O funcionário da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) Manoel Nogueira dos Santos, 48, que por mais de dez anos trabalhou manuseando o DDT, morreu na última quarta-feira (2) em um hospital de São Paulo. Depois de receber tratamento ineficiente em Rio Branco, Nogueira, que há várias semanas já estava com a saúde bastante debilitada, foi enviado para a capital paulista. Segundo Aldo Moura, presidente da Comissão DDT e Luta pela Vida, a primeira assistência prestada não foi suficiente para melhorar o quadro clínico.
Nogueira teria apenas sido medicado com soro e passado boa parte do tempo em uma cadeira de rodas. A transferência dele para um leito da Fundação Hospitalar aconteceu somente após a intervenção da deputada estadual Idalina Onofre (PPS). Com a saúde cada vez mais fragilizada, as avaliações médicas mais precisas diagnosticaram a necessidade de transferi-lo para um hospital de maior porte e com equipamentos adequados. Ao chegar a São Paulo, Nogueira entrou em coma e não resistiu.
Moura lamenta a demora do tempo de autorização para a via-gem. “Caso o pedido fosse atendido mais rápido, certamente ele ainda estaria entre nós”, afirma. Procurado por A GAZETA, o secretário Osvaldo Leal (Saúde) afirma que o pedido de TFD foi feito em 26 de novembro e, dois dias depois, Nogueira foi para São Paulo em vôo comercial com acompanhamento médico.
Ele é a 57ª vítima em nove anos do DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano), inseticida usado sem discriminação durante as décadas de 1970 e 1980 no combate ao mosquito transmissor da malária. “Por ele [Ma-noel Nogueira], ser um homem de bravura, o deixavam de três a quatro meses no meio da mata”, recorda-se Aldo Moura.
A superexposição ao veneno contaminou os ex-guardas da extinta Sucam por toda a região amazônica. No Acre, estima-se que quase 500 pessoas sofram as conseqüências da contaminação. Atualmente, 18 servidores estão na chamada “fila da morte do DDT”. Além da luta contra os efeitos nocivos do inseticida, eles precisam encarar a resistência do Estado, que refuta em prestar um atendimento prioritário.
Mesmo com todas as mortes e os efeitos da contaminação, a Funasa também não reconhece a contaminação em seus funcionários. Como forte aliado, a comissão que aglutina as vítimas do DDT tem o Ministério Público Federal no Acre. A Justiça Federal determinou que tanto a Secretaria de Saúde como a Funasa ofereçam a assistência médica necessária. Mas não é o que vem acontecendo. De acordo com Aldo Moura, muitos dos exames pedidos pelos médicos especialistas não são realizados, pois o órgão federal não os custeia.
No final de julho, a União recorreu da decisão que a obrigava a prestar auxílio às vitimas do DDT.