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O Big Brother é feio!

Lê-se por aí que a estética como ciência filosófica faz parte essencial da teoria de valores ou da axiologia, isto é,  a  análise de  idéias tais como beleza, gosto e arte. Essa coisa de beleza, gosto e arte tem muito a ver com o termo cultura. Esta é interpretada ou caracterizada nos dias de hoje pelas artes, hábitos e comportamentos de um grupo social.    No século XIX,  Matthew Arnold, poeta e crítico inglês, já descrevia a cultura como um ato normativo de nos familiarizarmos com o melhor do que era conhecido e dito no mundo. Assim entendemos cultura como a cultivação do melhor e mais esplêndido, dos ideais mais sublimes em termos de gosto e refinamento, das coisas boas com as quais se espera estar associado: livros bons, companhia boa, roupas boas, música boa, teatro bom, etc.

Essa arte que eleva a alma e aguça os sentidos do homem é uma tese platônica decantando que o belo é autônomo na sua essência e no seu fim, reaparece no século XVIII, notadamente com Alexander Baumgarten (1714-1762). Com base na opinião do fundador da Estética, a Arte fundamenta-se sobre representações mentais sensuais e vinculadas aos sentimentos.  Baumgarten definiu o belo como a perfeição do conhecimento sensível, e dividiu a estética em duas partes: a teórica, onde estuda as condições do conhecimento sensível que corresponde à beleza, e a prática, na qual, ocupando-se da criação poética, chega a esboçar uma espécie de lógica da imaginação, que contém princípios necessários à formação do gosto e da capacidade artística. De posse desse conceito, Baumgarten, dizem as más línguas, corava diante da idéia de seus leitores limitarem  a sua estética em estátuas. A partir daí, a reflexão filosófica em torno da arte derivou para uma ciência que fez da apreciação da beleza o seu tema fundamental.

Na contramão desse culto hierárquico da beleza, eis que atualmente, alimentado pelos meios de comunicação moderna, vivemos a beleza objetiva, convencionada de cultura popular. Ocorre que a cultura popular contemporânea raramente se preocupa com o que é “bom”. Entenda-se por “cultura popular” aquela que é vendida, pois que mais consumida, em alta escala. Esta cultura atrai às massas e não requer alto grau de sofisticação intelectual ou refinamento cultural. A cultura popular encontra seu ápice, atualmente, no entretenimento visual, especialmente, na televisão, vídeo games e nas novas formas da tecnocultura, tornando  ultrapassado tudo o que surgiu antes dela. Hoje a beleza é objetiva e as artes visuais encontram  na cidade, um terreno fértil para seu crescimento, diz-se por aí à boca miúda. E o pior de tudo é que somos obrigados a engolir calados. Exemplo crasso do que afirmo aconteceu dia desses com a apresentadora Carla Vilhena, da Rede Globo. Ela chamou de idiota um desses pichadores (grafiteiros) que vivem a sujar  muros e paredes de local público com desenhos ou figuras contestatórias ou obscenas. O fato ocasionou  revolta geral. Muita gente considerou como preconceituosa e ofensiva a afirmação  da apresentadora. Pode? No Brasil pode!

Diante desse quadro, valho-me de Juan Ortega y Gasset (1883-1955) que em seu ensaio Desumanização da arte estuda as mudanças profundas que a arte experimenta em nossos dias. A arte atual é aquela que não existe, pois houve uma ruptura brutal com o passado, diz Gasset.

Não poderia deixar de citar, do mesmo modo, a crítica de Theodor Adorno (1903-l969). Em Adorno, a cultura atual é a indústria cultural em  que os detentores do poder na sociedade, imporiam ou impõe através da mídia seus valores e modelos de comportamento, que se-riam uniformizadores e bloqueariam a criatividade, via massificação e passividade do indivíduo, aceitando fins estabelecidos por outros. E mais: para Adorno,  a arte contemporânea pode ser qualificada como, em princípio, anti-social, desprezando normas e preceitos de estruturação preconcebidos, rejeitando modelos éticos, políticos, religiosos, que possam determinar previamente sua forma.

E o Big Brother? O que é mesmo o Big Brother? Para que serve o Big Brother, hein?

O Big Brother, cultura burlesca e idiota está aí; pior e mais deformado dos que os anteriores.  Sem história, chato, promíscuo e apelativo. Ah, tem o descaramento da maioria dos seus componentes. Desfaçatez que só perde para o cinismo da Rede Globo  em botar isso no ar.
O Big Brother, gente, é feio. Muito feio!

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador  bibliográfico em Filosofia e Ciências da Religião.E-mail: assisprof@yahoo.com.br

 

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