A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) criticou o que chamou de “tentativa de alguns setores da imprensa” de atribuir o assassinato do cartunista Glauco Villas Boas, ocorrido no dia 12 deste mês, ao uso do chá de ayahuasca, bebida usada no ritual do santo daime. De acordo com a deputada, o crime contra Glauco foi “uma atrocidade sem precedentes na comunidade ayahuasqueira” e, de “forma vil” tentaram fazer do réu uma vítima, e transformar a vítima em culpado por sua própria morte. Glauco – que fundou em Osasco a comunidade “Céu de Maria”, onde o daime é utilizado – foi assassinado junto com seu filho, Raoni, por Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, um ex-adepto do centro religioso.
“Quando a própria família do Glauco afirma de forma incisiva que o algoz que lhe tirou a vida tinha perturbações comportamentais, e que não frequentava mais a comunidade assiduamente, aprofunda a tese que não há influência do chá nas atitudes extremadas que influíram no assassinato”, disse a deputada.
Ela cobrou a realização de um estudo acadêmico para que autoridades científicas e médicas se posicionem sobre o assunto e conheçam as características e influências que a bebida causa nos usuários. Segundo Perpétua, as comunidades do Alto Santo, da Barquinha e da União do Vegetal -centros religiosos do daime – não pretendem oferecer qualquer resistência ou contrariedade a cientistas interessados em fazer estudos. Para fortalecer seus argumentos, Perpétua Almeida lembrou que a Suprema Corte dos Estados Unidos aprovou por unanimidade a liberação da ayahuasca no país.
“Essa decisão é uma contestação irrefutável do quanto é certa a postura do governo brasileiro, do quanto é certa a postura das pessoas comprometidas com o uso da ayahuasca em suas práticas religiosas”, sustentou.
A deputada lembrou que pediu ao Ministério da Cultura, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que reconheça o uso da ayahuasca em rituais religiosos como patrimônio imaterial da cultura brasileira. “Esse reconhecimento, com o devido respeito e defesa de todas as práticas de outras religiões, é uma demonstração de que esse Brasil é de todos. Sendo esse o mote e a política de governo implementada pelo presidente Lula, nós temos o dever de também reconhecer a religião da floresta como uma prática cultural nascida no nosso país”, ressaltou.
Para a deputada, não é possível permitir a criminalização de uma prática religiosa que seria uma manifestação “genuinamente” brasileira. Na avaliação de Perpétua Almeida, a resolução do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas está certa quando determina que se deve “garantir que a bebida sagrada não seja comercializada, seja usada estritamente em rituais religiosos e não seja misturada com outras substâncias proscritas”.
Armando Nogueira – Em seu discurso, Perpétua Almeida também lamentou a morte do jornalista Armando Nogueira, ocorrida segunda-feira (29), no Rio de Janeiro. “Armando Nogueira revolucionou o esporte brasileiro”, disse a deputada, lembrando que o jornalista e escritor nasceu no Acre. (Assessoria)