E, agora, como se não bastasse, os salteadores que, na base do toma lá dá cá, distribuem combustíveis ao povo brasileiro têm já ciência do mal que estão fazendo, mas as leis e as instituições judiciárias, como os ministérios públicos, deixam-lhes agir muito a vontade, à luz do dia ou dos holofotes da imprensa, sem se perturbar, sem se comover, sem deixar a peteca cair… Uma bênção dos infernos!
A difícil missão de sobreviver em meio ao caos e à bandalheira tupiniquim foi herdada por nós da época em que os portugueses davam as cartas coloniais, que nos mantinham escravizados sob o jugo da baioneta e da corda da forca que sufocou Tiradentes e os seus propósitos. E nós aprendemos tão bem que, mesmo sentindo os grilhões nos perfurarem as carnes, não gememos, não choramos, não nos importunamos com o castigo diário que agora nos vem em leque, de todos os lados, feito flechas, como num teste último que nos prova até que ponto seremos capazes de suportar tanta tramóia, tanta enganação, tanto desprezo pelas inteligências quase opacas ou obscurecidas de brasileiros cujos impostos significam cinco meses anuais de salários, de janeiro a maio, fora a politicanalha que age ao bel prazer, tranquilamente, sempre sem o perigo do julgamento da maioria dos brasileiros desmemoriados que não têm conhecimento de que, há pouco tempo, o Zé Roberto Arruda, de madrugadinha, bolinou o painel do Senado da República e subverteu os resultados de uma eleição pseudo-democrática bem nos moldes da democracia nacional.
Pensemos juntos e em harmonia, finalmente!
Agora mesmo, estou de volta de um périplo pelo Colégio Meta, onde deixei mais de seiscentos reais como pagamento mensal pelos conhecimentos que são transmitidos, ali, aos meus gêmeos, Adrian e Alan, de seis anos, que bem poderiam frequentar escolas públicas de boa qualidade que os levassem a fazer como fez o mais velho, o Andrei, aprovado em sétimo lugar para o Curso de Engenharia Elétrica da Ufac. (Ruim é observar que no colégio noturno da rede oficial, por exemplo, os alunos do terceiro ano do ensino médio não reconhecem um verbo no meio de uma oração e muito menos dominam as quatro operações matemáticas.)
Do Meta, fui à Unimed e lá deixei setecentos e quarenta reais como pagamento do mês porque a saúde pública brasileira ainda está muito longe de desempenhar os seus papéis a contento.
Por uma fortuna, fiz instalar fios de uma engenhoca que dá apenas a idéia de choques elétricos mínimos no ladrão que se atrever a ultrapassar os limites e os umbrais da porteira da minha vivenda. À noite, de hora em hora, passa um cidadão sobre uma motocicleta tocando um apito estridente, ao custo de trinta reais mensais, para que o amigo do alheio saiba que àquela hora não pode mover-se de onde está, só dali a trinta segundos, como se ele também não tivesse relógio. No estacionamento público, em frente à Polícia Militar, um adolescente de tenra idade, ignorante, ameaçador, toma conta da minha condução, a um real por noite, como se eu não pagasse os impostos, inclusive o predial e territorial urbano, para que os agentes da segurança pública velem pelos meus bens móveis e imóveis, segundo uma constituição nacional de tão pouco significado para os que mantêm de pé esta nação de enganados, de deserdados. Percebo, então, nunca estar seguro!
No verão, os lá de casa comem poeira e, no inverno, se apetecem com a lama. O saneamento básico do triste vilarinho nunca existiu. O terreno baldio colado à minha residência, que seria uma praça, nunca o será. Ali, vizinhos insensíveis atiram todo o tipo de pragas, sortilégios e lixo, muito lixo… (Foi de lá que os caras da Semsur roubaram o meu pé de pinheiro comprado a peso de reais, muitos reais…)
Outra. Se eu devo à Receita Federal, sou cobrado. Se não pago, sou preso. Mas ELES têm o direito torto de me dever uma fortuna. Só um dos processos ganhos na Justiça está para ser pago há dezesseis anos. Um outro processo já dura quatro. Ah, espertalhões!
Indo mais fundo no balaio de gatos que é o cartel dos distribuidores de combustíveis, sou parte, agora, dos incomodados que articulam uma campanha que busca verdades que significam milhões de reais a menos nas nossas contas e nos nossos contra-cheques já eivados de descontos que vão do pagamento do Imposto de Renda à cota necessária para manter uma rede de sindicatos que foram neutralizados ou engolidos pela sagacidade do grande sindicalista Lula, o nosso mega presidente.
É claro que esse tipo de campanha via internet dá certo. Poucos lembram, mas o programa Criança Esperança, com o apoio irrestrito da Unicef e da Rede Globo, teve as suas contas devassadas e os seus efeitos perdulá-rios levados a público. O que se constatou foi desmoralizador e desabonador, inclusive, para os famosos globais chanceleres da causa. A fábrica de dinheiro descoberta sob o manto da caridade e da filantropia nunca teve os seus benefícios levados a quem de direito.
