O governador Binho Marques embarcou ontem, 11, de São Paulo para Copenhague, Dinamarca, para participar da Conferência das Partes sobre o Clima (COP-15), promovida pelas Nações Unidas (UNFCCC, na sigla em inglês). Durante os seis dias de atividades fora do Brasil, o governador vai cumprir uma agenda de encontros com organizações públicas e privadas do mundo, além de representantes de governos locais.
Neste sábado, Binho Marques inicia agenda participando da celebração do Dia dos Povos Indígenas, no Museu Nacional da Dinamarca. O governador participa da mesa do Fórum de Governadores da Amazônia, onde lideranças da região apresentarão as suas iniciativas voltadas para manutenção da floresta clima e mecanismos de Redução por Desmatamento e Degradação Evitados (REDD).
No dia 16 de dezembro, haverá ainda uma atividade especial dentro da programação da Conferência realizada pelo Governo do Estado. A mesa redonda terá o tema “Floresta e So-ciedade: Florestania na terra de Chico Mendes”, e contará com a participação de representantes acreanos que irão falar sobre a trajetória do Acre na luta pela preservação da floresta e as políticas que hoje reafirmam o compromisso do Estado pela causa ambiental. As experiências sustentáveis com base na floresta desenvolvidas pelo Estado serão apresentadas durante a COP-15.
Também integram a comitiva do Acre o secretário de Meio Ambiente, Eufran Amaral; o assessor especial do Governo, Fábio Vaz; o pesquisador Foster Brown; além dos senadores Tião Viana e Marina Silva.
A Conferência sobre o Clima em Copenhague será o tema do programa “Dois Dedos de Prosa com o Governador” que vai ao ar nas principais rádios do Acre na próxima segunda-feira. Para Binho Marques, esse é um momento importante para o futuro do planeta. “A conferência sobre mudanças climáticas reúne presidentes de vários países. É um momento em que se pretende realizar um grande acordo, o planeta corre perigo e a humanidade levou muito tempo para perceber isso”. (Agência Acre)
Metade das emissões de gases de efeito estufa do Brasil vem da pecuária, diz estudo
Estudo elaborado por 10 cientistas brasileiros revela que as emissões de gases estufa da pecuária bovina no período entre 2003 e 2008 para os biomas Amazônia e Cerrado variam entre pelo menos 813 milhões de toneladas de CO2- equivalente em 2008 (menor valor) e pelo menos 1,090 Gigatonelada de CO2e em 2003 (maior valor). A emissão total associada à pecuá-ria da Amazônia varia entre 499 e 775 milhões de toneladas de CO2e, e do Cerrado, entre 229 e 231 milhões de toneladas de CO2e. No resto do país, as emissões do setor variam entre 84 e 87 milhões de toneladas de CO2e. Em termos gerais, os números representam praticamente a metade das emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
O estudo foi realizado sob a coordenação de Mercedes Bustamante (UnB), Carlos Nobre (INPE) e Roberto Smeraldi (Amigos da Terra – Amazônia Brasileira) e com a participação de Alexandre de Siqueira Pinto (UnB), Ana Paula Dutra de Aguiar (INPE), Jean P.H. Ometto (INPE), Karla Longo (INPE), Laerte Guimarães Ferreira (UFG), Luís Gustavo Barioni (Embrapa), Peter May (Amigos da Terra – Amazônia Brasileira)[1].
De acordo com o estudo – que será lançado na Conferência do Clima em Copenhague hoje, 12 -, a maior contribuição às emissões da pecuária se deve ao desmatamento para formação de novas pastagens na Amazônia, que atinge em média 3/4 do total do desmatamento neste bioma. No Cerrado, os pesquisadores detectaram que cerca de 56% do desmatamento no período resultaram também em implantação de novas pastagens.
Os pesquisadores analisaram as três fontes principais de emissão: desmatamento para formação de pastagem e queimadas subsequentes da vegetação derrubada; queimadas de pastagem e fermentação entérica do gado. O estudo, porém, não considera emissões de solos de pastagens degradadas, da produção da ração de grãos usada no confinamento, do transporte do gado e da carne, e das unidades industriais dos frigoríficos, o que torna os valores “conservadores”, dizem os cientistas.
As conclusões do estudo também apontam para o potencial de redução de emissões de gases estufa oferecido pela pe-cuária no Brasil. O fato de quase a metade das emissões totais brasileiras de gases de efeito estufa se concentra em um único setor constitui a mais importante oportunidade de mitigação brasileira.
“A agropecuária está no centro das mudanças ambientais globais tanto por sua contribuição para as emissões como pelo fato de que uma das formas mais significativas de como a mudança climática global afetará a economia é através de seus efeitos na agricultura”, avalia Mercedes Bustamante (UnB), coordenadora da pesquisa.
Para ela, a redução dos impactos ambientais com melhoria da provisão de serviços (positivos) e bens demandará a coordenação de políticas agrícolas e ambientais e o incentivo à geração de conhecimento e ao uso de tecnologias adequadas.
Governo e sociedade
O estudo oferece uma série de recomendações de políticas de mitigação que podem ser implementadas por gestores públicos e privados. A maioria dessas políticas oferece oportunidades para atingir benefícios sociais, econômicos e ambientais complementares e adicionais aos da mitigação da mudança climática.
Segundo ele, as opções de mitigação decorrentes do setor são significativas e “não implicam o corte na produção atual” e ainda podem ser compatíveis com um aumento moderado da produção. As fontes da mitigação incluem a redução do desmatamento, a eliminação do fogo no manejo de pastagens, recuperação de pastagens e solos degradados, a regeneração da floresta secundária, a redução da fermentação entérica, integração lavoura-pecuária, entre outros.
O estudo lembra que um grande desafio para as políticas públicas relaciona-se à redução da expectativa de impunidade nas práticas de ocupação de terras da União, bem como nos crimes e nas infrações ambientais: a falta de implementação nas políticas de comando e controle nestas áreas desfavorece investimentos em recuperação de terras degradadas, reflorestamento associado à intensificação e criação de manejo sustentável de pastagens em longo-prazo nas unidades de produção existentes. Há uma relação clara entre essa impunidade, a especulação fundiária desenfreada e a degradação das florestas, especialmente na Amazônia, destaca a pesquisa.