Há 16 anos Vivaldo Sampaio percorre os rios do Vale do Juruá e hoje mantém relação de cumplicidade e respeito com os ribeirinhos
Que a Amazônia tem um modo de vida peculiar, não é novidade, afinal sua gente se adapta à geografia e estrutura do lugar. Nos rios esses exemplos são facilmente encontrados, já que eles valem como ruas para milhares de ribeirinhos. E mesmo com tantas mudanças na relação clientes e fornecedor diante da modernidade, por aqui, a profissão de vendedor é antiga e essencial.
Uma dessas adaptações é o comércio dentro de barcos. Conhecido como “regatão”, essas embarcações passam até mais tempo nos rios que em terra. Um desses comerciantes é Vivaldo Sampaio, 63 anos. Depois de trabalhar em seringais, coordenando o trabalho dos seringueiros, ele já foi até vereador do município de Jordão, mas “viver na cidade me deixa atarantado”, confessa. Portanto, prefere as ruas de águas que as de asfalto.
Vivaldo há 16 anos vende desde alimentos, gasolina a facões e outros artefatos para trabalhos na roça. Começou com o Cristina I, pequeno barco, e hoje apresenta com orgulho o Cristina III, bem maior e diferente do primeiro, pesando dez toneladas. É nele que o navegante passa maior parte do tempo de sua vida. A cada dois meses percorre os rios, faz paradas rápidas e nas mais longas, fica apenas de 20 dias a um mês em terra, com a família. O período mais crítico de suas viagens é no verão quando precisa empurrar o barco que encalha bastante, por isso, coleciona várias marcas nas costas. “Quando começa a ficar muito difícil eu vou para a terra, porque a natureza é quem manda”, diz.
Além do ajudante José Marcos, Vivaldo conta com a companhia do rádio para espantar a solidão de viajante. Longe da família e dos seis filhos, que moram em Tarauacá, é na programação do rádio a pilha que se concentra em grande parte do dia. “Eu estou acostumado com a solidão e tem o rádio para ajudar”.
Colecionando suas histórias e de muitos outros ribeirinhos, Vivaldo já é conhecido dos moradores que habitam as margens do rio Jordão e de muitos outros do Vale do Juruá. Diz que pretende trabalhar até quando o corpo aguentar, pois sabe que sua profissão não é apenas uma forma de sustentar a família, mas também um benefício para muitas pessoas que não têm chance de ir até a cidade com frequência fazer compras para atender às necessidades básicas. Em cada casa que aporta tem a boa receptividade do caboclo da Amazônia. Uma cumplicidade entre pessoas que conhecem as dificuldades da região. (Agência de Notícias do Acre)