O nível do Rio Acre tornou a subir alguns centímetros em Rio Branco e atingiu na medição de ontem (28) de manhã 13,06 m: apenas 44 cm abaixo da cota de alerta da Defesa Civil. Com a elevação repentina, os moradores das principais áreas de risco da Capital já estão assustados com a ameaça de alagação, especialmente no bairro Airton Sena, onde a água já começou a atingir os quintais de muitas casas. Outro fator ainda mais preocupante são as chuvas constantes, já que a previsão meteorológica para os próximos dias no Acre é de mais precipitações de cerca de 4 mm para as cabeceiras do rio no Peru, Assis Brasil e Riozinho do Rola.
Conforme o ten-cel. CBM José Ivo, secretário executivo da Coordenação Estadual da Defesa Civil (Cedec/AC), a situação do rio até ontem ainda estava dentro do normal. Porém, trata-se de um quadro que está se agravando aos poucos, superando inclusive a média usual de janeiro (9,51m). “É impossível prever com precisão se haverá ou não alagações que superem a nossa cota de transbordamento (14 m). O rio pode voltar a subir hoje (28) ou sofrer alguma vazante. Não dá para afirmar. Tudo o que podemos dizer de certeza é que caso isso aconteça estaremos prontos para agir”, disse o coronel.
O secretário contou que as principais áreas de risco para o caso de uma alagação são os bairros Airton Sena, Cidade Nova, Taquari, Baixada do Habitasa, Cadeia Velha, Adalberto Aragão, além da Travessa do Eder no Seis de Agosto.
Segundo dados da Cedec/AC, nos demais municípios acreanos a situação está sob controle, bem longe ainda da cota de alerta. Em Assis Brasil o rio estava ontem em 2,8m (com baixa de 1 m entre quarta para quinta), em Cruzeiro do Sul 8,70 m (- 60cm), em Brasiléia 4,78 (- 2,82 m) e em Sena Madureira 12,43 m (com subida de 27 cm). No Riozinho do Rola, principal afluente do Rio Acre, a medida era de 11,7 (+ 24 cm).
Moradores estão preocupados, mas recusam a se mudar
Os moradores do bairro Airton Sena já estão com parte do quintal alagado e mesmo assim insistem em ficar nas suas casas até que o rio os alcance de vez. De acordo com a Defesa Civil Estadual, que visitou o bairro ontem de manhã, nenhum residente afetado no local aceitou fazer a mudança. O motivo: a esperança de que o rio não tornará a subir, somada ao medo de perder bens pessoais, ao incômodo de trocar de lugar e à idéia de fazer as coisas sempre na última hora.
De acordo com Josimar Albuquerque da Silva, o mesmo morador do Airton Sena que na alagação de 2009 se abrigou em um barco, neste ano ele e a sua família estão com fé de que a água não alcançará o seu lanche. Ele conta que mudar os seus bens é algo muito chato, por isso, é melhor esperar para ver se o rio chega mesmo ou não. “A gente espera atento. Se alcançar, aí tiramos tudo”, disse. Quando questionado se há tempo para se mudar, ele é categórico: “Dá sim. É meio difícil, mas sempre dá”.
Já Edinéia Lira Catunga, também residente do Airton Sena, confessa que está com medo de que o rio suba, mas prefere não sair da casa ainda porque acha cansativo se mudar. “Eu prefiro esperar um pouco para ver se o rio vai subir mesmo, até porque sair agora pode ser precipitado, já que ele pode nem passar aí do quintal”, completou.
Chuva faz entrada da ponte do Airton Sena ceder e deixa moradores apavorados
TIAGO MARTINELLO
Além do medo de alagação, outro pânico que está se instalando nos moradores do Airton Sena por causa das chuvas incessantes deste ‘inverno’ são os deslizamentos. É que as chuvas de quarta (27) para ontem (28) fizeram a entrada da ponte que liga o Airton Sena ao Aeroporto Velho começar a se desestruturar, afetando algumas casas que ficam na proximidade. Com isso, os moradores agora estão apavorados de que as suas casas também cedam e desabem de uma hora para outra no rio.
Segundo Raimundo Mourão, aposentado de 63 anos que mora bem ao lado da entrada da ponte danificada há 4 anos, as rachaduras começaram a aparecer na madrugada de ontem na cercadura da parte de baixo do seu quintal. De acordo com ele, caso a ruptura continue a crescer é provável que a sua casa desmorone completamente. “O que causou isso foi essa chuva toda. É muita água aqui e por isso o solo está começando a ceder direto. Se romper mais, a casa amanhecerá debaixo do rio”, disse.
Quem também está assustada com a situação é Francisca Rodrigues da Silva, que mora com seu marido e neta bem em frente à casa do seu Raimundo. Conforme ela, a sua moradia é quase tudo que tem, por isso, não pode perdê-la. “Eu já me inscrevi naquela lista das áreas de risco de desbarrancamento, mas isso não me dá hoje nenhuma segurança. Neste momento, estou muito assustada, porque quando o barranco se decompor de vez a nossa casa inteira vai cair e perderemos tudo”, completou.