Na última terça-feira às 9 horas no Plenário da Assembléia Legislativa de Rondônia foi realizada uma Audiência Pública com a participação de deputados federais e estaduais, coordenador da Funasa-RO, grande número de servidores da Funasa de todo o Estado e Comitiva de 44 servidores da Funasa-AC, para debaterem sobre a contaminação por intoxicação que o DDT vem causando em todos os ex e atuais servidores da Funasa (ex-Sucam). O evento contou com a participação, por sinal, a mais esperada, da professora Dra. Heloisa Pacheco Ferreira, médica especialista em Neurotoxicologia, Diretora do Instituto de Estudos em Saúde Pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Aberta a audiência os deputados federais e estaduais, coordenador da Funasa-RO e sindicalistas da Sindsep-Ro, discorreram sobre a aplicação do DDT, seus efeitos sobre o combate à malária e suas causas nocivas aos agentes trabalhadores responsáveis pela dedetização da residências em todo o estado os quais estão apresentado os mais diversos sintomas de doenças, com freqüentes óbitos, tendo sido solicitado um minuto de silêncio pelas recentes mortes de dois servidores na última semana no interior do Estado. A audiência foi fortalecida pela presença da comitiva dos servidores da Funasa-AC que vestiam uma camisa vermelha com o slogan “Comitiva do DDT – luta pela vida”, com patrocínio do Sindsep-Ac, representada pela Comissão em Defesa da Vida, na pessoa do servidor Aldo Moura, que disse da importância da au-diência, pois assim, os servidores da Funasa-RO juntavam-se aos colegas do Acre e de todo o Brasil em lutarem pelo direito a vida, hoje negada pelo Poder Central, que simplesmente não cumpre com o que estabelece a Constituição Federal em defesa da vida.
Sabe-se que através de vários estudos e teses de doutorados e mesmo antes já devidamente comprovado pela pesquisadora norte americana Dra Raquel Carson, quando em 1962, publicou o livro “Primavera Silenciosa”, já afirmara que o DDT era causador de grande mortandade de seres vivos de cadeia alimentar, em especial as aves, sendo o livro considerado a primeira manifestação ecológica contra o uso indiscriminado do DDT em todo o planeta, com recomendações posteriores de suspensão do produto pela própria OMS (Organização Mundial de Saúde). Tudo porque o DDT, que foi descoberto em 1939, pelo entomologista suíço Paul Müller, que lhe valeu o Prêmio Nobel da Medicina, mas, que omitiu ou não quis dizer os reais efeitos nocivos do pesticida contra os animais e seres humanos, tanto que hoje depois de tantas mortes e seqüelas deixadas, foi suspenso em todo o mundo, abolido na Suécia em 1970, nos EE.UU em 1972 e no Brasil somente em 1998. As pesquisas registraram que “os pesticidas organoclorados, entre os quais se inclui o DDT atuam sobre o sistema nervoso centra, resultando em alterações de comportamento, distúrbios sensoriais, do equilíbrio, da atividade da musculatura involuntária e depressão dos centros vitais, particularmente da respiração. Os efeitos do DDT no organismo ocorrem depois de atua-rem sobre o equilíbrio de sódio/potássio nas membranas dos axônios, provocando impulsos nervosos constantes, que levam à contração muscular, convulsões, paralisia e morte.
A intoxicação aguda nos seres humanos caracteriza-se por cloracnes, na pele, e por sintomas inespecíficos, como dor de cabeça, tonturas, convulsões, insuficiência respiratória e até morte, dependendo da dose e do tempo de exposição. Em casos de intoxicação aguda, após 2 h surgem os sintomas neurológicos de hiperexcitabilidade, parestesia na língua, lábios e membros inferiores, desconforto, desorientação, fotofobia, cefaléias persistentes, fraqueza, vertigem, alterações de equilíbrio, tremores, ataxia, convulsões tônico-crônicas, depressão central severa, coma e morte. Os sintomas específicos podem ocorrer em caso de inalação ou absorção respiratória, como tosse, rouquidão, edema pulmonar, irritação laringotraqueal, rinorréia, bradipnéia, hipertensão e broncopneumonia (esta última uma complicação freqüente). As manifestações crônicas consistem em neuropatias periféricas, incluindo paralisias, discracias sangüineas diversas que podem até ser conseqüências de aplasia medular, lesões hepáticas com alteração das enzimas transaminases e fosfatas alcalina, lesões renais e arritmias.
O momento mais esperado da audiência foi pela exposição da pesquisadora Dra Heloísa Pacheco, que não só confirmou a infinidade de sintomas ocasionados pela intoxicação do DDT, acima mencionados, mas, salientou sua preocupação em que o Poder central, através da Funasa tenta confundir o problema causado pelo DDT nos servidores que apresentam todo tipo de sintomas, não reconhecido pela classe médica, considerando-se, pois, não se fazer necessário buscar mais provas, pois, a maior está na frente que são os sintomas apresentado por cada servidor da Funasa, inclusive pelo numero de óbitos já registrados. Afirmou ainda, que a complexidade da cura é por que quando o DDT está no organismo humano, interfere na atuação dos diversos medicamentos aplicados na busca de tratamentos de determinadas doenças e que a classe médica, conforme a especialidade, por não conhecer com profundidade a implicação causada pelo DDT não se sente encorajado para atribuir a causa da morte pela contaminação do pesticida, observação esta comentada anteriormente por vários deputados. Disse ainda que acompanha há 12 anos funcionários que lidam com DDT e outros inseticidas e comprovou que há absorção oral, respiratória e dérmica do produto com efeitos danosos para o organismo humano, tornando baixa a imunidade, facilitando,portanto, o surgimento de várias doenças. A médica, depois de discorrer temas e sintomas sobre os efeitos do DDT, recomendou que a Funasa afaste de imediato todos os servidores que fizeram exames ou que sintam sintomas relevantes aos problemas de saúde, de forma a evitar maiores conseqüências.
Foi muito aplaudida pelo conhecimento científico, pela explanação e pela coerência de seu trabalho. A audiência foi encerrada formando-se uma comissão de deputados, sindicalistas e servidores, já sendo marcada para o final da tarde uma audiência com o governador daquele Estado na busca de solução do problema. Enquanto isso aqui no Acre, o atendimento aos servidores contaminados pelo DDT, continua sendo realizado através da Fundhacre, bem a frente dos demais estados, mas, tudo graças a atuação do Ministério Público Federal e Justiça Federal que reconheceram a causa justa e verdadeira dos servidores, dos quais muitos já foram a óbito. Mesmo assim, a Comissão em Defesa da Vida não perde tempo e está realizando uma pesquisa com todos os ex, aposentados e atuais servidores e também junto às famílias dos que morreram, levantando todos os sintomas e problemas de saúde, de forma a fundamentar a problemática e exaustiva discussão sobre a intoxicação pelo DDT, comprovando-os junto aos poderes constituídos e exigindo reparação de danos à vida, pela omissão e irresponsabilidade do poder central, em expor o ser humano especialmente seus agentes ao risco de morte, isto por que já sabia que o produto já tinha sido suspenso nos países de primeiro mundo. Enquanto não se cumpre a Constituição, muitos ex e atuais servidores já bastante afetados pela intoxicação do DDT, sem cura, já estão no corredor da morte, inclusive este articulista. Enquanto corremos atrás do prejuízo, digo, da saúde, brincamos uns com os outros colegas e afirmamos:¨vamos viver a vida, enquanto a morte súbita pelo DDT não chega”.
* Emir Mendonça é especialista em Educação, aposentado e ex-inspetor geral de Endemias da Sucam.