Com famílias ainda vivendo em áreas de desmoronamentos às margens do Rio Acre, a Capital acreana enfrenta a ameaça de a cada vazante dezenas de casas descerem barranco abaixo. Deslizamentos e enchentes são os principais problemas enfrentados pela Defesa Civil Municipal, que na manhã de ontem realizou a sua primeira conferência, no auditório do Colégio de Aplicação.
Morador há quase 20 anos do bairro da Base, o pedreiro José dos Santos Gomes já teve de mudar sua residência para um local mais “seguro”, já que a primeira área deslizou. “A casa já estava toda torta”, recorda ele. Santos mudou-se, mas o problema continuou a segui-lo. Na nova casa, uma rachadura de 20 centímetros separa a sala da cozinha, ameaçando toda a estrutura de madeira.
Cadastrado nos programas de habitação popular, ele diz esperar há seis anos por um imóvel em uma área mais segura. Situação tão dramática vive a dona-de-casa Sandra Maria, mãe de duas crianças. Da varanda de casa, ela vê o Rio Acre subir e descer a cada mudança do clima. As árvores tortas no quintal sinalizam que já no fim deste “inverno amazônico” as mesmas não ficarão de pé.
A estrutura para as famílias que ali moram é nula. Banheiros fora da residência mostram a forma precária como os dejetos são despejados. A fiação elétrica é outro risco constante. Para o coronel Gilvan Vasconcellos, chefe da Defesa Civil Municipal, é preciso que os próprios cidadãos tenham consciência das ameaças e perigos a que estão vulneráveis ao edificar mora-dias em áreas de risco.
O principal motivo que leva tantas famílias pobres a se disporem ao perigo é o déficit habitacional. Outra razão é a ineficiência dos próprios municípios, que muitas vezes são complacentes com essa situação. Exemplo disso é o de Angra dos Reis (RJ), que permitiu a construção de casas em áreas sujeitas a deslizamentos. O resultado trágico dessa falta de política foi visto por todo país na última virada de ano.
“É importante a participação e o envolvimento de toda a sociedade no aperfeiçoamento da Defesa Civil, afinal de contas, a Defesa Civil somos todos nós”, defende Vasconcellos. Mesmo com todas as dificuldades financeiras, completa o coronel, a Prefeitura de Rio Branco tem feito a sua parte para evitar que as áreas de risco sejam ocupadas, e retirar as famílias que já estão nelas.
O chefe da Defesa Civil destaca a remoção de famílias do bairro Wilson Ribeiro, que enfrentavam a ameaça de terem suas casas arrastadas por deslizamentos, mas foram transferidas para áreas seguras. Mesmo com a remoção, muitas delas insistem em voltar. “Por serem locais próximos ao Centro, muitas preferem ter esta comodidade, mesmo com suas vidas em risco”.