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Sabemos quem são

Continuo vendo nas eleições acreanas de 2010 as características que identifiquei nas anteriores, de 1998 para cá. De um lado votam, predominantemente, aqueles que nos anos setenta foram ameaçados em conflitos fundiários e, ao resistirem, assumiram o pronome pessoal “nós” (no plural) como identificação de movimento. Do outro, enfileiram-se os agressores da natureza, forâneos ou não, que aspiram dominar o Acre para enriquecer com a derrubada da floresta. Com “eles” estão os espertos de todas as épocas e as “viúvas” do atraso político.

Percebe-se no processo uma mistura de conceitos e sentimentos, bem como interesses e ambições que tornam mais complexo o desenvolvimento desejado, com democracia e sustentabilidade. Até esta última palavra perde significado, é mal compreendida pelos dois lados aumentando a confusão. Como testemunha desses acontecimentos, eu faço minha escolha aplicando o que resta de ideologia e identidade nestes tempos apressados e de transformação nem sempre desejável: voto em “nós”, até quando for possível sustentar a utopia da florestania.

Feita a introdução, vou direto ao assunto: os detratores do candidato ao Senado pela Frente Popular, Jorge Viana (PT), me parecem suspeitos. Porque eles agridem, sobretudo, a sociedade acreana. São desrespeitosos com quem mantém o candidato com poder político crescente. Afinal, o ex-governador é o principal artífice da Frente Popular do Acre e representa o que foi possível salvar de nossa identidade. Isso nos custa muito caro.

Quando Jorge Viana diz, no horário gratuito pela televisão, que não vai responder às provocações porque não lhe convém perder tempo em bate-boca com “inimigos do Acre” ele está cheio de razão. E “nós” o aplaudimos com parte dessa razão. Pode ser que eleitores mais jovens, por não terem referências históricas sobre um passado recente, possam ser atraídos por um ou outro discurso farsante. Mas não creio que estejam desarmados ao ponto de serem enganados por quem fala a linguagem dos que colocaram e tentam colocar, ainda, o Estado em situação de perda: de sua história, seu ambiente, sua cultura e seus mais elementares meios de sobrevivência construí-dos a ferro e fogo. 

Ou seja: é inimaginável que os jovens não possam identificar os agressores de sua própria história.

Maior dificuldade tiveram os trabalhadores da floresta, que precisaram enfrentar inimigos perigosos, sozinhos no começo e sem poder político. No entanto, eles fizeram os “empates” e ainda criaram o Partido dos Trabalhadores que conduz hoje, com a ajuda de outros partidos, o Acre com desenvolvimento adequado às suas tradições. Graças a essa resistência que se alimenta de conquistas e sonhos, o Acre se prepara para vencer outro grande desafio: encontrar caminhos novos trabalhando a idéia de produzir com preservação do ambiente.

É isso que o Governo da Floresta vem fazendo, infelizmente, com pouca visibilidade, embora a falta de visibilidade não deva ser desculpa para o eleitor favorecer, com seu voto, políticos que não ajudem construir uma sociedade melhor para as atuais e futuras gerações. O balanço da luta acreana com sua identidade é otimista. Não se tem mais seringueiros ameaçados por patrões, jagunços ou pela Polícia do Estado, desde que se tornaram autônomos conquistando, em seguida, o direito de permanecerem na sua colocação. Agora discutem planos comunitários de manejo, madeireiro ou não, e começam contar com educação, projetos de saúde, estradas e tecnologia simplificada, entre outras melhorias.  Tal qual acontece com as 14 etnias indígenas, que resgatam seus rituais e organização com apoio dos não índios, algo impensável em outros tempos.

Os inimigos do Acre também conquistaram regalias, e permanecem usufruindo a hospitalidade acreana, que fingem respeitar. Na verdade, eles odeiam a floresta em pé e choram com o fechamento de serrarias ilegais. Basta prestar bem atenção quando falam de “sustentabilidade” com a boca torta, o olhar torto, com o espírito torto também, transparecendo que a diferença entre nós e eles é enorme!

 

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