Os últimos vices ficaram cerca de um ano no poder, assinaram leis e medidas provisórias. Apesar disso, eles geralmente não são apontados como um fator decisivo na eleição dos presidentes -ao contrário, são escolhidos sobretudo para reforçar a base de apoio da própria classe política e da definição de cargos, avaliam cientistas políticos ouvidos pela Folha.
O atual vice, José Alencar (PRB-MG), ficou 426 dias como o homem mais forte do país. É conhecido e ganhou carisma pela sua luta contra o câncer, mas, fora isso, sempre teve uma atuação discreta e coordenada com o presidente Lula, pouco se envolvendo na formação dos governos e indicando apenas um ministro: Mangabeira Unger (Secretaria de Assuntos Estratégicos), que deixou o cargo no ano passado.
Em 2002, o empresário Alencar foi escolhido para criar um contraponto para a campanha do PT, um partido de esquerda: a intenção era “acalmar” a classe empresarial.
Para Jairo Nicolau, cientista político e professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), os eleitores não escolheram Lula por causa disso. “O Alencar foi um elemento a mais na campanha de 2002. Naquela época, todo o marketing e toda a imagem do Lula foram mudados. Até uma carta para o povo brasileiro foi redigida para conquistar o voto do setor produtivo. A eleição não foi ganha só por causa do Alencar”, afirmou.
Na abertura dos trabalhos do Congresso, na terça, o próprio Alencar admitiu que o vice não ganha voto. “Ninguém vota no vice, eu só sou vice-presidente por causa do Lula. O número que me elegeu foi o 13”, disse.
Assim como Alencar, seu antecessor Marco Maciel (DEM-PE) foi discreto. Hoje senador, o vice de Fernando Henrique Cardoso exerceu a Presidência 85 vezes (339 dias). “Considero importante a escolha do vice, porque tem que ser alguém que agregue força política na chapa”, diz Maciel.
Além da composição da chapa e da base de apoio para as votações no Congresso, a definição do vice é importante na hora de agregar tempo de televisão, avaliam cientistas políticos. “Penso que [o vice] mais provavelmente reforça a escolha ou agrega votos do que muda. Na política brasileira, o vice geralmente é uma figura discreta. Por isso, sua presença não tende a alterar a escolha dos eleitores. A figura amplamente dominante é a do titular”, afirma Leôncio Martins Rodrigues, professor aposentado da Unicamp.
“Costumo dizer que vice é Rubinho Barrichello. Quem dá bola para o vice? O Brasil é um país muito personalista. Interessa é quem vai mandar, e vice não manda”, diz o cientista político Alberto Carlos Almeida. (Congresso em foco)