Como a experiência de desenvolvimento sustentável colocada em prática há 12 anos no Acre pode contribuir para o equilíbrio ambiental do planeta? A pergunta foi respondida pelo governador Binho Marques e o ex-governador e presidente do Fórum de Desenvolvimento Sustentável do Acre, Jorge Viana, que falaram para uma platéia de mais de 250 convidados, entre alunos, professores, pesquisadores e cientistas, durante uma conferência no Centro David Rockfeller de Estudos Latino-Americanos, da Universidade de Harvard, nos EUA.
A palestra realizada na tarde de ontem, 10, surgiu a partir de um convide dos coordenadores do próprio Centro de estudo. Binho Marques e Jorge Viana se revezaram numa apresentação de 30 minutos cada, e mostraram como um Estado como o Acre, que apresenta grandes condições para a exploração, pôde desenvolver uma experiência bem sucedida e se tornar uma referência de sustentabilidade no planeta. Uma política ambiental que chamou a atenção de gestores e líderes políticos do mundo durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), e em outros encontros com representantes internacionais no qual o governador tem sido convidado a participar.
Binho Marques mostrou com fatos históricos que o atual cenário ambiental do Acre só foi possível ser consolidado graças a uma história de resistência e de luta, com movimentos como os empates, liderados por seringueiros, entre eles, Chico Mendes. Em um Estado com condições geográficas e históricas favoráveis ao desmatamento e ocupação irregular de terras para a expansão da pecuária, conseguir manter um índice de 88% de cobertura florestal preservados exigiu uma escolha. Há 12 anos, a eleição de um governo estadual que tinha e tem raízes no movimento social organizado garantiu a continuidade desse projeto de desenvolvimento sustentável que vinha sendo construído desde o início dos anos 80. A valorização de políticas como o ProAcre (um projeto do Governo do Estado de US$ 150 milhões para levar saúde, educação e apoio à produção sustentável para as comunidades mais isoladas do Acre) é o exemplo disso.
A ousadia de buscar uma política de desenvolvimento nova, que valoriza os povos da floresta ao mesmo tempo em que promove a preservação dos recursos naturais não é uma tarefa fácil, mas o Acre dá o exemplo. Nos últimos dez anos, aumentou o PIB per capita de 4.700 para 8.700 dólares, enquanto o índice de desmatamento caiu 83%, passando de 107.800 hectares em 2003, para 18.300 hectares em 2007.
No Acre, ribeirinhos, índios, extrativistas e moradores das cidades levam estilos de vidas diferentes, mas independente do lugar onde estejam todos possuem uma forte identidade com a floresta e seus recursos naturais.
Para Binho Marques, qualquer solução para o equilíbrio ambiental do planeta passa pela proteção da floresta. E hoje, no Brasil, o Estado que tem um projeto amadurecido nessa área é o Acre com uma gestão ambiental que promove a implementação de políticas sustentáveis para o combate ao uso indiscriminado do fogo, como técnica de produção e, consequentemente, a redução na emissão de CO², ao mesmo em tempo em que consolida oportunidades de geração de renda a partir da floresta, garantindo a inclusão de quem vive nela.
O Programa Floresta Digital foi um dos destaques da apresentação de Binho Marques. Para ele, a política de inclusão digital no Acre associa o acesso ao que existe de mais moderno em termos de tecnologia da informação à preservação da floresta. O governador acredita que o conhecimento, a formação, o acesso às novas tecnologias são elementos fundamentais para a preservação da floresta.
Já o ex-governador e presidente do Fórum de Desenvolvimento Sustentável do Acre, Jorge Viana, falou sobre o projeto de governo da Frente Popular, com sua história que também foi fundamental para o sucesso dessa gestão.
Em seu discurso, Jorge Viana fez questão de lembrar a situação de descaso e destruição no qual o Acre se encontrava há 12 anos. Para ele, a situação em que o Acre se encontra hoje é fruto de uma combinação positiva de fatores: um projeto político de alta responsabilidade, uma frente partidária que dá sustentação e uma equipe técnica que leva a efeito um projeto construído a muitas mãos com a ajuda de toda sociedade.
Um exemplo disso é o ZEE – Zoneamento Ecológio Econômico, que foi construído em forma de pacto com todos os setores organizados da sociedade e não como uma lei imposta de cima para baixo pelo Governo do Estado.
O ex-governador do Acre falou ainda da emoção de ter voltado ao Rio Juruá, por onde andou tantas vezes, e ter encontrado tanta gente sabendo ler e escrever por força do projeto educacional que tirou o Acre da última colocação em 2008 para ser hoje um dos dez melhores sistemas de ensino públicos do país.
Na mesa com o governador Binho Marques e o ex-governador Jorge Viana também estavam dois professores renomados da Universidade de Harvard. São ele Roberto Mangabeira Unger, ex-ministro das relações estratégicas do presidente Lula e John Briscoe, professor e pesquisador da Universidade da Flórida e também ligado ao Centro de Estudos da América Latina. Os debatedores, Roberto Mangabeira Unger e John Briscoe tiveram, cada um, 10 minutos para comentar as palestras, e em seguida, o encontro foi aberto para os presentes para perguntas e considerações.
Sobre o Centro David Harvard Rockfeller
Fundado em 1994, o Centro David Harvard Rockefeller de Estudos Latino-Americano (DRCLAS) trabalha para aumentar o conhecimento das culturas, economias, histórias, meio ambiente e assuntos contemporâneos do passado e do presente da América Latina. A sede do Centro, local onde Binho e Jorge Viana participam da Conferência, está localizada em Cambridge, Massachusetts, na Universidade de Harvard. Mas, o DRCLAS também tem escritórios no Brasil e no Chile.
A política ambiental do Acre para o mundo
A Conferência realizada na Universidade de Harvard é mais um exemplo de como a política ambiental do Acre e seus resultados têm despertado a atenção e o interesse de pesquisadores e lideranças do mundo inteiro, avalia o secretário de Meio Ambiente, Eufran Amaral. Somente no ano passado, o governador Binho Marques foi convidado a participar de um seminário organizado pelo Príncipe Charles, na Inglaterra; do encontro de Governadores na Califórnia; de um encontro organizado pelo Banco Mundial em Washington; além da importante participação durante a Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (COP-15), em Copenhague, onde as lideranças acreanas puderam apresentar um pouco dessa trajetória. O suficiente para conquistar novos interessados nesse projeto.
O incentivo para combate ao desmatamento, por exemplo, coloca o Acre em uma posição privilegiada na geração de créditos de carbono, que futuramente poderão ser comercializados dentro desse mercado que se projeta internacionalmente. Neste contexto, o governador Binho Marques e o senador Tião Viana, foram convidados recentemente para participarem da Cúpula sobre Financiamento de Carbono Florestal, realizada em Washington.
O parlamentar representou o Estado apresentando os bons resultados do Acre na política ambiental, com investimentos para a conservação e combate ao desmatamento. (Agência Acre)