Pelo menos três crianças teriam morrido de forma miste-riosa na Maternidade e Clínica de Mulheres Bárbara Heliodora, após a inauguração da nova sede. Duas delas num único final de semana. A denúncia parte de amigos e familiares das vítimas que foram ao Centro da cidade ontem protestar e exigir providências por parte das autoridades.
O protesto aconteceu no Senadinho, nas primeiras horas da manhã. “O que eu vi ali dentro foi triste demais. Sei que nada vai trazer o meu neto de volta, mas a minha intenção é evitar que outras crianças morram nas mesmas circunstân-cias”, desabafou Socorro Tavares, avó de Samuel Tavares, primeira criança a falecer.
Ela acredita que a demora no atendimento da filha, Sainora Tavares, e a ausência de uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) foram determinantes para o desfecho trágico do caso. “Meu neto passou da hora de nascer, é tanto que já nasceu todo roxo. Mesmo assim nasceu vivo, mas não tinha UTI para ele na nova maternidade e tiveram que transferi-lo para o Hospital Santa Juliana, mas já era tarde mais”, disse.
Maria Margarida Gonçalves Ferreira Rebouças, 58 anos, também esteve presente a manifestação. Ela tinha acabado de enterrar a neta Letícia. A menina nasceu prematura e morreu 17 dias depois. Suspeitando de negligência a família registrou queixa na Delegacia da Mulher e o corpo só foi enterrado ontem após passar por autopsia no Instituto Médico Legal.
Impossibilidade de participar do protesto em virtude da saúde debilitada, a mãe da pequena Letícia, Antônia Lenilda, 30 anos, era o retrato do desespero. “Minha filha estava bem, depois eles chegam pra mim e dizem que ela morreu de pneumonia. Sem falar ainda das manchas roxas e das fraturas que ela apresentava”, declarou.
De acordo com Antônia Lenilda a terceira vítima também era do sexo feminino e morreu no mesmo dia que a filha dela. “Eles não tem o direito de nos tratar assim. Letícia era a minha primeira filha, gerada e esperada com muito amor, agora ela não está mais aqui”, disse entristecida.
Os familiares das crianças mortas prometem levar os casos ao conhecimento do Conselho Regional de Medicina (CRM) e ao Ministério Público Estadual. Eles querem que as mortes sejam investigadas com rigor de forma a ser esclarecido se houve ou não negligência por parte da clínica.
Nota de Esclarecimento – Secretaria de Saúde
Ao mesmo tempo em que se solidariza com a família da criança que nasceu pré-matura dia 2 de abril no Hospital Santa Juliana e faleceu dia 18 de abril na UTI da Maternidade, a direção do Hospital da Criança esclarece:
1. O bebê nasceu prematuramente (com 33 semanas de gestação) no dia 2 de abril de 2010, de parto cesareano, no Hospital Santa Juliana. Embora apresentasse condições regulares de vitalidade, o bebê nasceu com infecção adquirida ainda no útero ou no canal de parto, agravada com desconforto respiratório, causa mais freqüente de nascimento de crianças prematuras. Neste momento foi explicado a mãe a grave condição de saúde do recém-nascido prematuro e todo o procedimento adotado no tratamento;
2. O recém-nascido permaneceu por 5 dias internado no Hospital Santa Juliana, fazendo uso de antibióticos, sendo transferido para a UTI Neonatal da Maternidade Bárbara Heliodora, devido à gravidade do quadro clínico;
3. Todos os procedimentos clínicos foram adotados inclusive com a substituição de antibióticos tendo como parâmetro os exames clínicos e laboratoriais realizados diariamente;
4. O recém-nascido evoluiu com piora clínica importante no dia 17 abril e evoluiu para o óbito na manhã do dia 18 de abril;
5. Durante o período de internamento, foram realizados oito exames de radiologia (Rx), nenhum deles apresentou sinais de fratura;
6. As “manchas roxas” identificadas foram em decorrência do baixo número de plaquetas (mesmo após ter recebido transfusão sanguínea), que aumentam a probabilidade de sangramentos pelo corpo;
7. Durante todo o período de internamento a família foi informada da condição de gravidade do recém-nascido;
8. Não houve contato da equipe da reportagem com a direção desta unidade com o objetivo de esclarecimento dos fatos;
9. Por fim, informamos que toda documentação com relação ao fato está disponível aos familiares e que cópia dos documentos foram enviadas ao Conselho Regio-nal de Medicina do Acre para apuração, procedimento padrão das unidades de saúde do Estado.
Rio Branco 20 de abril de 2010.
Mário Marcelo Gonçalves Pinto
Pediatra-Neonatologista – Chefe do Serviço de Pediatria
Edvaldo Amorim de Souza
Diretor Técnico Assistencial do SASMC
Lorena Elizabeth Rojas Seguel
Diretora Geral do SASMC