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O decisivo voto dos pobres despojados

Recente pesquisa atribuída ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) aponta que a America Latina é considerada a região mais desigual do mundo, pois abriga dez dos 15 países com maiores diferenças entre ricos e pobres do mundo. Segundo a pesquisa, o Brasil esta entre os países mais desiguais. Embora tenha havido crescimento econômico nos últimos anos na América Latina, notadamente no Brasil, continua a existir uma persistente desigualdade que “precisa ser atacada e reduzida, caso contrário haverá erosão da coesão social e a destruição das instituições democráticas” diz Heraldo Muñoz,  diretor regional do programa da ONU para América Latina e Caribe.

No Brasil, campeão de desigualdades, temas sobre a fome e a miséria, que assolam os quatro cantos da nossa nação, só não ocupam diariamente os frontispício dos jornais e as principais manchetes dos tele-jornais porque nós, consumidores de notícias, somos ávidos por novidades e exigimos assuntos novos. Mas, ela a miséria, produto de desigualdades regionais, está aí, para quem quiser comprovar.

Muitas são as falácias, erros de argumentação, sobre as causas da fome e da miséria, entretanto de uma coisa tenho plena convicção: a partir das sociedades industriais, sabemos que a pobreza, geradora de fome e miséria, não é um fenômeno natural, um castigo da natureza ou da providência divina, mas o resultado da ignorância e da exploração humanas. As políticas de ataque à pobreza estão estagnadas. Um especialista no assunto diz que “As políticas para reduzir a elevada desigualdade devem chegar às pes-soas, contemplar o conjunto de restrições que perpetuam a pobreza e a desigualdade, e as pessoas devem ser agentes de seu próprio desenvolvimento”. Para o povão que entende, quando muito, de futebol e novelas da Globo, tal assertiva, extremamente técnica, feita de propósito para renomados economistas, é inócua!

Os pobres esbulhados e estigmatizados, pelos marqueteiros de políticos profissionais, como pessoas que estão oscilando entre as classes C e D, na hierarquia social dos mais pobres, são pessoas que estão “vivendo” em condições econômicas desesperadoras. Pontificam nesta classe as crianças abandonadas; os adultos que vivem e mendigam pelas ruas; as famílias que “moram” debaixo de pontes, palafitas e cafundós e outras localidades sem a menor infra-estrutura, como: água encanada; luz elétrica; esgotos, etc; pobres inditosos que são constrangidos a conviver com jacarés, cobras, mosquitos da dengue e outros bichos; isso para só falar da realidade do Norte do Brasil.

O lado cruel é que estas localidades servem de verdadeiras cafuas, esconderijos, antros de marginais agregados aos crimes de estupro, atos terroristas, assaltos, drogas e prostituição generalizada. Os pobres despojados da falta de programas de inclusão social (educação, saúde, emprego, habitação, segurança, etc.), além da alcunha de escória da sociedade, são taxados de invasores de propriedades alheias (edifícios, conjuntos habitacionais inacabados, etc.); assim, o nível de vida deles assemelha-se a de alguns animais irracionais. Os pobres despojados, que mendigam pelas ruas, por arquétipo, são um incômodo para comerciantes e alvos de brincadeiras pesadas, que às vezes dá em morte, por parte de grupos de jovens, de boa família, mas irresponsáveis e anarquistas. Estão totalmente vulneráveis, em termos de segurança, e privados de mínimas condições de sobrevivência.

O incrível, por mais estranho que possa parecer, é que estes inditosos farão a diferença nas eleições de 3 de outubro, colocando sobre os ombros de quem for eleito, notadamente do Presidente da República, a responsabilidade em fazer realçar uma política de combate à pobreza, orientada pelo menos em princípios fundamentais, que no dizer do professor Pedro Demo, são: o direito radical de assistência para garantir a sobrevivência; o direito de inserção no mercado, para que possa existir auto-sustentação; e o direito de cidadania, para que possa ocorrer emancipação. Enquanto estas medidas não chegam aos pobres despojados, o Brasil continua como testemunha do fracasso de tentativas paliativas, fruto de um capitalismo ufanista, para remover a discrepância existente entre uns poucos privile-giados, que tudo possuem, e os despojados, para não dizer desesperançados, sem nada possuir; desesperançados em função da falta de políticas públicas por parte de quem de direito. 

Deste modo, cansados de promessas demagógicas, como foi dito acima, os pobres despojados, só não perderam a esperança total, porque crêem em Deus, a quem invocam invariavelmente em postura genufle-xa. “Se Deus quiser, saímos desta!”, rezam de forma quase uníssona, em face das adversidades da vida. 

* Francisco Assis dos Santos rofessor é pesquisador  bibliográfico em Filosofia e Ciências da Religião. E-mail: assisprof@yahoo. com.br

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