Patético, semanticamente, (Do lat. Patheticu), se refere há algo que move os afetos, comovente, sinistro, trágico, tocante. Assemelha-se ao Páthos (Do greg.) que significa: acontecimento, experiência, sofrimento, emoção, paixão, etc.
A história da palavra patética (o), além da especulação filosófica que aparece em dois sentidos diferentes, ora investigando o que acontece aos corpos, ora o que acontece às almas, está obscurecida por uma multiplicidade de conotações. Há a bizarrice patética:
Outro dia presenciei na TV um exemplo crasso de bizarrice patética: Um personagem do BBB10, chorando porque ia sair do programa e não tinha para onde ir…Patético! Tem coisa mais bizarra que discutir em mesa de bar, na igreja ou sei lá mais aonde, quem é o melhor jogador de futebol do mundo? Pior, que tem! Por exemplo, o músico Robbie Williams, achar maconha uma droga “agradável”. Alguns acusam o cantor inglês de irresponsável. Então, seria irresponsavelmente patético.
Contudo, patético tem seu lado sinistro. O sinistro patético é, por exemplo, a figura literal da realidade carcerária do sistema penal no Brasil. 40 homens dentro dum xadrez, de pequenas dimensões, Circunstância ou situação patética. Tem aquela do político que é governador da capital de um dos maiores países do mundo e estende as mãos para receber R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) de propina. Patético! Mais Patético do que isso é querer cortar a mão de um só ladrão, como queria uma multidão na Indonésia, quando sabemos que há, nos qua-drantes da terra, centenas de milhares de outros ladrões, dos mais diferentes níveis sociais. Sinistro!
Ademais, existe a banda hilária da questão. Como, por exemplo, essa pesquisa atribuída ao Dieese publicando que o salário mínimo necessário para atender às necessidades vitais básicas do cidadão e de sua família, como alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, etc. deveria ser de R$ 2.003,30. À luz da ótica dos governantes essa pesquisa é hilária. Patética!
Realidade patética é, ainda, esse consumismo que nos destrói a nós todos, produto duma sociedade que não tem tempo para pensar suas ações e se deixa corromper por toda sorte de enredos. Pensar o quê, idiota? Diria o leitor iracundo. Calma: Primeiro este escre-vinhador já foi submetido a teste e, se comprovou possuir QI um pouquinho acima de idiota. É verdade que, em longo dos seus mais de 60 anos, cometeu muitas atitudes imbecis, mas idiota, não! Segundo, é sim necessário um mínimo de cogito diante dessa realidade patética; uma vez que mesmo estando para lá da era cibernética, o homem, a sociedade ou o mundo continua carente de mudanças na estrutura social. Significa dizer que apesar do avanço tecnológico, científico e das grandes realizações, notadamente, no mundo urbano, o homem, enquanto sociedade é um brucutu em questões e formas de sociabilidade.
A comprovação dessa afirmação, que deveria ser só uma assertiva pessimista, dum pessimista de carteirinha infelizmente é um fato que pode ser comprovado pelo comportamento das pessoas, principalmente, no trânsito. Antes de falar na trágica, sinistra e comovente realidade do trânsito, deixa-me dizer que nesta questão de pessimismo eu ando bem acompanhado: Lygia Fagundes Telles e José Saramago (Prêmio Nobel) são entre outros dois belos pessimistas. Mas, é no trânsito das pequenas e grandes urbes, que o nosso lado assoberbado transparece de maneira mais aviltante. No trânsito sobressai o nosso lado colérico, iracundo, irritadiço, gaiato, irresponsável, legalista e, sem exceção, apressado. É no trânsito que a realidade se torna exa-cerbadamente patética. O sinistro dessa realidade patética no trânsito é que ele tem sozinho, ceifado mais vidas do que as duas grandes guerras mundiais. Patético!
A sociedade, aos olhos de qualquer leigo, na hipótese de ser comparada a um edifício, está com sua base, inteiramente comprometida, produto duma arquitetura confusa e, por conseguinte, necessitando de indispensáveis reparos, sob pena de desabar a qualquer hora. No entanto, dizem os sociólogos, é preciso que se dê um desconto para esses males, uma vez que a sociedade não foi organizada por legisladores filósofos, sociólogos ou teólogos, com base em princí-pios certos. A sociedade não é produto da lógica, com suas regras de silogismo, mas da história; é o trabalho contínuo das gerações, de acordo com múltiplas necessidades sempre em mudança. Por essa razão, suas bases são arbitrárias e, por serem arbitrárias: Patéticas!
Assim, de vida em vida, deixamos o estágio de vidas secas (Graciliano Ramos) para alcançar o patamar de vidas patéticas (realismo pós-moderno). Vidas inúteis. Como inútil e patético é este artigo.
* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador (de gabinete) em Filosofia e Ciências da Religião.E-mail: assisprof@yahoo.com.br