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Perspectivas sombrias

Karl Popper (1902-1994) físico, matemático e filósofo, dizia que o avanço da ciência se dá pela criatividade de imaginar hipóteses novas que possam explicar e resolver os problemas gerados pelas expectativas humanas preexistentes. Isto é, o fim último da ciência é o homem e as suas agruras terrenas. Corrobora com essa idéia o existencialismo dos anos 30, tendo à frente Jean Paul Sartre (1905-1980). Essa corrente filosófica faz uma reflexão sobre a vida do homem, seu abandono e suas angústias: também exalta a liberdade pessoal e sublinha a necessidade de tornar a vida significativa e não buscar “encontrar” o significado da vida.

Atualmente a ciência, inclui-se aí somente aquelas de cunho de investigação empírica, apesar do avanço a passos largos, não atende a demanda de problemas advindos da existência humana, pois nós, simples mortais, continuamos sem respostas para muitas necessidades básicas, cruciais para a sobrevivência humana. Só a guisa de exemplo, estatísticas recentes dizem que 550 milhões de pessoas moram em favelas. Os viciados em drogas são hoje 60 milhões, envolvendo um “comércio” na ordem de 350 bilhões de dólares. Há 100 milhões de crianças de rua nas mega-cidades, espalhadas pelo mundo aguardando um horizonte melhor.

Onde estão os mecanismos científicos avançados, no campo: da economia; da política; do direito; do social; da ciência médica, etc., que não encontram solução para os problemas humanos? A realidade dos problemas se torna mais assustadora quando se faz uma análise das tendências para os próximos dez anos. Não existe o menor sinal de que os problemas serão menores.

Por outro lado à ciência tecnológica está aí para oferecer todas as vantagens, notadamente, no campo do entretenimento. No seu governo, que fenece, o presidente Lula assinou decreto que define o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre “que estabelece as diretrizes para a transição do sistema de analógico para digital”. No futuro, diz um texto, cada celular poderá ser uma unidade de TV móvel. Outro texto diz que estão em jogo “negócios” de ao menos R$ l00 bilhões (investimentos a serem feitos num período de 5 a 10 anos) na adequação ou substituição de televisores analógicos, celulares e aparelhos de TV fixos, com tecnologia analógica. Denota leitor, que num curto espaço de tempo, o meu aparelho de TV, bem como outros 54 milhões de aparelhos, espalhados, em cerca de 40 ou 44 milhões de domicílios por este Brasil afora, se não forem adequados a nova realidade, só servirão, amanhã, para jogar no lixo.

Ocorre que esses “avanços” não livram o mundo, o de hoje e o de amanhã, das ameaças de destruição total. Não se trata de idéia idiota, não, pois sei da importância que a tecnologia tem, especialmente no perscrutar dos fenômenos que permeiam o planeta terra e, por expansão, todo o sistema cosmológico.

Mas, todo esse fantástico avanço tecnológico somados aos fabulosos progressos da ciência, tem sido insuficiente para debelar causas primárias que afetam e aumentam a cada dia, a má sorte dos 185.7 bilhões de brasileiros. Sendo assim, indagamos, aos quatro cantos de Rio Branco, como é possível que uma cidade com índice populacional de 319 mil habitantes, tenha tantas desgraças em série no campo da violência, sem que se tenha uma resposta razoável para o problema. Quando o assunto é vio-lência as perspectivas são sombrias, já que estamos todos assombrados. Particularizando o fato: será que existe alguém por estas plagas, detentor de qualquer pequeno ou grande negócio, que ainda não foi roubado ou assaltado?

De volta ao topo deste artigo: o que disse mesmo Karl Popper? Disse que o avanço da ciência se dá pela criatividade de imaginar hipóteses novas que possam explicar e resolver os problemas gerados pelas expectativas humanas pre-existentes. Bem, como toda tragédia humana que veicula pela mídia nacional termina em comédia ou piada. Seria  oportuno que o governador eleito, Tião Viana, insistisse naquela idéia criativa de espalhar mosquiteiros pelo vale acreano. Estou falando sério, pois pelo menos veríamos minimizados os ataques de miríades de insetos voadores, pernilongos, muriçocas, etc. que azucrinam a gente humilde, notadamente à noite quando a energia elétrica é interrompida por longas horas. A propósito, como tem carapanã, aqui no Santo Afonso! Não há sbp que resista. Ah, benditos mosquiteiros! 

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador  bibliográfico em Filosofia e Ciências da Religião.E-mail: assisprof@yahoo.com.br

 

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