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Uma nova ordem para crianças e adolescentes

Nesta década que se encerra no fim do ano, vivemos a plenitude do relativismo moral rotulado de uma nova ordem para tudo e para todos: no esporte; na cultura; na política, na economia, na igreja, na escola e na família. Com raras exceções, as instituições dos mais diferentes credos, aceitaram um novo código de ética que regulamenta um novo tipo de comportamento para a gente, onde vale tudo, vale o que quiser; vale até, em contra-senso a música do falecido Tim Maia, “foliar homem com homem e mulher com mulher.”  Assim, devagar e devagarzinho, habi-tuamo-nos, neste mundo pós-moderno, a uma “nova ordem” no que refere às questões morais que passeiam, entre outras anormalidades antiéticas, do  tráfico de drogas ao tráfego de prostituição infantil. Esta tendência é vista na literatura, na arte e na música, no teatro e no cinema, na televisão e na cultura popular. Sem padrões morais, em-basadas em leis universais, a vida se tornou, para muitos, uma existência sem significado.

O mais grave é que neste contexto de “novas” experiências, a criança, o adolescente e o jovem são os mais afetados. Nunca em nenhum momento da história, diria Lula, adolescentes e jovens viveram tempos tão críticos como os de hoje. A única via de escape passa por um mundo fantástico de experiências insanas, tidas como “maneiras”. Por exemplo: sexo com parceiro desconhecido que faz com que aumente a cada dia os altos índices de gravidez na adolescência; consumo desen-freado de drogas pesadas que os leva a roubar, matar e morrer. Como conseqüência, o que se vê, são milhares de jovens delituosos superlotando os presídios.

 Um imenso mundo juvenil de complexos devaneios em que a petizada é apenas a roda da engrenagem. Faz-se do adolescente e do jovem a banda marginal da sociedade; os bandidos da era digital. O portal do crime!

Exemplo crasso desse relativismo moral, envolvendo crianças e adolescentes, apesar de muitos dizerem que as conseqüências morais e intelectuais que comumente se supõe decorrerem do relativismo (estupidez ética, cegueira estética e assim por diante) na verdade não decorrem dele, foi o comentário dos telejornais brasileiros sobre a divulgação da gravação em que uma criança “seqüestrada” pede socorro à polícia. William Bonner, Fátima Bernardes e outros âncoras, afirmaram que a menina foi levada ao “cativeiro” por uma prima de 14 anos que era namorada de um homem de 43 anos. Então, convencionou-se no Brasil e sei lá mais aonde, que um homem adulto possa ter casos e até viver maritalmente com meninas menores de idade à revelia da lei. Pergunta-se: Será que se essa garota de 14 anos, que deve ter ido para mãos do seu algoz em idade bem tenra, fosse filha de qualquer um dos âncoras de TV ou do policial que fez a ocorrência, seria taxada em Rede Nacional de Televisão, de namorada do me-liante que a prostituiu e estava abusando sexualmente da outra criança, será? Hein??

Essa “nova ordem” para crianças, adolescentes e jovens, pontifica por uma forte tendência pelo imediatismo e a busca pelo prazer  instantâneo. Pesquisa entre os jovens aponta que 76% dos jovens entrevistados já ficaram com pes-soas que conheceram no mesmo dia, 53% ficaram  com mais de uma pessoa na mesma noite, 11% já beijaram na boca pessoas do mesmo sexo. Individualistas e consumistas ao extremo, os jovens vivem um hedonismo exagerado que se aproxima perigosamente do narcisis-mo. Não é à-toa que a onda metrosse-xual cresce assustadoramente; uma vez que, o que tem de meninos por aí pintando o cabelo e aparando as sobrancelhas, não está no gibi. Sem falar nas meninas, é claro.

Talvez eu seja acusado de pregar um conservadoris-mo reacionário contrário ao progresso social e à evolução dos costumes. Nenhuma coisa, nem outra; antes prego contra o relativis-mo moral e, no dizer do filósofo Yves Roucaute, sou a favor da preservação de certas tradições fundadas em valores universais de humanismo.
O que não se pode esconder é a triste realidade para a qual caminha, salvo uma minoria, a nossa juventude. Também, é certo que são vítimas de um sistema perverso, chamado “mercado” que nos coloca, a nós todos, moços e velhos, no mesmo saco da inutilidade; não sabemos mais o que é melhor para nós; o mercado é que nos diz o que devemos comer, beber e vestir. É a globalização do vulgar e do medíocre. 

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador  bibliográfico em Filosofia e Ciências da Religião. E-mail: assisprof@yahoo.com.br

 

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