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O bom e o mau professor

O sistema educacional convencionou separar a profissão de professor em duas categorias: o bom e o mau.

É considerado bom professor aquele que cumpre com zelo e responsabilidade as suas obrigações. Ele é o sonho de toda direção de escola. Faz todos os planejamentos e capacitações que lhe mandam, não falta nunca e cumpre os horários rigorosamente.

Convencionou-se designar de “mau professor” aquele que é, aparentemente, desleixado e irresponsável. Tachado de problemático, não participa dos planejamentos e adestramentos oficiais, falta, às vezes, e não se preocupa em seguir à risca os horários das aulas.

Mas essa é uma distinção genérica e resumida. Vejamos uma comparação mais detalhada:

Meia hora antes de iniciar a aula, o bom professor já está na escola, de banho tomado, cabelo penteadinho e barba feita. Sabe, previamente, a aula que vai ministrar, porque tudo foi antevisto em seu planejamento, conforme a mais atual tendência pedagógica do último momento. Até listou, no plano, o que os alunos deverão pensar depois. Entretanto, muitas vezes, o plano sai pela culatra: uma aula prevista pode não ser compatível com alunos imprevisíveis.

O mau professor, antes da aula, joga umas partidas de sinuca, fuma um cigarrinho e bebe uma ou duas latinhas de cerveja. Chega em cima da hora e espera alguns minutinhos antes de entrar na sala de aula, consciente de que a maioria dos alunos ainda não chegou. Ele só sabe o conteúdo do dia quando vê suas precárias anotações na caderneta. É o Romário do magistério. Quem já sabe, não precisa treinar para entrar em campo. Planejar pra quê?

E lá vem o bom professor, de camisa de punho, calça social, sapatos e maleta, de acordo com um antigo estereótipo que povoa o imaginário coletivo. Dizem que tal figurino serve para impor respeito e disciplina. Com esse intuito, o bom professor também é um professor mau. Ou seja, malvado para os alunos. É rígido nas provas e só aceita as tarefas no prazo estipulado. Sempre repreende seus pupilos delinquentes e faz das tripas coração para manter a ordem. Pena perder quase toda a aula nisso.

Já um sujeito usando camiseta de banda de rock, calça jeans puída, um velhíssimo tênis All Star e mochila de lona não pode ser um profissional do ensino. Ou pode? É assim mesmo que o mau professor vai à escola. Nem por isso sua sala é uma zona total. Pedindo, ele consegue ser ouvido. Aí conta piadas, um “causo” curioso, uma notícia do dia… Depois, até consegue uma audiência para a aula de fato. Além disso, é considerado um cara legal: não faz prova e nem esquenta quando a bagunça está o maior horror.

Do outro lado, o bom professor se irrita facilmente. Tudo aquilo que lhe atrapalha a aula o faz ter um ataque de nervos. A gota d’água é a música alta no celular. Aliás, por essas e outras que o bom professor sofre de estresse, nervosismo, depressão, insônia, pressão alta, úlcera… E não é fácil manter sua fama de mau. Por causa disso, já levou um murro na cara e já deu queixa, na delegacia, de duas ameaças de morte.

O mau professor não tem esses problemas. Leva uma vida sossegada. Inclusive, só trabalha num período, à noite. Por isso, agora mesmo está acabando de acordar, às 11 da manhã. Ao passo que lá está o bom professor, em plena atividade, aos berros, andando entusiasmado de um lado para o outro da sala de aula e… Mas o que é isto!? O bom professor está passando mal, revirando os olhos, desmaiando! Chamem uma ambulância! Socorro! Socorro!… Tarde demais.

Foi um piripaque fulminante. O mau professor lamenta o triste passamento do colega. Ele era tão dedicado. Escrevam em seu túmulo: “Foi professor, teve pesadelos e odiou na vida”.

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