Há mais de três anos que o deputado Moisés Diniz (PCdoB) é o líder do governo na Aleac. Com uma oposição parlamentar aguerrida, Moisés tem que se desdobrar para fazer uma defesa convincente da gestão Binho Marques (PT). Com estreitas ligações às letras, o comunista utiliza a poesia e a filosofia nos seus discursos na tribuna da Casa. Quando o tom do debate se eleva, o dublê de escritor e político se transforma para responder às críticas no mesmo tom. Mas sem perder o respeito pelos colegas parlamentares oposicionistas. “Também já fui de oposição. A Aleac é o lugar do debate democrático”, afirma. Nessa entrevista À GAZETA o parlamentar faz um balanço do Governo Binho Marques e fala do seu futuro como político e escritor.
A conciliação entre ser líder e deputado
Ninguém vota num líder do governo. Mas num candidato que possa representar os anseios das comunidades na Casa Legislativa. Moisés Diniz, explica como conciliar as suas duas funções. “O governo do Binho é técnico. Há uma cultura no Acre do político ter muita força no Governo e influenciar as indicações e as nomeações. Um governo técnico provoca um choque nas pessoas que fazem política. Isso dificultou a minha defesa do Governo, na Aleac.
Mas o Governo é muito operoso e ativo e, não é apenas voltado para os excluídos. Tem sido uma gestão de muitos investimentos na infra-estrutura. Quem imaginava que o Binho Marques estaria com o asfaltamento da estrada do Juruá licitado e que estaria cons-truindo as quatro grandes pontes da BR-364 e a quarta ponte de Rio Branco. Portanto, é um governo também de grandes obras”, afirmou.
Quanto a sua candidatura à reeleição Moisés ainda não decidiu. Mas é provável que concorra novamente a uma cadeira na Aleac. “Em relação a minha candidatura à reeleição procuro trabalhar como deputado ao meu estilo. Subi recentemente o Rio Tarauacá até o Jordão visitando as comunidades e ouvindo o que a população está cobrando. Nessa semana, estive com os flanelinhas, que cuidam dos carros na Capital. Na semana passada, com os sem-terras, fundei a Associação dos Maratonistas do Acre. Procuro manter o meu mandato no aspecto de mais envolvimento da sociedade”, garantiu.
Governo técnico e a troca de favores
Indagado, o parlamentar, explica melhor a questão da relação de um governo técnico com a política. “Hoje mesmo quando houve uma crítica ao funcionamento do hospital de Tarauacá eu explicava no meu blog que a minha função não é a de ficar indicando chefe de hospital. O nosso Governo repassou 45 milhões para os gestores locais cuidarem do dia-a-dia dos hospitais e não ter que ficar telefonando e pedindo as coisas na Capital. Portanto, o papel dos políticos é garantir o funcionamento da máquina pública e não ficar fazendo indicações e pressão como acontecia antigamente”, analisou.
A relação com a oposição
Apesar de ser a maioria não são muitos os deputados da base governista que participam dos debates na Aleac. Moisés Diniz analisa os seus embates cotidianos com a oposição. “Apesar da oposição ser aguerrida tenho feito a defesa do Governo na Aleac de forma serena sempre respeitando o papel oposicionista. Só reajo quando percebo que a oposição elevou o tom acima do que deveria. As vezes, usando informações deformadas e manipuladas e utilizando uma linguagem muito ruim de baixo calão contra o Governo e as suas lideranças. Mas a gente compreende que esse é o papel da oposição. O parlamento é o lugar do debate, da adrenalina e da pressão alta. Mas prefiro fazer a defesa mostrando os dados e as nossas conquistas sempre respeitando a oposição”, explicou.
As perspectivas políticas da Frente Popular
O parlamentar comunista acredita no êxito da FPA nas próximas eleições acreanas. “O quadro se apresenta muito positivo para a FPA. Temos um governo de grandes ações na Educação, na Saúde e na Segurança. Um Governo que estima muito a inclusão so-cial. Nós estamos diminuindo em 50% o déficit habitacional do Acre e fazendo grandes pontes. Obras milionárias que passam de um bilhão de reais. Além disso, nós temos unidade política e um bom nome para concorrer ao governo que é o do senador Tião Viana (PT-AC). A presença política dele é espetacular para o debate da sucessão porque é respeitado no Brasil e no Acre. Temos bons nomes, um Governo que trabalha e unidade política. Com esses ingredientes acho que dá para ganhar a eleição. Mas com humildade e pé no chão. Não se pode nunca ter salto alto”, salientou.
Divergências entre o PT e o PCdoB
É comum nos bastidores da política acreana se comentar as rusgas entre o PT e o PCdoB. O líder do governo admite que existem questões a serem resolvidas. “Nós temos problemas localizados mais nos municípios do inte-rior. Reconhecemos que as lideranças dos dois partidos, por estarem no Governo, acabam não cuidando muito das questões mais locais. Isso faz aflorar divergências nos municípios naturalmente. Mas no comando central dos dois partidos nunca houve tanta unidade como agora. Temos unidade de propósito, de objetivo e da compreensão que os dois partidos são importantes um para outro para que se continue a fazer as coisas que o Acre precisa”, analisou.
A disputa Dilma X Marina no Acre
O deputado defende um olhar diferente no Acre na eleição presidencial. “O PCdoB tende a participar da aliança nacional que apoiará a ministra Dilma (PT). Aqui no Acre, naturalmente, nós vamos seguir a orientação do partido a nível nacional. Mas acho que aqui a gente deve ter um olhar regional para essas eleições. Ter a posição política, aberta e franca em defesa da Dilma. Mas em nenhum momento criar problemas para a Marina Silva (PV) compreendendo que ela é uma mulher daqui com as suas dificuldades. Não vamos nos confrontar”, garantiu. Perguntado sobre o seu voto pessoal a resposta vem rápida. “O meu coração está em duelo entre a Dilma e a Marina”, disse.
Reeleição e a presidência da Aleac
Caso seja reeleito, Moisés, já avisou que não vai reivindicar a função de presidente da Aleac. “Acho que esse cargo deverá ser uma função que contemple a diversidade política da FPA e estou preparado, se voltar, a cumprir meu papel parlamentar defendendo o governo independente se for chamado para ser o seu líder. Esse debate da presidência da Aleac não é interessante eu ficar reivindicando”, esquivou-se.
Preconceito e fanatismo religioso
Como escritor, Moisés Diniz lançou, no ano passado, O Santo de Deus, que trata do fanatismo de uma seita evangélica em Tarauacá. Coincidentemente, aprovou um projeto, na Aleac, que estabelecia o Dia da Diversidade Sexual. Mas por pressão de pastores protestantes resolveu não levá-lo para a sanção do governador. “Não quero comentar a reação ao projeto, mas dizer que sou um homem de idéias livres e abertas que respeita o contraditório e a ampla liberdade de cátedra, de pensamento e de expressão. Se há pessoas que não compreendem que isso é o futuro da humanidade, a tolerância política, religiosa, filosófica e sexual, não posso fazer nada. Vou continuar trilhando o meu caminho”, resumiu.
Moisés trabalha atualmente num romance ficcional em que um monarca Asteca se encontra com Jesus Cristo e Maria Madalena na Palestina. Tudo acontece um pouco antes do julgamento e da crucificação de Jesus. “É o encontro do reino das águas da Amazônia com o berço da civilização”, finalizou.