O Acre está prestes a se tornar pioneiro na produção de uma bola totalmente ecológica, desde o seu couro até a câmara de ar. Para isso, vem desenvolvendo um laminado vegetal que é extraído do látex nativo do Estado, beneficiado em São Paulo e retornando para a fabricação da bola, mais precisamente no Presídio Dr. Francisco de Oliveira Conde, inserido no projeto Pintando a Liberdade.
Para desenvolver o projeto, o Governo do Estado fechou parceria com a fábrica Ecológico Indústria e Comércio de Produtos de Látex Ltda, de Magda/SP. A intenção é fabricar o laminado vegetal para a confecção de 80 a 100 mil bolas anualmente, gerando centenas de empregos diretos, além de outros indiretos, inclusive com a possibilidade da instalação da fábrica no Acre, o que aumentaria consideravelmente o mercado para empregos.
Além dos reeducandos do presídio, a intenção é que o projeto seja levado também para o município de Xapuri, dentro de outro projeto social, o Pintando a Cidadania, gerando 320 empregos diretos apenas na confecção. “Com o fluxo do látex no Estado, tanto na bola ecológica, quanto na fábrica de preservativos, estimamos em mais de 700 famílias trabalhando com a extração”, avalia o secretário de Esportes, Turismo e Lazer, o advogado Cassiano Marques.
O secretário lembra que a bola ecológica, além de gerar emprego, a necessidade de extração do látex, irá obrigar a preservação da floresta. “Conseguimos agregar sustentabilidade à nossa floresta amazônica, quando vinculamos ao contrato, a utilização do látex das reservas do Seringal Chico Mendes, que já estão sendo organizadas em sistema de cooperativismo”, explica.
Sócio-proprietário da Ecológico Indústria e Comércio, Jaime Rodrigues esteve recentemente em Rio Branco para apresentar as melhorias do laminado, inclusive com as bolas já desenvolvidas – para handebol, voleibol, futsal e futebol – e apresentar o projeto para a industrialização também de uma bola de basquetebol. “Vamos utilizar a mamona para mais brilhosa a bola e a sua textura está sendo trabalhada para que a bola de futebol possa ser utilizada em competições oficiais”, disse. O empresário vem mantendo contato com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para, futuramente, quando a bola atender as exigências, poder ser inserida, “quem sabe até na Copa do Mundo no Brasil, em 2014”.
A bola ecológica, no Acre, é um conceito que vem sendo trabalhado há 12 anos, porém, finalmente, ela poderá ser considerada 100% “branca”, ou seja, todo o material é reciclado, sem a utilização de nenhum item de petróleo que, quando retorna ao meio ambiente, acaba degradando o ecossistema. “Nosso produto não existe qualquer agente poluidor, todos os produtos utilizados na sua fabricação são renováveis, portanto isento totalmente de fósseis”, garante Jaime.
Fábrica de bola ecológica em Xapuri
Não é apenas o projeto Pintando a Liberdade, com os reeducandos, que possibilita uma melhoria na qualidade de vida. O projeto Pintando a Cidadania, parceria entre o Governo do Acre e o Ministério dos Esportes, está trabalhando na implantação da Fábrica de Bolas Ecológicas no município de Xapuri.
Segundo o secretário de Esportes, Cassiano Marques, a instalação da fábrica irá gerar 320 empregos diretos. “Será em sistema de cooperativas, onde teremos parcelas menores empregados dando expedientes no galpão de produção e uma parcela maior de pessoas, credenciadas, vão estar costurando bolas nas suas residências”, disse.
As pessoas que serão beneficiadas são as que estão em situação de risco social, sendo que aqueles que saíram dos presídios e estão em dificuldades de conseguir empregos, também estarão inseridas no projeto.
Cassiano lembra que o vínculo contratual do látex no seringal nativo também estará gerando empregos nas florestas. “Vamos ter que ampliar, preservando as florestas, além de estar dando uma solução econômica para as pessoas que vivem nelas”, avalia.
