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Polícia mata estudante durante blitz em bairro

O que deveria ser uma simples abordagem policial acabou em tragédia para o casal de namorados Edna Maria Ambrósio Rego, 22, e Jeremias de Souza Cavalcante, 21. Os dois foram alvejados com tiros de fuzil ao furar uma blitz de trânsito na Rua Campo Grande, bairro Palheiral, na noite da última quinta-feira (25).


Pelo menos três tiros foram disparados contra o casal. Um deles atingiu Edna pelas costas, transfixou seu coração, e se alojou no ombro de Jeremias, ao qual ela estava abraçada. Quando a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou ao local Edna agonizava na calçada.

Por vinte minutos os paramédicos tentaram estabilizar a vítima, mas a situação era gravíssima. Foi deslocada então para o Pronto-Socorro, aonde já chegou sem vida. Enquanto isso, uma segunda ambulância do Samu foi acionada para atender Jeremias, que também estava ferido.

Segundo testemunhas, a blitz da Companhia de Trânsito estava localizada próxima a uma curva, o que pode ter dificultado a visibilidade do condutor da moto. Outro agravante é que o piloto estaria calçando sandálias, o que é proibido pela legislação de trânsito, e teria dificultado a freada da motocicleta. Diante da suposta fuga, dois policiais da Companhia Estadual de Trânsito (Ciatran), efetuaram vários disparos em direção ao casal.

Testemunha diz que mais pessoas poderiam ter sido feridas

Dezenas de pessoas testemunharam a ação dos militares. José Cristino de Figueiredo é uma delas. Ele foi uma das testemunhas durante a lavratura do flagrante contra os militares na Delegacia da Mulher, onde foi instaurado inquérito para apurar a morte de Edna.

Segundo ele, a ação dos policiais colocou em risco a vida de muitas pessoas e que pelo menos 30 estavam na linha de tiro dos policiais. “Eles não tiveram tempo de parar. Os policiais começaram a atirar, gerando pânico e revolta entre os presentes”, disse.

Edna ingressaria no 1º emprego nesta sexta-feira

Edna começaria a trabalhar sexta-feira. Estava tão feliz com o primeiro emprego que decidiu chamar o namorado para comemorar. Os dois haviam saído para fazer um lanche nas proximidades quando se depararam com a blitz.

Na casa da jovem, o clima era de dor e revolta durante as horas que antecederam a chegada do corpo. Amigos e familiares da vítima ainda não conseguiam entender o que realmente havia acontecido. Para poder aguardar a chegada de uma irmã que mora em Porto Velho (RO), o corpo teve que ser embalsamado.

“Minha filha começaria a trabalhar nesta sexta-feira, eu ainda pedi para ela não ir por que já era tarde da noite, mas ela insistiu e disse que voltava logo, pois levaria o lanche para comer em casa, e menos de 20 minutos recebo a informação que minha filha foi baleada pela polícia”, contou a mãe desesperada.

Jeremias sai do hospital direto para delegacia
Jeremias de Souza deixou o Pronto-Socorro por volta das oito horas da manhã de ontem e foi conduzido direto para a Delegacia de Flagrantes, onde foi autuado por crime de desobediência. O detalhe neste caso, é que apesar de ter chegado a Defla por volta de 8h30, ele só foi entregue pelos PMs ao delegado de plantão ao meio-dia.

Francisca Ramos, mãe de Jeremias, aguardava ansiosa o desfecho do caso. “Eles atiram contra o meu filho, matam a namorada dele e ainda o levam preso. Ele também está ferido e não merece ser tratado como bandido”, protestou.

Segurança pública admite erro e pede desculpas à sociedade
Em entrevista coletiva no final da tarde, a cúpula da Segurança Pública do Acre, admitiu falhas nas abordagens policiais que resultaram em ferimentos e mortes de civis no decorrer desta semana. Pediu ainda desculpas à sociedade e se solidarizou com os familiares das vítimas. Participaram da coletiva, Márcia Regina (Segurança Pública), Emylson Farias e André Monteiro (Polícia Civil), Romário Célio e Paulo César (Polícia Militar) e Henrique Corinto (Direitos Humanos).

“Nós vivemos um fato que abalou porque foi um erro. O trabalho da polícia é voltado para não errar. A polícia tem o dever de proteger a vida. A secretária admite a gravidade das ocorrências e garante que os dois episódios estão sendo apurados com rigor”. “Também sou mãe e sei qual a dor de perder um filho”, disse.

O comandante da Polícia Militar, coronel Romário Célio, observa que se houveram falhas a culpa não é apenas dos policiais envolvidos, mas de toda a corporação, que deve agir de forma a garantir a segurança pública. “Não há desculpa, só de pensar já me dói”, declarou.

“Sabemos que falhamos todos. A gente fica chateado, temos filhos”, completou o secretário de Polícia Civil, Emylson Farias, acrescentando que a Polícia Civil está empenhada em esclarecer os fatos, através de inquérito, para que a Justiça possa fazer o seu trabalho e denun-ciar os culpados.

Henrique Corinto, secretário de Direitos Humanos, informou que os familiares das vítimas estão tendo toda assistência necessária à reparação dos danos resultantes das ocorrências. Os familiares dos policiais acusados também estão sendo assistidos.

PMs acusados de efetuar disparos estão presos
Os dois policiais militares acusados de efe-tuar os disparos que resultaram na morte da estudante Edna Ambrósio foram recolhidos ao quartel do Batalhão de Operações Policiais (Bope), logo após ser efetuado o flagrante na Delegacia da Mulher.

São eles: o 3º sargento S. Moura e o soldado Morais Costa. Ambos foram indiciados por homicídio – crime previsto no art. 121 do Código Penal – e também vão responder administrativamente por suas ações.

Universitário baleado pela polícia conta que foi humilhado
O estudante universitário Galileu Marino, 22 anos, baleado pela polícia com um tiro nas nádegas, na noite da última terça-feira, 23, afirmou que vai acionar o Estado. Marino chegava a sua casa, na rua Luiz de Moraes, bairro Tancredo Neves, quando foi abordado por policiais do Grupo Antiassalto da Polícia Civil (Gapc) e baleado.

Em entrevista à repórter Lenilda Cavalcante, Galileu conta detalhes da operação desastrosa que o vitimou e teme não poder mais retornar para o curso de Educação Física da Universidade Federal do Acre (Ufac), por conta de possíveis sequüelas do tiro.

Marino afirmou pensar ser um assalto, ao observar de longe os policiais armados e abordando um taxista.

“Quando eles se aproximaram eu corri porque não poderia esperar que fosse morto. Ninguém espera três ou quatro caras armados, em um carro descaracterizado, sem se identificarem como polícia”, diz Galileu Marino, em um trecho da entrevista.

Após estar no chão e baleado, ele afirma que ainda foi chutado e que não deixaram que ele usasse o seu celular. (Agência AGazeta.net)

 

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