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Brasil: saneamento básico

O conceito que eu tenho da Rede Globo de Televisão no campo da cultura de entretenimento é zero à esquerda. Contudo as reportagens sobre a qualidade de vida da região Norte do Brasil, notadamente quando o assunto é saneamento básico, aproxima-se da verdade, não há como negar!

Mais da metade da população brasileira ainda não tem acesso a saneamento básico no Brasil, pelo menos é  o que revelou uma pesquisa feita há dois anos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com o Instituto Trata Brasil. Todavia, nesta mesma pesquisa, chama atenção os investimentos consideráveis, em direção ao problema, advindos do setor público desde a implantação do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Entretanto para universali-zar o serviço, são ou “seriam necessários CINCO  PACs” avalia um especialista no assunto.  Então, não adianta chorar, uma vez que o índice apontando que mais de 50% dos brasileiros não tem saneamento básico é, além de preocupante, alarmante. Também  de nada adianta culpar este ou aquele governo ou governante, o problema surge em função de uma alta demanda  ou déficit habitacional  que é  agravada por uma tal e imoral especulação imobiliária que assola o país. Aqui mesmo em Rio Branco a toda hora espocam novos bairros seja via invasão ou através de loteamentos, muitos destes ilegais e sem o menor planejamento.  Sendo assim, não se pode falar em qualidade de vida sem que se resolvam  questões cruciais, de difícil solução, como é o caso da ocupação ilegal por habitações populares. Mas, como conter a demanda? Como conter a massa?

No outro polo, estatísticas revelam,  há em todo o país, apenas 31%  que “vivem” com até meio salário mínimo de renda familiar per capita habitando em residências com serviços de saneamento básico adequados, em detrimento da maioria dos que não dispõem de água encanada, esgoto e coleta de lixo.  Essa era a realidade trágica e humilhante, de tempos idos que, infelizmente, perdura nos dias de hoje.

O saneamento básico em nível de Norte do Brasil, para não falar do Nordeste e de outras regiões carentes, apesar dos esforços de alguns homens públicos sérios no cumprimento do dever, foi sempre caótico. Poucos governantes, estadual ou municipal, se lançam na árdua tarefa de programar e dotar bairros emergentes (periféricos) de condições higiênicas, habitáveis e respiráveis. Mesmo o sistema de esgoto do centro das cidades, que quase constantemente exalam fedentina, diante de qualquer chuva tem o seu funcionamento seriamente comprometido. As medidas de saneamento básico em prol dessas cidades, quando surgem, são paliativas. Não dá voto, dizem eles!

Com essa práxis (conjunto de práticas) os maus governantes, com algumas exceções permitiram que os igarapés, outra fonte de boa qualidade de vida, que fluíam nas principais capitais do Norte, numa beleza ímpar, fossem contaminados por toda sorte de sujidade oriundos dos mais diferentes segmentos da so-ciedade. Incluem-se aí os moradores de palafitas, erguidas em longo dos igarapés assim como a maioria dos conjuntos de classe média que despejam seus dejetos fisiológicos nos esteiros, contribuindo para a excrescência do problema. 

Os igarapés, alguns até denominados de balneários, sinônimos de qualidade, pois, que serviam de lazer e entretenimento aos cidadãos comuns, foram qusase na sua totalidade destruídos, é preciso que se diga, em nome do “moderno”. Em Manaus, cidade onde fui criado e vivi por  longos anos, aí pelas décadas de 60 e 70, haviam bons  igarapés:  do 40, da ponte da Bolívia, da ponte dos franceses, do parque 10 de novembro, entre outros. Hoje, dos que restaram, todos, estão poluídos e abandonados. Em Boa Vista, Roraima, o igarapé  “mirandinha” sucumbiu diante do descaso administrativo de governos comprometidos com o fisiologismo, em detrimento do bem-estar do povo. Rio Branco, também, tem suas seqüelas, bem conhecidas de todos que aqui vivem e labutam. Não dá para deixar de ver a agonia dos que vivem em cafuas na periferia da cidade. Temos deficiências estruturais de proporções consideráveis, agravadas pela negligência dos não poucos pseudo-s cidadãos. Fazer o quê?

Sobre os igarapés São Francisco e Judia, que cortam a cidade de Rio Branco, na hipótese de não ser mais possível sanear grande parte deles, urge medidas, por quem de direito, na contenção de futuras poluições, ocasionadas por grande parte da população que ainda não aprendeu que o bem-estar de todos muito depende dos nossos igarapés. Tais cuidados  trarão, com certeza, melhor qualidade de vida para os que vivem nas adjacências. Resgatará uma grande dívida da sociedade com estes esteiros, fruto da bondade da natureza; alegrará os corações dos mais antigos, que no passado na condição de moleques travessos, no bom sentido, se compraziam nas águas límpidas e prazerosas dos citados igarapés; já que não é só suficiente preservar a floresta, os rios do grande vale amazônico, e deixar  morrer os igarapés “urbanos” vizinhos nossos, pois eles são, também, nascente de qualidade de vida.

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador  biblio-gráfico em Filosofia e Ciências da Religião.E-mail: assis prof@yahoo.com.br

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