Foi uma batalha de quase uma semana para que o DC 8 chegasse, ontem, de Pucallpa para Cruzeiro do Sul carregado de frutas, verduras e legumes. A previsão anterior era que houvesse três vôos de um Antonov trazendo cinco toneladas cada, na sexta, sábado e domingo passados. Mas um problema técnico com a aeronave peruana impediu que operação se realizasse. Posteriormente surgiram outras questões burocráticas relativas ao desembaraço de documentação que atrasaram novamente o vôo. Cada dificuldade foi sendo superada pelo esforços dos importadores para que os hortifrutigranjeiros chegassem ao Juruá antes do natal.
Numa entrevista coletiva, o presidente da Aleac, deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), ressaltou a abnegação e a paciência de funcionários da Receita Federal, Anvisa, In-fraero, Polícia Federal e Ministério da Agricultura para que a operação se tornasse um sucesso. “Tivemos que contar com a compreensão desses orgãos através de servidores públicos que fizeram esforços pessoais para que a operação pudesse ocorrer”, disse.
Maior articulador e entusiasta da integração entre Cruzeiro do Sul e Pucallpa, Edvaldo Magalhães, destacou também o papel dos comer-ciantes da região. “São empresas e empresários apostando em algo que não têm certeza que vai dar certo. Eles estão correndo riscos mas acreditando na importância do processo de integração para o desenvolvimento do Juruá e do Acre”, destacou. O parlamentar também salientou os eforços para superar as dificuldades que surgiram. “É importante que a importação aconteça para que as coisas institucionais tenham credibilidade. Não adianta fazer movimento de integração assinando documentos de intenção porque as pessoas querem ver as coisas concretizadas. O que estamos fazendo vai além da questão de diminuir os preços dos produtos. Vamos promover uma integração cultural e educacional entre os povos”, falou.
Transformação da economia do Juruá
É unânime entre a população de Cruzeiro do Sul que a abertura dos caminhos aéreo, terrestre e fluvial para o Peru poderá mudar a economia regional. “A região está bem localizada geograficamente e pode ser uma porta de integração dos 1200 Km até o Pacífico. Um caminho mais curto significa fretes mais baratos. Aqui temos uma população, entre todos os municípios, de 200 mil habitantes que teriam acesso a um mercado de mais de 12 milhões de pessoas. Será um salto civilizatório para um povo que transformou o seu isolamento em ousadia para se conectar com o resto do mundo. É preciso que se aprenda raciocinar não pensando apenas em Rio Branco, Manaus ou São Paulo. Mas contemplando as muitas possibilidades de negócios que podem ser realizadas a um pouco mais de uma hora de vôo com Lima e, a partir dali, com o resto do Planeta utilizando as rotas do Oceano Pacífico”, explicou Magalhães.
Edvaldo rebateu as críticas de algumas pessoas que não acreditam no processo de integração. “As vezes não se dá a importância que tem um vôo com verduras. Nós não estamos aqui discutindo tomates, mas o futuro. Quem conseguir olhar um palmo a frente do nariz vai entender que estamos construindo o futuro de uma região que passou anos assolada pelo isolamento”, ironizou.
Produtos mais baratos para a população
O presidente da Associação Comercial do Alto Juruá, Marco Venício, elogiou a iniciativa política associada à comercial. “Essa integração não se limita ao comércio, mas a relação entre as pessoas dos dois países. A chegada desse avião é um primeiro passo para que no ano que vem possamos ter um fluxo constante de abastecimento alimentar na região. O objetivo de todo esse esforço tanto dos políticos quanto dos orgãos envolvidos na operação é para que os produtos cheguem mais baratos aos nossos consumidores. A demora que ocorreu com os obstáculos já estava virando uma agonia. Mas no final quem acabou ganhando são as pessoas que poderão fazer suas compras de final de ano com muito mais economia”, comemorou.
Praticamente todos os grandes comerciantes de Cruzeiro do Sul estão envolvidos no processo integratório. Para Francisco Santos, mais conhecido como Zinho, a expectativa gerada por todo esse processo é muito grande. “Esse movimento será a porta de entrada para muitos outros produtos. Frutas, verduras e legumes é só o básico para a nossa cidade. Mas com certeza o aeroporto estando alfandegado com sistema de fiscalização vamos ter suporte para que vôos como esse aconteçam com regularidade para que possamos trazer também outros produtos de interesse da região”, afirmou.
O dono de um dos maiores supermercados do Juruá, Assem Cameli, também pensa em outras possibilidades de importação. “Estamos interessados em vários itens como o cimento e a pedra para construção, o calcário para ampliarmos a nossa agricultura e os produtos do mar”, disse o empresário. Assem revelou que atualmente o preço do tomate nos seus estabelecimentos custa cerca de R$ 8 o quilo. “Com a chegada dos produtos peruanos poderemos ter uma redução de cerca de 50% na maioria. Mas para alguns a redução pode ser ainda maior dando uma acessibilidade aos nossos clientes bem maior”, salientou.
O empresário Abraão Candido, um dos pioneiros no comércio com o Peru, nos anos 80, também acredita nos resultados positivos de toda a inicia-tiva de integração. “Há muito tempo que a gente almeja que isso aconteça. No tempo do ex-senador Aloisio Bezerra se deu início a esse processo, mas não foi a frente porque as autoridades do Brasil não tiveram muito interesse. Agora, apareceu o Edvaldo Magalhães que tem se empenhado. Inclusive, recebemos de Natal a rodovia entre Cruzeiro do Sul e Pucallpa que o presidente Lula (PT) assinou a intenção de construí-la quando estivemos recentemente em Lima. Na realidade nem fomos com essa intenção. Nós fomos pedir para fazer os estudos da rodovia, mas como é o jeito do Lula, passou a caneta e autorizou.
Acho que Cruzeiro do Sul tem três vias de transporte que nos conecta com o Peru para fazermos comércio vantajoso, a fluvial, a aérea, e a rodoviária que deve sair o quanto antes”, apregoou. Quanto a redução do preço dos produtos para o consumidor, Abraão explicou que os problemas enfrentados nessa primeira importação acabaram encarecendo o frete. “Há alguns problemas porque o avião do Peru não pode vir e foi preciso fretar um em Manaus. Isso encareceu um pouco mais o frete. Mas mesmo assim vai cair bastante o preço dos produtos”, finalizou.