Encontrar soluções para o planeta
Imaginar que o produto chega ao mercado com o mesmo valor dos produtos não-biodegradáveis é um sonho ainda a ser alcançado. Os produtos com laminado vegetal custam em torno de 10 a 15% mais caros.
O empresário Jaime garante que esse valor, quando houver uma demanda maior e o incentivo dos poderes públicos, privado e da própria sociedade, será reduzido a um valor de concorrência. “O conceito das pessoas precisa ser alterado, começar a se policiar para encontrar alternativas de sobrevivência que não vá agredir ao meio ambiente”, explica.
Isso sem mencionar que na ata de fundação de sua fábrica, datada de 2006, foi especificado que o “projeto consiste na defesa ambiental, pelo fato de atender plenamente aos anseios do mercado consumidor, na busca por produtos ecológicos e principalmente renováveis”. Segundo Jaime, o cidadão não pode esperar que o consumismo possa ser suportado pelo planeta. “Por isso mesmo é preciso encontrar produtos renováveis, ou seremos fadados a pagar o preço de nossa irresponsabilidade”, afirma.
A parceria com o Governo do Acre e também com o de Rondônia foi viabilizada pelo projeto sustentável, sem agentes poluidores. “A evolução da humanidade gerou a necessidade de buscar alternativas sustentáveis em decorrência da própria mudança climática, de emissão de CO2 na atmosfera, tudo em decorrência de produtos fósseis e animais”, lamenta.
Mais opções de produtos ecológicos
A intenção deste projeto social, onde a sustentabilidade vem sendo o pilar para o avanço das pesquisas, não apenas das bolas de quadra ou de campo, serão fabricadas com os materiais reciclados. O objetivo é ampliar os produtos recicláveis, confeccionando também malas, sapatos, estofamentos, decorações, modas e até mesmo em materiais de IPI (capacete, luvas e botas).
“Em São Paulo, Paraná e no Rio Grande do Sul já existe fabricação de calçados, tênis em geral, comercializado e, inclusive, exportando. Existe possibilidade de confeccionar chuteiras, já em desenvolvimento para ser introduzida no mercado até 2010”, explica Jaime. Sobre os calçados, o empresário apresentou alguns produtos que sua fábrica vem trabalhando.
O material reciclado da própria bola ecológica será utilizada em vários novos segmentos, seja na industrialização de sapatos, sandálias ou mesmo na utilização para pisos similares ao asfalto. “Através da possível instalação no Acre da fábrica, o nosso propósito é exportar daqui pelo Peru (Pacífico), para a Europa, Estados Unidos, Ásia, com uma logística interessante”, avalia.
Fábrica – Segundo levantamento da fábrica, a instalação de uma unidade em Rio Branco para trabalhar o látex para os laminados seria em torno de R$ 5 milhões, com a possibilidade de outras, como de câmara de ar, espuma vegetal (totalmente isenta de produtos de petróleo) e calçados.
Reeducandos para a sociedade
Uma camada social normalmente excluída, os presidiários – chamados dentro do projeto de reeducandos – terão a oportunidade de, quando saírem, terem um emprego. Estimativas apontam que uma parcela dos ex-presi-diários retornam ao crime por falta de oportunidade no mercado de trabalho.
“Na primeira fase, as bolas serão costuradas no programa Pintando a Liberdade, de forma inovadora no Brasil, pois foi o primeiro Estado a propor essa solução”, explicou Cassiano Marques. “Passamos a produzir 100% das nossas bolas, para escolas, associações…”.
Atualmente a Unidade de Recuperação Social Dr. Francisco de Oliveira Conde possui três fábricas – serigrafia da fábrica de malhas, fábrica de malhas e fábrica de bolas – com aproximadamente 24 reeducandos trabalhando na confecção dos produtos, porém com a instalação da fábrica de bola ecológica esse número deve aumentar.