Em meio a uma floresta recuperada localizada na Estrada Transacreana, alunos do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre (Ufac) participaram de aulas ministradas por três professores indígenas sobre projetos demonstrativos de sistemas agroflorestais desenvolvidos no Centro de Formação dos Povos da Floresta da Comissão Pró-Índio do Acre e reproduzidos em Terras Indígenas do Estado.
O intercâmbio entre as culturas tradicionais de produção indígena aliadas às técnicas de cultivo, produção de animais e reflorestamento pesquisadas pela CPI marca o mês dedicado ao indígena no Brasil. Além disso, valoriza o trabalho dos agentes agroflorestais indígenas, como importante replicadores desta fusão.
No sítio da CPI os acadêmicos dos cursos da área ambiental da Ufac descobriram que as técnicas milenares de cultivo, reflorestamento e criação de pequenos animais para subsistência caminham lado a lado com a ciência quando o objetivo é manter a floresta em pé ou recuperar aquelas que foram destruídas por práticas inadequadas de plantio.
Aluno do décimo período de Engenharia Florestal, Stoney do Nascimento estava impressionado sobre o que ouviu pro professor Josias Kaxinawa, da Amaiaac, Associação de Agentes Agroflorestais Indígenas. Interessado em atuar na área de reflorestamento para preservação, o acadêmico descobriu um modo diferente para implantar os Sistemas Agroflorestais. “Estou gostando muito de conhecer essas novas técnicas, que reúnem o saber tradicional indígena e a pesquisa científica. Vou direcionar meu trabalho para a recuperação de áreas degradadas para fins de preservação e não para fins comerciais. Por isso me identifiquei”.
A CPI tem as terras indígenas como parceiras e oferece como serviço informações que facilitam a articulação da gestão territorial e ambiental das TI, a educação intercultural e bilíngüe com a formação de monitores por meio de projetos nas áreas de educação, meio ambiente, cultura e produção.
Enquanto Lucas Manchineri repassa as práticas de produção realizadas dentro de sua comunidade aprende outras desconhecidas anteriormente mas que, somadas ao conhecimento científico adquirido recentemente. Ele cita o manejo das matas ciliares e reflorestamento em capoeiras como exemplos positivos da união entre os dois saberes. “Este é o reconhecimento dessa educação diferenciada. Antes a gente fazia de outro modo, mas nem tudo era certo. É possível respeitar o jeito de cada povo, desenvolvendo seus costumes tradicionais e aplicando técnicas novas”, avalia.
Mês do índio – Até 15 de abril, alunos de cursos da área ambiental, engenharia florestal, agronomia e geografia da Ufac e do curso de Sistemas Agroflorestais da Escola da Floresta com o propósito de promover o acesso ao conhecimento das técnicas tradicionais indígenas de cultivo e criação de pequenos animais domésticos aliadas à tecnologia desenvolvida e ao conhecimento não indígena que tem como foco a segurança alimentar, conservação e proteção dos recursos naturais e dos territórios indígenas.
Para o dia 18 de abril está prevista a exibição do vídeo documentário de Nilson Tuwa Kaxinawá – Notícias dos Brabos Parte I, sobre os índios isolados. Em seguida será realizado debate com o sertanista José Carlos Meirelles e a cineasta Mari Corrêa, do Instituto Caititu, na Biblioteca da Floresta, às 19h. Entre 18 e 20 de abril, a CPI disponibiliza o acervo de livros e documentários do Centro de Documentação e Pesquisa Indígena para visitação de estudantes e pesquisa sobre a realidade indígena.