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Para rir e para chorar

É mesmo assim. Ria, se puder, e depois chore.

O pessoal que viveu a década de sessenta, aquela época que antecedeu a formação da sociedade alternativa  –  flutuante sobre fumaça de canabis  –  ainda lembra o episódio do biquíni de bolinha amarelinho tão pequenininho que mal cabia na mão da Ana Maria. Uma bobagem. Tão imbecil quanto o Zé Serra que foi vítima da ação de bandoleiros e gente da pior espécie que o assassinaram com uma bolinha de papel do tamanho de um bombom de bêbado. Sacanagem! Nunca na história deste país se viu uma tentativa de golpe tão tola e tão fútil. Quanta babaquice!

Em verdade vos digo, esta é a fase da minha vidinha arcaica a que denomino operação rescaldo. Enfim, estamos felizes. Entre mortos, vivos e feridos de morte, escaparam quase todos, inclusive a religiosa, a pastora, a apóstola e a meiguíssima e belíssima evangélica da caixa de dinheiro que a benemerência da nação amazonense nos enviou, para que compremos bastante lacto purga e nos livremos deste nó na tripa com que nos presenteou a politicanalha nacional que se excedeu, mais uma vez, no nível e na qualidade da patifaria que busca enganar, especificamente, o eleitor periférico social e ético, aquele que adora a fofoca e a vida alheia, e só dá crédito quando o boato diz respeito ao reboladinho sensível do rapaz da esquina, ou à gravidez da filha do vizinho, ou invade a privacidade de alguém por aí ainda com alguma dignidade. Oh, plebe rude! Como nós gostamos de fazer estardalhaço com a vida dos proeminentes! E vamos lá!

Observemos o caso desse magnânimo contador de piadas que dá shows de terça a quinta no restaurante localizado na cobertura do anexo quatro da Câmara dos Deputados. É um pândego, esse Petequinha!

– Sabe aquela boa da caixa do dinheiro da crente? – Perguntei.

– Não, senhor. Só ele sabe contar. – É o que respondeu o garçom.

Ele sabe me fazer rir bastante. É ele o tal nobre homem das anedotas mais apreciadas por sete ou oito ou nove entre dez dos ditos representantes do povo.

Aí, então, o nobre Sérgio, em campanha no Acre, resolveu agredir com um palavrório supimpa a verdadeiramente competente Perpétua Almeida. Como todo bom pirata social, ele não apenas não esqueceu, mas entrou de corpo e alma em comentários que diziam respeito à vida particular da deputada e família. Eu, de minha parte, antes mesmo da resposta da agredida pelo atônito, já fui ao sítio da Câmara dos Deputados na web para conferir alguns números racionais ou irracionais.

Nenhuma surpresa. O grande, imenso, colossal, inimitável e impagável Petecão havia invertido completamente a ordem dos quantitativos. Quase nenhum elemento da estatística oficial de Brasília dava respaldo aos dados usados na televisão, aqui, com a finalidade única de enganar o triste Zé povim.

E veio a oportunidade dada, de graça, por gente de inteligência privilegiada e moral indubitável, com certeza – como João Correia, Edilson Cadaxo e Flaviano Melo – a um aloprado de nome Tião Bocalom. O boquirroto, doidivanas, que ergueu a cidade modelo denominada Acrelândia, parâmetro em termos de qualidade de vida, exemplo de moralidade para com o bem público e para com a segurança dos cidadãos que sobrevivem naquele nicho fantástico de progresso e esplendor, meteu os pés pelas mãos e, quando agrediu a família Viana, ofendeu a centenas de famílias tradicionais desta cidade e deste Estado que o dignificam e o tornam cada vez mais pujante através do trabalho probo que não esconde debaixo da terra ve-readores chamados Pinté.
Antes, é claro que rendo homenagens a todos os homens de bem que chegam ao Acre para somar, para multi

plicar, como é o caso da grande maioria. Todavia, não dá para esquecer alguns forasteiros, inclusive oriundos do Estado do Paraná, que por aqui chegam para diminuir, para dividir, ou para matar, como é o caso do Vilela – do antigo Seringal Iracema, nos anos 70 – do Darli e seus comparsas, nos anos 80, e, muito especialmente, agora, dessa intrépida trupe que se mancomuna e faz jorrar sangue na santa e bela Acrelândia, com as devidas escusas aos nobres de coração que por ali sobrevivem aos trancos e barrancos, à vara e a remo, sempre à mercê de uma bala achada que pode lhes ceifar a vida, simplesmente, porque dizem e praticam a verdade em todos os seus matizes. 

Dá para rir e dá para chorar, sim, senhores. Já não se beijam crianças e abraçam velhinhos com tanta desfaçatez, como faz o homem forte de Acrelândia. O sotaque indisfarçável e a agressividade excitada e frenética jamais conseguirão enganar os acreanos de boa cepa, como é o caso do povo do Juruá… E também não enganou no Vale do Acre, onde o resultado não foi o esperado pela situação, exatamente, em vista dos maus tratos que alguns secretá-rios e agentes do poder estadual levaram a efeito contra funcionários públicos momentaneamente rebelados, até que algumas injustiças sejam reparadas.

