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Mulheres versus intolerância religiosa

“No evangelho do Senhor Jesus Cristo e no seu Reino, não há privilégios especiais para o homem em detrimento da mulher. Isto é, somos todos, homem e mulher, iguais”.

Na sua luta para se superar diante das adversidades impostas pelo sexo oposto, a mulher tem encontrado nas religiões, notadamente nas tradicionais, seu principal algoz. Excetuando Cristo que ressaltou o valor da mulher, quando a lei judaizante rezava que  “um homem não devia entabular conversa alguma com uma mulher, na rua…”, outros líderes de religiões do mundo estigmatizaram a mulher como um ser rebaixado, fato que alicerçava-se na pouca ou nenhuma importância que as  mulheres tinham na sociedade judaica, por exemplo: Maomé nada fez para melhorar a condição da mulher, e, evidentemente, pensava que a mulher é uma criatura inferior ao homem. Até os sonhos de uma mulher, dizia Maomé, são inferiores aos sonhos de um homem.

Sabe-se que, entre os hindus, existe louvor pelo nascimento de um filho homem, mas o nascimento de uma filha é reputado um acontecimento de segunda categoria. A obra Diálogos de Buda mostra-nos que ele suspeitava de qualquer mulher que se aventurasse a seguir ocupações intelectuais. Assim sendo, na catequese de  Buda, que detinha o título de “o sábio” e que pregava  o caminho da libertação, é quase óbvio que não se incluíam entre os seus discípulos, as mulheres. A coisa era tão séria que, nos tempos de Jesus Cristo, existiam algumas mentes privilegiadas que viviam a debater se as mulheres possuíam alma ou não. Com base nessa estupidez, os livros  que retratam a história das religiões mundiais antigas, estão cheios de narrativas de acontecimentos bes-tiais. Conta-se que muitas crianças recém-nascidas do sexo feminino eram sufocadas quando nascia meramente por capricho do pai ou, em alguns casos, da própria mãe. Nos nossos dias, é bom que se diga, mulheres não participam de alguns ritos e práticas da religião budista, reservadas apenas para os monges.

Menos mal que o cristianismo, tendo como base os escritos do apóstolo São Paulo, coloca a mulher  e o homem no mesmo pé de igualdade, uma vez que essa paridade, do homem em relação à mulher, é antes de qualquer moral religiosa,  uma virtude da vida humana em que ambos, mulher e homem, são portadores dos mesmos direitos fundamentais que provêm da humanidade e definem a dignidade da pessoa humana. No Evangelho do Senhor Jesus Cristo e no seu Reino não há privilégios especiais para o homem em detrimento da mulher. Isto é, somos todos, homem e mulher, iguais. A despeito dessa afirmação, bem como dos exemplos deixados pelo Cristo, muitos estudiosos conservadores, que para tudo buscam provas na Escrituras, sentem-se incapazes de demonstrar a propriedade de ordenação de mulheres para ofícios tradicionalmente ocupados por homens. Essa postura religiosa acontece na Igreja Católica Romana e na maioria das igrejas evangélicas tradicionais.
A Igreja Católica Romana Tradicional , é interessante notar, com base no Concílio de Éfeso (431 d.C), declara Maria a mãe de Deus assim como mãe de Jesus Cristo, no sentido de que o Filho que ela deu à luz era ao mesmo tempo Deus e homem, resiste à tentação de ordenar sacerdotisas. É, no mínimo, um contra-senso!

Mas já existem modelos teológicos feministas contemporâneos com o surgimento, a partir de meados do século XX, do Movimento de Libertação da Mulher que trabalha na criação de uma consciência crítica feminista. Essa consciência, ao interagir com a Bíblia e as tradições teológica cristãs, tem buscado uma nova investigação de paradigmas onde se destaca a tese que rejeita totalmente as tradições judaico-cristãs como irremediavelmente voltadas para o masculino. A liberdade ideal, para a raça humana, independente de etnias, côr ou sexo, seria o direito do indivíduo viver como quiser. A liberdade deve ser defendida não apenas  contra o despotismo estatal, mas também frente à pressão da opinião coletiva: liberdade de pensar, opinar, etc.

A democracia representativa, já dizia John Stuart Mill (1806-1873), deveria  preservar os direitos das minoria e manter a igualdade entre homens e Mulheres. Para quem não sabe, Stuart Mill participou, em 1867, da fundação da primeira sociedade que advogava o direito de voto para as mulheres, transformada, posteriormente, na União das Sociedades pelo Sufrágio das Mulheres.

* Francisco Assis dos Santos é professor e pesquisador bibliográfico em Filosofia e Ciências da Religião.E-mail: assisprof @yahoo.com.br

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