiros para manter viva a memória de Chico Mendes, o instituto enfrenta acusações sérias na Justiça. O Ministério Público do Acre denunciou seus administradores por desviar R$ 685 mil em recursos públicos.
Chico Mendes começou a vida como seringueiro, passou a líder sindical e se tornou um ativista ambiental. Em 2005, a filha de Chico Mendes, Elenira, fundou o Instituto Chico Mendes com o objetivo de administrar a imagem do pai e associar seu nome a cursos de educação ambiental. Três convênios foram firmados com o governo acreano, pelos quais o instituto passou a receber verbas públicas para ministrar os cursos e as palestras sobre educação ambiental.
Segundo o Ministério Público, parte do dinheiro recebido do governo não foi gasto de acordo com o firmado no convênio. Os dirigentes do instituto teriam usado notas fiscais frias para esconder os gastos indevidos.
Genro de Chico Mendes confessa que adulterou notas fiscais – O acusado pelo Ministério Público de ser o autor da fraude nos recibos é Davi Cunha, marido de Elenira, a filha de Chico Mendes. Ele era o responsável pela prestação de contas do instituto. Cunha confessa o crime de falsificação. Ele nega, porém, que a fraude tenha sido feita para desviar dinheiro em benefício próprio. “Eu sei que errei ao alterar os recibos e vou ter de pagar pelo que fiz”, afirma. “Mas não aceito dizerem que roubamos o dinheiro do governo”. Cunha diz que cometeu a falsificação para driblar a burocracia dos convênios firmados com o governo acreano. “O convênio não permitia o pagamento dos encargos trabalhistas dos funcionários”, afirma Cunha. “Por isso, fiz as alterações nos recibos: foi tudo para pagar os direitos trabalhistas dos funcionários”.
No processo, Cunha confessa também que usava o dinheiro público para pagar o salário de sua mulher, Elenira. De acordo com a investigação, a filha de Chico Mendes recebia R$ 4 mil mensais, um pagamento irregular segundo o próprio estatuto do instituto. Para maquiar o pagamento do salário de Elenira, um irmão de Davi assinaria os recibos de pagamento. Para ÉPOCA, Elenira negou que recebia salário do instituto. (Juliana Arini de Xapuri (AC)/ Revista Época)