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Ano Novo: mundo velho!

Cronologicamente vamos inaugurar, daqui a pouco, um Novo Ano. O evento de caráter universal traz em seu bojo ardentes expectativas de que finalmente, neste novo período de tempo, encontraremos o avatar da felicidade. Para tanto a raça humana se travesti das mais excêntricas manias e práticas culturais e religiosas para adentrar o ano novo com o “pé direito”. Tudo se dará, neste réveillon, em meio aos imoderados e fugazes prazeres da carne e do espírito.

Muita festa custe o que custar! Todo este esforço tendo como objetivo um mundo melhor, nada mais é do que uma desesperada atitude universal para conter, a partir do dia 1º, a desilusão, o medo do futuro e um total sentimento de desesperança, por conta do desmoronamento dos ideais republicanos. Desapontamento que vai levar milhões de pessoas, no alvorecer de mais um ano, buscar nas religiões, quer seja o cristianismo, seitas ocidentais ou orientais, ocultismo, parapsicologia ou até mesmo o satanismo e em uns e outros adivi-nhadores de plantão, amparo e esperança para suas vidas.

Quanto ao mundo transitório, enquanto idéia de conexão fundamental entre o espaço e o tempo, se refletem no pressuposto das Sagradas Escrituras de que foi criado para ter uma duração limitada. “ O mundo passa…” já dizia o Apóstolo João. Mas, afinal: o mundo passa ou passam os entes? Bem, os elementos de sustentação do planeta terra, só para falar do nosso habitat, estão se exaurindo. Esse detrimento faz com que reflitamos sobre as sábias palavras do Rei Salomão, ponderando teologicamente sobre o intento soberano de Deus, ao concluir que todos os acontecimentos da vida são divinamente ordenados. Isto é, tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Existe tempo para nascer, e tempo de morrer (Ecle-siastes). É assim mesmo, tudo se acha em estado de fluxo perpétuo já asseverava Heráclito “O Obscuro” (545-485 a.C), e o tempo é o meio ambiente desse fluxo.

O próprio mundo passa por grandes sussurros, chamados “anos”, durante os quais sucedem muitas coisas.

O que fica evidente nesta relação do homem com o seu habitat é o fato de desde os primeiros pais humanos temos sido péssimos administradores do lugar, que por desígnio, habitamos. Por conseguinte, fazendo da terra um lugar, se tomarmos, por exemplo, a realidade do Haiti e da Etiópia, um verdadeiro inferno. Tal catástrofe que assola o mundo faz com que ateístas famosos, do passado e do presente, como é o caso de Voltaire em Candide, digam que este mundo presente não é o melhor possível. Em outras palavras, se Voltaire, vivesse nos nossos dias, diria: Mesmo que as estatísticas anunciassem que estamos experimentando um percentual a menos de assassinatos, ou um estupro a menos, bem como a diminuição das guerras e da crueldade do homem,  o mundo ainda não seria o melhor lugar de se viver. 

É uma questão lógica, que o  mundo terráqueo, até aqui, é o único lugar onde a raça humana pode sobreviver. Assim, as esperanças dos povos, notadamente daqueles de boa vontade, se renovam, de que o amanhã será melhor, mas o mundo está, cada dia, mais velho. Então todo cuidado é pouco!

Todo cidadão de Rio Branco, que não morrer antes do dia 31 do corrente mês (Vixe Maria!), vai levar para o 2011 como legado , infelizmente,  a lembrança de fatos bestiais ocorridos neste ano de 2010, que  mesmo mascarados pelo sistema dominante, por mais otimistas que sejamos, deixaram seqüelas brutais; já que estão longe de serem extirpados da vida nossa de cada dia. Não há euforia do réveillon, utopias governamentais, e outras baboseiras e prognósticos de mães-de-santo, com a chegada do novo ano, que nos façam esquecer tão rapidamente as mazelas advindas desse estado de coisas; pois que estão aí permeando a atmosfera terrena. Um desses fatos sinistros foi o assassinato trágico de Ana Eunice, na presença de todo aparato policial e das autoridades constituída do Estado, impotentes diante da situação.

A sociedade, em 2011, dada as circunstâncias, tem que aprender a conviver com a morte brutal de seus semelhantes; fazer ouvido de mercador aos reclamos da gente sofrida;  fechar os olhos aos escândalos de extravio do erário público;  banalizar o roubo e assassinatos diários; admitir que usar drogas, entorpecentes alucinógenos, faz parte do contexto moderno. As minhas afirmações não são de caráter fenomeno-lógico, no sentido de tornar aparente  aquilo que costuma ser imperceptível; a situação que se nos apresenta é de uma obviedade total; realidade  transparente, aberta, a todas as pessoas, uma vez que os fatos brutais estão bem perto de nós.

Ademais, opinam alguns analistas, só existem gotas de otimismo de que o ano de 2011 só não será tão ruim, para a gente, porque parece quase impossível que os governantes cometam os mesmos erros perpetrados neste ano que fenece.
A despeito dos pesares: Feliz Ano Novo!

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador  bibliográfico em Filosofia e Ciências da Religião. E-mail: assisprof@yahoo.com.br

 

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