Os gêneros alimentícios apresentam-se como um dos principais responsáveis pelo avanço da inflação no Brasil, conforme demonstram os indicadores nos primeiros meses de 2011. Já no ano passado, contribuíram com 39% do IPCA medido pelo IBGE. Ou seja, é muito evidente, também em nosso país, a tendência mundial de majoração dos preços da comida, o que torna bastante coerente a crescente preocupação com a segurança alimentar, tema de repetidos alertas da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação).
Nesse contexto, há grande expectativa sobre como irão comportar-se os preços dos produtos alimentícios ao longo de 2011. Um dos principais itens na pauta das preocupações é a carne bovina, considerando seu elevado consumo no país e também sua importância para a balança comercial, pois somos grandes exportadores do produto.
Em 2010, verificaram-se sensíveis aumentos, decorrentes de dois fatores básicos: a redução da quantidade disponível para consumo em grandes nações produtoras, como Argentina, Estados Unidos e Austrália, em função do maior abate de matrizes, iniciado em 2006; e o aumento da massa salarial do brasileiro, de 34% nos últimos cinco anos. Prevalece, nesse caso, a irrevogável lei de mercado: maior consumo e menor produção significam preço mais alto. O encarecimento acumulado do produto chegou a 30%.
Pois bem, é exatamente nesse cenário que ocorre no Acre uma inoportuna e incompreensível pressão contra a pecuária, como se fosse ela a grande responsável pela degradação ambiental. Se em outras unidades federativas da Amazônia a criação de gado atenta contra a sustentabilidade das florestas (e isso não nos cabe julgar aqui), em nosso Estado 85% das propriedades têm menos de 100 cabeças, com receita bruta de mil reais por mês. Trata-se, portanto, de atividade típica de pequenos proprietários. Somente 4% das fazendas têm mais de mil cabeças.
Ademais, a pecuária bovina é sustentável, pois ficou no passado a prática da destruição de matas para a implantação de unidades produtivas. Os índices acreanos de desmatamento são cada vez menores, graças a políticas públicas estaduais, articuladas com ações da iniciativa privada, que transformaram o Estado em exemplo de preservação ambiental. Formalizaram-se acordos com os distintos setores de atividade, no âmbito do projeto de Zoneamento Econômico-Ecológico e leis como a da Valorização do Ativo Florestal e do Sistema de Serviços Ambientais.
Todo esse avanço, contudo, não foi suficiente para sensibilizar a minoria refratária ao desenvolvimento e cética quanto à real possibilidade de conciliar progresso econômico com a qualidade ambiental. Hoje, ao contrário do que alguns imaginam, os maiores interessados no equilíbrio ecológico e na preservação dos recursos naturais são os empresários conscientes, pois é óbvia a inviabilidade dos negócios num futuro sem matéria-prima e insumos como água e energia.
Assim, é lamentável observar ataques descabidos aos setores produtivos, como ocorre nesse caso da pecuá-ria acreana, agora exposta à ameaça de extinção, caso a Justiça acolha e dê sentença favorável à ação que acaba de ser impetrada pelo Ministério Público Federal e o Estadual. A propositura tem o escopo de impor ao Ibama a obrigação de multar os frigoríficos locais em montante superior a dois bilhões de reais. Algo absolutamente inviável, irreal e inexeqüível, pois o valor é maior do que o PIB pecuário do Estado. Significaria, sem dúvida, o fim da atividade no Acre, com o sacrifício de postos de trabalho e geração de renda.
Nosso Estado tem-se dedicado com imenso empenho a um consistente projeto de desenvolvimento, que lhe tem garantido índices de crescimento superiores aos da própria economia brasileira. O compromisso com a sustentabilidade é inalienável nesse processo, contando com o pleno engajamento das atividades produtivas. Portanto, é descabido todo esse movimento contra nossa pecuária, que atenta contra o bom senso e está na contramão da luta dos brasileiros pelo controle da inflação e em prol da prioritária segurança alimentar.
*João Francisco Salomão é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre – Fieac ([email protected]).