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O novo quadro político acreano depois das eleições

O processo eleitoral tem pelo menos três momentos importantes. A escolha dos candidatos, o debate de idéias e de propostas durante a campanha e a análise dos resultados. Vai sair fortalecido do processo o partido que percorrer esses três momentos em sintonia com a vontade popular. Na democracia todo o poder vem do povo. Quem estiver mais próximo das aspirações populares e souber ler melhor o inconsciente coletivo terá mais êxito no resultado das urnas.

Nas eleições acreanas os partidos já deram os dois primeiros passos. Agora, falta uma avaliação mais aprofundada do resultado. Nem a Frente Popular e nem a oposição ainda fizeram uma análise definitiva para determinar os seus futuros rumos políticos a partir da leitura das urnas. Só houve flashes e palpites sobre o assunto. Mas a discussão coletiva dos atores envolvidos no processo ainda não aconteceu, pelo menos publicamente. Mas é bom que aconteça para que não ocorra a repetição dos mesmos erros na próxima eleição.

Um fato ficou bastante sobressaltado nessas eleições: a importância política das prefeituras. Como explicar que o candidato governista, Tião Viana (PT) tenha perdido a eleição em Rio Branco governado pelo PT? E a derrota de Tião Bocalom em Cruzeiro do Sul administrado pelo PMDB e em Feijó com uma gestão tucana? Os dois municípios teoricamente ultra-oposicionistas garantiram a vitória geral de Tião Viana. Mas por outro lado os seis anos de gestão da FPA na Capital deram uma votação expressiva à oposição. A conclusão é que a sintonia entre as prefeituras e as suas lideranças partidárias precisa de um ajuste fino.

Quem ganha com a pequena margem de votos entre os dois candidatos ao Governo é o povo acreano. Tião Viana já deve saber que terá que promover mudanças na sua futura gestão. Os doze anos de governos da FPA tiveram um desgaste natural. As maiores reclamações estão relacionadas à gestão de pessoas. Alguns secretários se sentem donos das pastas, não ouvem o clamor das ruas e se comportam como verdadeiros coronéis de barrancos. A população traduz esse tipo de comportamento com duas palavras: arrogância e prepotência. Um veneno para as urnas.

A questão do Senado
No espaço político onde o Acre se iguala aos estados mais importantes do Brasil com três representantes não houve alteração. Se antes Geraldo Mesquita Jr. (PMDB-AC) incorporava a oposição, o papel deverá caber agora a Sérgio Petecão (PMN). A Frente Popular continuará com dois senadores, Jorge Viana (PT) e Aníbal Diniz (PT). No entanto, não acredito numa divisão tão radical como a anterior. Não é o estilo de Petecão o confronto. Ao contrário de Geraldinho, Petecão não deve a sua eleição a ninguém. Não é o seu estilo ficar fomentando e alimentando mágoas.  Acredito que possa até compor com os dois governistas quando o assunto for de interesse do Acre.

Por outro lado, a presença de Jorge Viana é a garantia de uma presença de destaque do Acre no quadro político brasileiro. Bem articulado, com muitos contatos em todas as frentes políticas e extremamente dinâmico Jorge Viana será um personagem constante no debate nacional. No caso de uma vitória de Dilma Rousseff (PT) conti-nuará a ser um ministeriável. Aníbal Diniz, por enquanto, é uma incógnita. Acostumado a exercer cargos de sustentação técnica dos governos da FPA é preciso esperar para ver qual será a sua linha de atuação política com um mandato na mão.

Mudanças na bancada de deputados federais acreanos
A renovação dos representantes acreanos na Câmara Federal foi substancial. Entre os oito da atual legislatura só voltarão Perpétua Almeida (PCdoB), Henrique Afonso (PV), Gladson Cameli (PP) e Flaviano Melo (PMDB). Os dois novos eleitos da FPA Taumaturgo Lima (PT) e Sibá Machado (PT) deverão ser extremamente fiéis as orientações das principais lideranças da coligação. Gladson e Perpétua possuem uma certa independência de atuação que deriva das suas personalidades. Quanto a Henrique Afonso é preciso avaliar qual será o posicionamento do Partido Verde depois das eleições. O parlamentar verde longe do PT terá mais autonomia no exercício do seu mandato.

Na oposição, Flaviano Melo e Márcio Bittar (PSDB) são políticos maduros e não acredito que tenham posições raivosas em relação ao Governo do Estado no exercício dos seus mandatos. A dúvida fica por conta de Antônia Lúcia (PSC). Há muitos anos tentando chegar à Câmara Federal e com divergências radicais declaradas em relação à FPA, Antonia Lúcia, poderá ser uma pedra no sapato da gestão petista no Acre.

Uma Assembléia Legisltativa com maioria governista
A maior vitória da FPA nessas eleições foi em relação à nova composição da Aleac. A atual folgada maioria de 14 deputados da base governista subiu para 16. Além disso, os maiores oposicionistas Luiz Calixto (PSL), Donald Fernandes (PSDB), Idalina Onofre (PPS) e N. Lima não foram reeleitos.  A resistência deverá ser feita por Antonia Sales (PMDB), Major Rocha (PSDB) e Jamil Asfury (DEM).

Apesar da sua folgada maioria uma questão que deverá preocupar o governador eleito Tião Viana são os três cargos mais importantes da Casa Legislativa Acreana. Quem irá para a presidência, a secretaria e a liderança do governo? O novo presidente deverá ser escolhido entre os deputados Moisés Diniz (PCdoB), Hélder Paiva (PR) e Luiz Tchê (PDT). Ney Amorim (PT) e Geraldo Pereira (PT) aparecem como prováveis secretários. Mas a vantagem é de Amorim pelo fato de estar na sua segunda legislatura e já ter sido líder do PT.

Para a liderança do governo aparecem como favoritos Eduardo Farias (PCdoB), Geraldo Pereira e, mais uma vez Ney Amorim poderia ser aproveitado na função. Mas Luiz Tchê não pode ser descartado. Na sua terceira legislatura é um dos parlamentares mais participativo nos debates com a oposição. O cargo exige experiência, capacidade de oratória e articulação na busca de informações junto ao futuro secretariado estadual. O escolhido será uma peça chave para a relação entre o poder executivo com o legislativo.

A disputa pela chefia do poder legislativo estadual
O nome de Moisés Diniz (PCdoB), é forte na disputa pela presidência da Aleac. No seu terceiro mandato Moisés é um político afeito ao diálogo, tem experiência parlamentar, capacidade administrativa, bom relacionamento com sindicatos e movimentos sociais e lealdade ao projeto da FPA comprovada no exercício da sua liderança legislativa do governador Binho Marques. Mas o nome de Hélder Paiva não pode ser descartado. Ele tem uma boa relação com o governador eleito e a simpatia de parte dos deputados. Correndo por fora, Luiz Tchê, que presidiu a CPI da Pedofilia. Vale frisar ainda que na atual distribuição de forças políticas entre os partidos da FPA torna praticamente impossível uma candidatura de deputados do PT.

Outra questão que se tornou importante depois das eleições é quem será o presidente da Câmara Municipal de Rio Branco. Como o vice-prefeito, Eduardo Farias (PCdoB), irá para Aleac, o novo presidente a ser eleito em fevereiro acumulará o cargo de vice-prefeito de Rai-mundo Angelim (PT). Uma coisa é certa, o partido que eleger o presidente da Aleac dificilmente terá o cargo mais importante do legislativo da Capital. Portanto, o processo eleitoral ainda está longe de chegar ao seu final.

 

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