E o nobre Sérgio, hoje senador, deixou-me um tanto perplexo, mas não surpreso quando, aconselhado por um jornalista amigo comum a fazer estudos superiores em nível de graduação, quem sabe um curso de Economia, foi taxativo ao afirmar que não seria necessário tal empreendimento intelectual, uma vez que o povo gosta dele assim como ele é, meio atônito, meio empolgado, muito arrogante, esnobe demais quando olha de esguelha para a câmera televisiva, como se fosse ator global. (Pô, eu não posso negar. Seria injusto. O rapagão tem pose e estampa para tal!)

O propositor da empreitada intelectual queria dar a entender ao nobre que ele não acompanharia um curso superior da Uninorte que o obrigaria a aprender, talvez, as quatro operações. Quis fazê-lo observar o desnível intelectual em relação aos seus oponentes, doutores, mestres e especialistas em diversas áreas do conhecimento.

Aí, o bom moço, hoje senador, cometeu um deslize fantástico. Driblou a verdade, bisonhamente, quando falou em nome do Michel Temer, vice de Dilma Rousseff, que teria emprestado a ele o apoio necessário. Foi não, senhoras. Nada disto aconteceu. Felizmente, para o cabeça da história, poucos observaram a lastimável piada de mau gosto e o Boi Cagão foi em frente, para o gozo de uma parte considerável dos acreanos desavisados.

E o Jorge Viana, caríssimos! Para ele, é muito fácil aumentar as posses em mil e quatrocentos por cento. Louvável até. Eu queria ser assim, mas não, sou um perdulário irremediável. Primeiro, o notável rapaz tem salários consideráveis. Dizem que o da Helibrás chegava a R$ 80.000,00 por mês, o que é normal entre os altos executivos. Depois, trata-se de um moço extremamente cuidadoso com o seu e com o nosso dinheiro. Enfim, senhores, não é do feitio desse meu amigo andar abrindo a mão à toa.

– Por que gastar, se não é tão fácil ganhar, mesmo quando se é aplicado e inteligente? Ora, pois! – Diriam os meus tios lá de Portugal e lá do Líbano.

Outros fatos marcaram muito mais. Vi e gostei de apreciar os dois âncoras da Globo, Fátima Bernardes e William Bonner, tão tristinhos dando conta do crescimento da Dilma nas pesquisas, inclusive com os dados do Datafolha. Depois, mais tristeza foi quando a Globo News noticiou a vitória final sobre o pequeno guerreiro Serrinha. A Cristiana Lobo, comentarista anti-Lula, estava visivelmente contrariada. Para ela, a notícia foi como um abalo sísmico.

E o pessoal da revista Veja me ligou. Eles queriam renovar a minha assinatura, ao que fui bem áspero:

– Como é que a senhora quer que eu, petista de carteirinha, financie uma revista parcial, anti-Lula, contra a Dilma e que paga salário exorbitante ao Diogo Mainard, aquele que fala tão mal do Acre? Telefonarei para o Banco e farei o meu desligamento direto na fonte. Cortarei o mal pela raiz…

Hoje, quando o Bittar, inteligentemente, diz que não fará oposição pura e simples, na marra; que atuará a favor do Acre em tudo o que nos for justo e de direito, vem o Petecão dizer que não arredará um milímetro na luta contra o PT… Ora, bolas! Pensemos: o Sibá Machado, por exemplo, defenderá emendas em benefício da Ufac para o aumento de vagas em cursos superiores para os menos favorecidos; aí, um certo alguém votará contra só porque é uma medida a favor do povo, mas gerada a partir de um parlamentar petista.

Senhores parlamentares! Só uma pista. Dividam o poder em áreas como saúde, educação, segurança, transporte, energia, produção, dentre outras, e vós vereis que, para cada uma destas, haverá sempre dez ou vinte possibilidades de programas de grande relevância social. Ademais, basta colocar dois assessores que fiquem sentados à frente de um computador e realmente tenham condições de elaborar, de forma consistente, discursos e projetos, e nada mais será tão vantajoso. Eis uma receita que merece a boa mão do parlamentar que lhe acrescentará uma pitada de sal a mais em conformidade com as suas conveniências particulares. Agora, colocar aquele cabo eleitoral que trabalhou muito na campanha, mas que não escreve um ó sentado na areia, é o caminho certo para ir ter com os burros n’água.
Eu estava certo! Estamos a repetir o infausto que foi fazermos do Geraldinho Mesquita um senador que passou oito anos remando contra a correnteza e em marcha ré.

Convém, certamente, colocar algum brilho nesses escritos tão drásticos. Um filósofo luso-hispânico, o Jacinto Benevente y Martinez, deixou bem escrito que é muito mais fácil encontrar quem chore com as nossas tristezas que quem fique feliz com as nossas alegrias.

* José Cláudio Mota Porfiro é escritor dos quadros da Ufac. Doutor em Filosofia e História da Educação pela Unicamp.

 

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