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É Natal!

A celebração do Natal de Jesus de Nazaré, que mais tarde seria o Cristo, 21 séculos depois do seu nascimento é sempre um grande dia. A noite de Natal é sempre uma noite encantada. A magia do Natal envolve a humanidade de diferentes culturas, numa teia de acontecimentos de amor ao próximo sem precedentes. Surgem campanhas, as mancheias, de solidariedade humana, oriunda dos mais diferentes segmentos sociais, concitando o povo a fazer doações de alimentos, visando minorar  a fome dos menos favorecidos socialmente. Essa farta solidariedade humana, mesmo que só aconteça em épocas natalinas, é salutar; uma vez que é melhor fazer pouco, do que nada fazer.

O Natal além de ser um grande dia é real, não é uma ilusão. A realidade do dia de Natal perpassa essa aparente realidade que nos faz viver de ilusão em ilusão, achando que somos filhos de Icária, país fictício produto da cabeça, fértil e otimista de Étienne Cabet que  ilusoriamente, acreditava na libertação seu povo  da “peste” da fome; confiava que somos todos alimentados, vestidos, alojados e educados; que a ordem sucedeu a anarquia, a regra ao caos. Não, o Natal transcende toda e qualquer falsa esperança e a tudo o que é passageiro, excede até mesmo ao generoso, gordo, bonachão e barbudo Papai Noel, pois que o Natal se radicaliza em Jesus Cristo, a verdadeira esperança de um novo amanhecer.

O Natal é, ao mesmo tempo, uma luz  que irrompe neste mundo caos, minimizando pelo menos por algumas horas a escuridão social em que estamos metidos. Sociedade: que a  cada dia se afasta dos contratos sociais; que vive distante das comunidades vitais e aquém da comunidade jurídica e; carente de uma fraternidade movida pelo amor. O Natal nos mostra que somos propensos a emoções; somos sensíveis aos apelos oriundos das tradições que nos concitem a amar, a ter paz e a exercer a irmandade universal.

A magia do dia de Natal, ainda, nos mostra e põe desnudo que, mesmo estando para lá da era cibernética, o homem, a sociedade ou o mundo  continuam carentes  de mudanças na estrutura social. Significa dizer que apesar do avanço tecnológico, científico e  das grandes realizações, notadamente, no mundo urbano,  o homem, enquanto sociedade é um brucutu em questões e formas de sociabilidade. A sociedade, aos olhos de qualquer leigo, na hipótese de ser comparada a um edifício, está com sua base, inteiramente comprometida, produto de uma arquitetura confusa e, por conseguinte, necessitando de indispensáveis reparos, sob pena de desabar a qualquer hora.

Hoje, apesar de tantos anos de aprendizado, os homens continuam tão ou mais cruéis, em relação ao seu próximo, do que os bárbaros mongóis medievais, que sem dó nem piedade e fúria pertinaz, matavam, destruíam e saqueavam sem misericórdia. Estamos criando um sistema maligno que tende a nos escravizar perpetuamente. Somos lobos uns dos outros, resultado de uma atitude egoísta e fator responsável pelas guerras, pelos conflitos e situações prejudiciais a todos.

Num mundo assim, permeado de desigualdades, nada melhor do que almejar que o principal presente neste Natal, enfeitando a base da árvore da vida de cada ente, seja a reflexão que façamos sobre nossas ações passadas e presentes, afim de que amanhã bem cedo, antes mesmo do raiar do sol, possamos começar uma caminhada de volta em prol da dissipação total dessa situação prejudicial, desumana, avassaladora, acintosa ao homem e seu habitat. 

Na expectativa de viver mais uma noite especial do dia Natal, não posso deixar de remeter os meus pensamentos para os dias idos da minha meninice. O Natal da minha infância não tinha coca-cola, nem luz elétrica; haviam poucos produtos industria-lizados, no entanto posso lembrar, mesmo com o passar dos anos, os presentes simples que eu recebia.

 Não tinha nada melhor no decorrer do ano do que a expectativa de viver o dia de Natal. A família reunida  até altas horas sob a luz dos candeeiros, afinal só as famílias mais abastadas possuíam “aladins”.   Quanto à ceia de meia-noite era farta, já que dia de Natal em casa de pobre, nos anos 50, sem fartura de dar inveja aos banquetes do Rei Belsazar, não tava com nada. Da mesa farta, destaco duas iguarias que minha mãe fazia: aluás (bebida feita com milho fermentado com açúcar) e rabanadas (fatia de pão frita depois de embebecida em leite e passada em ovos) Huumm!. Mas, havia todo tipo de comida que ia do guisado de patos e galinhas de terreiro aos leitões assados com rodelas de limão sobre o corpo tostadinho. Ah, ia esquecendo: havia muita paz nos corações das pessoas, afinal Natal é noite de paz!
É Natal.  Feliz Natal!

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