O governador Binho Marques concedeu segunda-feira, 7, entrevista à Sky do Reino Unido sobre campanha que a emissora de TV a cabo conduz em parceria com a organização WWF. Salve a Floresta (Sky Rainforest Rescue) quer proteger uma área de três milhões de hectares da floresta no Estado do Acre como meio de enfrentamento às mudanças climáticas. A equipe de produtores e jornalistas percorre o Acre apresentando ao mundo – e com inserções ao vivo para os assinantes no Reino Unido – as expe-riências de desenvolvimento sustentável praticadas no Estado especialmente a Política de Valorização do Ativo Ambiental Florestal. “Saber que outros se juntaram a nós, toparam estar aqui, nos enche de coragem. Este é um exemplo que o Acre pode levar ao mundo”, afirmou o governador.
A Sky Reino Unido quer arrecadar £ 4 milhões (cerca de R$ 12 milhões) para salvar 1 bilhão de árvores na Amazônia, e para cada libra doada por seus assinantes a Sky irá contribuir com outra libra até chegar ao valor pretendido. Do montante arrecadado, 75% serão destinados a um projeto no Acre para salvar um milhão de árvores e outros 25% serão destinados à WWF para ajudar outros projetos na Amazônia. A experiência acreana será apresentada na COP-15, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas que está sendo realizada em Copenhague.
“O Acre faz muito além do que poderia fazer e o próximo passo é não só a economia florestal mas a qualidade de vida para seu povo. O que nós estamos levando (para a COP-15) é o projeto que já está em funcionamento. É uma decisão que começou fora do Governo, na década de 1970”, relatou o governador ao responder as perguntas do apresentador Andrew Wilson.
Os recursos obtidos da campanha contribuirão para um projeto maior do Governo do Acre e WWF-Brasil para conservar 3 milhões de hectares de floresta, que contem aproximadamente 1 bilhão de árvores. Para Binho Marques, a parceria vai fortalecer a Política de Valorização do Ativo Ambiental Florestal, desenvolvido pelo Governo do Estado. Com o recurso, o Acre irá, entre outras ações, potencializar a política de pagamento dos bônus nos planos de certificação das propriedades, para que aqueles que vivem na floresta continuem preservando e garantindo a recuperação da reserva legal. O Acre possui hoje 88% de cobertura florestal em seu território e adota uma política que já reduziu pela metade o índice de desmatamento nos últimos quatro anos. Dados do Instituto de Pesquisas Espa-ciais (Inpe) apontam uma redução de 83% do desmatamento no Estado, passando de 107.800 hectares em 2003, para 18.300 hectares em 2007.
Estudos indicam que atualmente o desmatamento no mundo está causando mais emissões de gases de efeito estufa do que a soma das emissões dos aviões, trens, navios e carros do mundo. A perda das florestas tropicais também está ameaçando o habitat de mais de 50% das espécies do planeta e o bem-estar de populações que vivem na floresta. A floresta amazônica é essencial para evitar o perigo de mudanças climáticas, além de abrigar a riqueza da bio-diversidade biológica e cultural. No Acre, as experiências são exitosas porque a sociedade pactou suas mudanças e implementou o Zoneamento Ecológico-Econômico, resultado de um amplo diálogo entre os atores sociais. “Estamos dez anos à frente de outros estados”, afirmou o governador, alertando para uma postura mais célere em relação ao aquecimento global. “O prazo já se esgotou. Tudo que se fizer ainda é pouco diante da necessidade. Temos que trabalhar muito. No caso do Acre, nosso trabalho já começou, já estamos fazendo”, disse.
Acre: redução de mais de 60 milhões de toneladas de CO2 até 2020
Já é consenso que as parcerias são fundamentais para a conservação da Amazônia. O projeto em parceria com o Governo do Acre e WWF faz parte de um novo conjunto de compromissos da Sky no Reino Unido para ajudar a enfrentar as mudanças climáticas, incluindo um orçamento geral para reduzir suas emissões de CO2 em 25% em toda a empresa até 2020. Além disso, a empresa planeja aumentar a eficiência energética de seus edifícios em 20% e obter 20% da energia consumida em todos os seus prédios em fontes renováveis locais dentro do mesmo horizonte de tempo.
A economia do Acre nasceu junto com a floresta. Há uma natural vocação do Estado para uma economia de base florestal, e que agora quer ampliar as parcerias para garantir melhor qualidade de vida a todos. Na base dessa busca, a compreensão de que a floresta é habitada e que há uma afirmação de terras prioritárias para recuperação, conservação e introdução no processo produtivo, que são cerca de seis milhões de hectares localizados fundamentalmente ao longo de rios e rodovias. “Estimamos que até 2020 sejam necessários R$ 480 milhões para proteger as florestas e reduzir em 63 milhões de toneladas as emissões de CO2”, projeta Eufran Amaral, secretário de Meio Ambiente.
Diferencial é a simplicidade
O diferencial do projeto acrea-no é a simplicidade. A proposta foi conhecida do mundo a partir da luta de Chico Mendes, que unificou a luta dos povos da floresta e cidade gerando o socioambientalismo. O contexto atual é igualmente de vanguarda. Entre inúmeros exemplos, o Acre é o único Estado brasileiro que possui a Secretaria de Florestas. “O Acre só chegou até aqui pelas muitas alianças”, disse o governador Binho Marques.
Em Copenhague, o Acre irá defender o mecanismo REDD (Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação), cuja idéia é criar valores econômicos para a floresta em pé, ou para o desmatamento evitado, como tem sido chamado. O Acre registra atualmente as menores taxas de desmate dos últimos vinte anos, taxa que segue em queda. A consolidação e a compreensão do REDD esbarram em situações que podem ser ultrapassadas a partir da intenção da política e da sociedade. Fatores como a diplomacia, no caso brasileiro, e acadêmicos, relacionados à mensuração do REDD, tem se interposto no avanço do tema. A COP-15 pode dar novo significado ao debate.
Objetivos da campanha
De acordo com o WWF, parceiro na campanha, o projeto vai possibilitar mais recursos para vigilância contra ameaças, entre elas o corte ilegal de madeira, e também para o desenvolvimento comunitário por meio do fortalecimento de cadeias produtivas florestais. A fase inicial será composta pela pesquisa e consulta a comunidades locais, antes do lançamento de um projeto piloto no início de 2010, que será ampliado posteriormente. A princípio, não se pode pensar em manter a floresta em pé sem pensar a área desmatada.
De seu lado, até 2012, a Sky irá reduzir as emissões de carbono de sua frota de vans em 25% (por van) e as emissões geradas pelas viagens dos funcionários a trabalho em mais 20% (por ETI).
Economia de base florestal: cresce participação
Os jornalistas da Sky conhecerão experiências como a da Natex, a fábrica de preservativos de Xapuri, e o Seringal Cachoeira – respectivamente representantes de uma e outra ponta do processo que transforma o látex em produto de alta tecnologia. O Acre desenvolveu a parceria público-privada e comunitária, que pode ser avaliada no complexo avicultor de Brasiléia e também na indústria de pisos e decks de Xapuri. Para esta última, 60% da madeira processada foi proveniente de manejo comunitário.
O projeto do Acre contempla áreas críticas e não somente a floresta preservada, o que é outro diferencial. A Política de Valorização do Ativo Ambiental Florestal mantém atenção na inversão do processo de desmate no Acre, que até o final da década de 1980 se concentrava nas grandes propriedades. Hoje, 90% dos desmates são realizados em pequenas propriedades. (Agência de Notícias do Acre)