Mesmo que o cidadão não utilize combustíveis, mesmo que não tenha carro, é preciso dizer a ele que, em quase tudo o que consumimos, compramos ou utilizamos no nosso seu dia-a-dia, lá já está embutido no preço de custo o valor do transporte, do frete e da distribuição… E tudo é repassado para o bolso do consumidor.
É conveniente dizer ao cidadão comum, aquele que é arrochado na hora do pagamento do combustível, que o Paraguai não tem nenhum poço de petróleo, mas lá a gasolina custa R$ 1,45 o litro, isso, sem adição de álcool. Na Argentina, no Chile e no Uruguai que jun-tos (somados os três) produzem menos de um quinto da produção brasileira, o preço da gasolina gira em torno de R$ 1,70 o litro, também sem adição de álcool. É preciso deixar claro que o Brasil vende o nosso álcool aos paises vizinhos a R$ 0,35 o litro… Esses trapaceiros são apenas mágicos, ou grandes sicá-rios, ou as três coisas?
Melhor é que, desde o ano de 2007 e, conforme anunciado aos quatro ventos pelo presidente Lula, o Brasil é auto-suficiente e possui a terceira maior reserva de petróleo do planeta.
Realmente, só tem uma explicação. Nós pagamos R$ 2,92 (cartel do Acre) num litro de gasolina porque tudo gira em torno da ganância do Governo – com os seus impostos – e da busca desenfreada por lucros da estatal brasileira que refina o petróleo por ela mesma explorado nas terras e mares do próprio Brasil nosso de cada dia.
Uma campanha como esta, com o mesmo objetivo e sem muito sentido, foi iniciada em São Paulo e Belo Horizonte mas não tinha como dá certo. O lema era não compre gasolina, isso, em num certo dia da semana previamente combinado. O insucesso da proposta é que leva a crer que é necessário usar os meios lícitos e agir com inteligência.
Nos Estados Unidos e Canadá, a mesma campanha foi levada a efeito e até sugerida pelos próprios governos de alguns estados aos seus consumidores. As companhias de petróleo fizeram, sim, galhofa, porque sabiam que os consumidores não continuariam prejudicando a si mesmos, ao se recusarem a comprar gasolina. Segundo eles, não havia como sair da arapuca: “se o cidadão não comprar gasolina hoje, comprará mais amanhã”. Era mais uma inconveniência ao próprio consumidor, que um problema para os vendedores.
Analisemos mais cuidadosamente o que segue.
Um certo economista brasileiro, muito criativo e com bastante experiência em relações de comércio e leis de mercado, alinhavou algumas idéias e propôs um plano que realmente funciona. Ele observou que, como nas grandes conquistas, os consumidores brasileiros precisam, sim, de uma ação enérgica e agressiva contra as produtoras de petróleo e derivados. Nós somos milhões de compradores e, por conseguinte, a maioria, o que nos leva a poder controlar e ditar as regras do mercado. Eles têm o poder e têm a tolerância do Governo, mas são apenas os vendedores, que são, digamos, meia dúzia.
Com o preço da gasolina subindo mais a cada dia, nós, os consumidores, precisamos entrar rapidamente em ação e o único modo de fazer com que o preço da gasolina diminua é atingindo quem produz, isso, na parte mais sensível do corpo humano: o bolso.
Não compre mais a gasolina da BR Distribuidora!
É claro que dependemos dos nossos carros e não podemos deixar de comprar gasolina, diesel ou álcool. Mas nós podemos promover um impacto tão forte a ponto de os preços dos combustíveis virem a cair, se todos juntos agirmos para forçar uma guerra de preços entre os distribuidores. É assim que o mercado age! Isso é, na prática, a lei de mercado e concorrência.
Se nos próximos três meses – março, abril e maio, por exemplo – não com-prarmos combustível da principal fornecedora brasileira de derivados de petróleo, que é a Petrobras (postos BR), as vendas poderão sofrer uma queda gravíssima. Aí, a companhia estará inclinada e obrigada, por via de opção única, a reduzir os preços dos seus próprios produtos com a finalidade de recuperar o seu mercado que lhe foge das mãos.
Ao tomar tal atitude, as outras companhias (Equador, Shell, Ipiranga, Texaco…) terão que seguir o mesmo rumo e baixarão também os preços, para não sucumbirem economicamente e não perderem suas fatias de mercado.
Todavia, para haver um grande impacto, nós precisamos alcançar milhões de consumidores dos produtos Petrobras. Na prática, é realmente bem simples. Todos continuarão abastecendo e consumindo normalmente, mas com um detalhe. É preciso escolher qualquer outro posto e não se dirigir a nenhum BR (Petrobras).
Trata-se da maior companhia distribuidora hoje no Brasil e, conseqüentemente, com o maior poder sobre o mercado e os preços praticados.
Tal atitude coletiva, se colocada em prática por um quinto dos consumidores brasileiros de combustíveis Petrobras, terá os efeitos esperados e causará um impacto violento e de conseqüências devastadoras para o sonho dos multimilionários, sócios, diretores e donos da Petrobras Distribuidora.
* José Cláudio Mota Porfiro é escritor.