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É de fazer chorar!

“ Faz tempo que  o Carnaval deixou de ser apenas cachaça e folguedo, agora envolve grandes negócios e altos consumos”.
Uma vez mais o Reino de Momo vai ser festejado com o “esplendor” de sempre sob os auspícios do erário público. Afinal de contas, Carnaval é para o povo, por conseguinte que o povo pague a conta. Lamenta-se que sejam empregados recursos consideráveis para o usufruto de três dias de folia, enquanto milhares de famílias de dezenas de municípios brasileiros vivam, eternamente, a agonia de conviver com todo tipo de mazelas sociais, produto da ausência de políticas públicas, especialmente, no campo da infra-estrutura. Aqui em Rio Branco, é do conhecimento geral, existem bairros que não dispõem de água encanada, esgoto sanitário,  luz elétrica e que sobrevivem mal e “porcamente.”  Não é à toa, que essas famílias são o foco principal da tal de dengue.

O dinheiro que é gasto com Carnaval, anualmente, pelo poder público bem poderia ser destinado para auxílio às vítimas dos estragos feitos pelas constantes chuvas e enchentes que castigam o Brasil de norte a sul. Alguém pode insinuar que “nem só de pão vive o homem” que é preciso,  uma vez ou outra, um pouco de circo. Acontece que este país é um circo só. O Brasil é um país brincalhão. Vivemos de farras e, quando muito, da cultura de entretenimento apelativa. Negar tal realidade é santa hipocrisia. Então, é nesse clima nacional de “n” desigualdades que milhares de brasileiros, entorpecidos pela embriaguez dionisíaca, inauguram a partir de hoje o reino de Momo,  e só pára na quarta-feira, ingrata, de cinza. 

Tenho notado  que há pouca ênfase, neste Carnaval, sobre o uso da camisinha. Até que existe propaganda institucional sobre os cuidados que o folião deve tomar, mas não na mesma proporção dos anos anteriores, quando o governo através do Ministério da Saúde fez crescer o já gigantesco empreendimento de produção de camisinhas e, numa só semana, distribuiu, por este Brasil afora, 10 milhões de “camisinhas”. Aqui no Acre teve um Carnaval em que foram distribuídas 60 mil “camisinhas” com o fim de “prevenir” essa doença desconhecida de nome AIDS que se tornou um, dentre outros, componente grave dos desastres que afligem o mundo.

Pelo menos neste item parece que economizamos alguns trocados, talvez até pelo descaso de muitos, pois o que se escuta por aí é que especialmente os jovens não estão mais ligando para o uso da tal camisinha. Estou entre aqueles que pensam, sem radicalizar, que quem quiser transar com segurança que compre a sua própria “camisinha”. Afinal, o folião tem cacife para pagar ingressos nos clubes, comprar a sua cerveja; comu-mente vai à folia todo paramen-tado; alguns têm grana para comprar drogas. Mas, a camisinha, não! Esta tem que vir dos combalidos cofres da união. No fim, diz o contribuinte fiel, a conta sobra sempre para quem está na base da pirâmide social. 

Entretanto, o que deve pontificar neste Carnaval, desgraçadamente, é o consumo desenfreado das drogas. No passado, havia uma marchinha carnavalesca que dizia: “As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar”.  Agora, ironicamente, no mesmo ritmo pode-se cantar assim: “as drogas vão rolar…” Assim, com as drogas liberadas, para consumo pes-soal, e camisinhas à vontade o Carnaval deste ano está do jeito que o diabo gosta.

Digo a quem possa interessar, que não estou preso ao obscurantismo, sou a favor de leis que ponha freios neste maldito tráfico de drogas; leis que resgatem da dependência química milhares de jovens que sabida-mente, agora mesmo, em algum lugar, estão escravizados pelo uso indevido dessa praga que assola o mundo moderno.  Inegavelmente, o Carnaval de hoje é um gestor econômico dos mais poderosos. Há quem propague que ele gera tremendas divisas para o Brasil, além de animar diversos setores da economia nacional, a caseira, inclusive. Mas, na prática o Carnaval, principalmente no Rio de Janeiro,  é uma guerra. Não uma batalha de confetes, como nos carnavais de antigamente, ou somente uma batalha competitiva: do melhor samba-enredo; da melhor porta-bandeira; da melhor bateria; dos melhores adereços, enfim. Faz tempo que o Carnaval deixou de ser apenas cachaça e folguedo, agora envolve grandes negó-cios e altos consumos. Deixou de ser uma festa folclórica para ser o que é hoje, uma grande e nefasta orgia que infelicitam muitos adolescentes e jovens nos quadrantes da nação brasileira. “É de fazer chorar!”.

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador  bibliográfico em Filosofia e Ciências da Religiã. E-mail: assisprof@yahoo.com.br.

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