O Acre é um lugar repleto de terras. Porém, quando se trata de áreas urbanas na sua Capital, a riqueza de espaço torna-se praticamente inexistente. É o que comprova a quantidade de famílias carentes que de vez em quando invadem terrenos da cidade na busca de um sonho justo e generalizado: uma terra para viver. Foi com este sonho que 85 famílias (330 adultos com 100 crianças no colo) acharam um ‘bom’ loteamento de terras há pouco mais de 5 meses e decidiram construir suas casas no local, uma área de 10m x 22m, si-tuada em uma das estradas de acesso ao Amapá, próxima ao Taquari. Tudo estaria bem se não fosse por um detalhe: o lugar não pertence a eles e sim a uma imobiliária acreana, que detém os direitos legais sobre a área desde 97 e que passou anos para regularizar por completo a situação do loteamento.
A ‘disputa’ entre os legítimos donos e os que habitam o local seguiu durante meses. A imobi-liária entrou com uma liminar para reintegração de posse no Ministério Público, mas não obteve sucesso. Sabendo de seus direitos, a empresa não desistiu e levou a decisão para o Tribunal de Justiça. Foi daí que a história atingiu seu clímax, pois o TJ determinou ganho de causa à empresa, solicitando a reintegração de posse. Agora, enquanto a imobiliária aguarda a ação da prefeitura e do governo para fazer valer a decisão do Tribunal, 85 famílias protestam contra o despejo de ‘seus’ lares.
Segundo Pedro Abude, presidente da ocupação, os habitantes do local estão bastante aflitos com a decisão judicial. Ele conta que os moradores, a maioria pessoas advindas de bairros afetados pela alagação (Taquiri, 6 de Agosto, Cadeia Velha, etc), não são ‘invasores’ de má índole e sim gente direita, que só quer um lugar digno para morar. “Estamos felizes aqui e queremos ficar. Muitos de nós não têm mais nada além destas casas, que nem estão totalmente prontas e já querem nos expulsar. Isso não pode! Para debaixo da ponte é que não vamos. Por isso, o governo e a prefeitura deviam vir aqui ver nossa situação e não só querer nos expulsar, pois não merecemos isso”, disse.
Outro morador, Sebastião Ferreira, ressaltou que todo dia mais famílias que não têm aonde morar chegam ao local. “Nós somos todas pessoas carentes, que viemos para cá, fizemos amizades com o pessoal e com os dos lotes vizinhos. Agora, estamos vendo um sonho nosso de ter onde morar sendo destruído”. Já a moradora Anastácia Silva de Oliveira, de 33 anos, mãe de 6 filhos, contou que já saiu de várias casas, em vários lugares, por conta da subida do rio. “Eu e minha família já perdemos muita coisa. Não podemos ser despejados agora desta forma. Até o Bolsa Família dos meus filhos eu já perdi, já que não podemos sair daqui com medo de sermos expulsos. E muitos outros estão perdendo o emprego por conta disso”, declarou.
Caso sejam despejados sem um bom local para morar, os ocupantes já avisaram que não sairão e que ainda interditarão a estrada de barro em frente ao terreno de lotes com o que restar de suas casas.
De acordo com o representante da Imobiliária em questão, a empresa já vem negociando com a prefeitura e aguarda para que a reintegração de posse lhe seja feita do modo mais harmônico possível. “Somos uma firma que já está há décadas no mercado acreano trabalhando sempre de forma pacífica e idônea. Por isso, esperamos que essa situação seja resolvida de forma justa e sensata. Apesar do jeito totalmente errado no qual eles fizeram esta ocupação, nós compreendemos a situação deles. Estamos abertos a negociar com as autoridades competentes e podemos garantir que eles não sairão da área despejados; sem ter onde morar. Eu tenho certeza que a prefeitura não usará de força desnecessária e nem permitirá que isso aconteça”, assegurou ele.