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Venda de carros cai 8,45% no primeiro trimestre,mas as “cegonhas” continuam chegando

O volume de vendas de carros caiu no primeiro trimestre do ano em comparação ao mesmo período de 2010. Os dados são da Federação do Comércio do Acre (Fecomércio) e refletem uma série de medidas adotadas pelo Governo Federal para conter o consumo, desaquecer a economia e manter as metas de controle da inflação. Os dados matemáticos, no entanto, contrastam com cenas do cotidiano. Diariamente, chegam até quatro “caminhões-cegonha” com dezenas de carros novos. Geralmente, eles são entregues na Via Verde, onde se concentram 11 das 12 concessionárias de automóveis leves que estão cadastradas no Anuário 2010 da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

O Detran/AC registrou o emplacamento de 4.328 veículos no primeiro trimestre deste ano. No mesmo período do ano passado, foram emplacados 4.540 carros. Foram 212 carros a menos. Pelos números do Detran, a redução foi de apenas 4,67 %.

Essa queda no volume de vendas não foi sentida em algumas concessionárias, cujos grupos estão, inclusive, em expansão. A Recol Veículos, por exemplo, teve um acréscimo de 12% no volume de vendas nos três primeiros meses deste ano. E inicia 2011 com produto novo no mercado. O modelo “Jetta” é a mais nova opção para os apreciadores de carro de luxo e já está à disposição no pátio da empresa. O lançamento oficial da montadora Volkswagen ocorreu na semana passada no Rio Grande do Sul.

A expansão da Recol não ocorre somente com a Volks. Está sendo construída mais uma concessionária sob responsabilidade do grupo com bandeira da koreana Kia. O local das instalações também fica na via Chico Mendes.


Leandro Domingos: mercado de veículos é um dos que apresenta mão-de-obra mais qualificada

Fecomércio avalia que setor proporciona “maior estabilidade” aos trabalhadores
Um aspecto que chama atenção no mercado de veículos é a qualificação da mão-de-obra. Do gerente ao mecânico, as concessionárias apresentam profissionais muito especializados. A estimativa da Federação do Comércio é que o mercado de veículos gera cerca de 1,5 mil empregos diretos. “É o setor que dá maior estabilidade ao trabalhador”, assegura Leandro domingos, presidente da Fecomércio do Acre e também proprietário da concessionária Fiat Comauto, uma das revendedoras mais movimentadas da Capital.

Padronização no atendimento, forte planejamento de propaganda e marketing e ambiente econômico regional aquecido são apelos que não podem ser desprezados para entender os fatores que explicam a alta do consumo de carro nos últimos dez anos.

A presidência do Sindicato do Comércio de Veículos de Rio Branco disponibilizou informações dos últimos 10 anos (2001-2010) sobre o volume de vendas de veículos automotores comercializados. No período, foram vendidos 39.585 automóveis e 60.148 motocicletas e tricículos. São 99.733 unidades. Arredondando, são praticamente 100 mil veículos em apenas uma década.


Acre: o Estado com 159 mil veículos
Executado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Censo 2010 contou que o Acre tem exatos 732.793 habitantes. Se relacionado aos dados do Detran, o número assusta um pouco. O Departamento de Trânsito trabalha com a estatística de que o Acre tenha 159 mil veículos. É quase um veículo para cada grupo de cinco habitantes, aproximadamente.

Como conseqüência, os problemas na qualidade do trânsito são evidentes. Engarrafamentos, dificuldade para estacionar, aumento do número de empreendimentos no centro da cidade dedicados a estacionamento privado.

“É preciso redistribuir a malha viária da cidade”, alerta a arquiteta e urbanista Zeneide da Mota Pinheiro. Ela avalia que seria necessário um reestudo em que se contabilizasse onde há maior fluxo de veículos nas cidades e fossem feitas intervenções eficazes. E mais. Que a qualidade do transporte público fosse parte da agenda tanto do poder público quanto da própria comunidade. “Discutir qualidade do transporte coletivo parece que não é prioridade”.

A construção da 4ª ponte sobre o rio Acre pode ser um indicativo de que a política aplicada prioriza o transporte individual. Atualmente, o impacto da 4ª ponte é evidente em alguns horários. Melhorou o fluxo. Resta saber até quando.


EDITORIAL

Tributos e carros
É preciso uma certa dose de tolerância com a afirmação da Federação do Comércio de que houve redução de 8,45% no volume de vendas de automóveis no primeiro trimestre do ano. Na edição de hoje do Acre Economia, o espaço foi dado para que os argumentos fossem apresentados.

A tolerância é necessária porque ao mesmo tempo em que os argumentos são lógicos, eles não encontram ressonância nas ruas. Todos os dias, dezenas de carros novos são emplacados. Só no mês de março, mais de 1,6 mil carros novinhos passaram pelo Detran/AC. Mas, o fator ratifica a reclamação do empresariado.

A Federação do Comércio do Acre é enfática ao expressar o que pensam os empresários. “O grande gargalo da economia brasileira é o Sistema Tributário Nacional”, diz Leandro Domingos, presidente da instituição. Certo é que uma reforma tributária só tem eficiência se vier respaldada por uma pragmática reforma fiscal. Resta saber se os governos estão dispostos a bancá-la se, de acordo com a Fecomércio, “paga-se muito imposto, porque o poder público gasta muito”. Gastar muito, em tese, não é o problema. O gargalo está em gastar muito e mal. Esse é o drama. Se as vendas caem e os impostos perduram, é natural o chororô.


Prefeitura propõe Zona Verde
Até o fim deste mês, vai chegar à mesa do prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim, o projeto de criação da “Zona Verde” para o Centro da Capital. O estudo é assinado pela equipe de engenharia da RBTrans, autarquia municipal que regulamenta o trânsito na cidade, e muda a rotina dos motoristas que freqüentam a região central.

Mexe na rotina e no bolso. A “Zona Verde” é um nome de fantasia do que, tecnicamente, os engenheiros tratam como zona de estacionamento provisório. Ao preço de R$ 1,50, o motorista vai poder estacionar por uma hora (com tolerância de uma hora adicional) nas ruas centrais compreendidas na região entre a Rua Floriano Peixoto, Rua Amazonas (bairro Cadeia Velha), Avenida Ceará e Rua 24 de Janeiro.

Dirigentes e engenheiros da RBTrans apresentaram o projeto às promotorias de Urbanismo, de Defesa do Consumidor e à procuradoria-chefe do Ministério Público do Estado do Acre. O projeto que chega à apreciação do prefeito já é resultado de ajustes sugeridos pelo MPE.

Estudo feito pela Prefeitura de Rio Branco aponta que 85% dos carros que ficam estacionados no centro da cidade permanecem no local durante pelo menos um período inteiro do dia, ou durante manhã e tarde. “Comportamentos como esses têm que ser repensados”, avalia Ricardo Torres, superintendente da RBTrans. “Quem tiver necessidade de ficar por mais de duas horas com carro estacionado [caso seja aprovada a criação da Zona Verde], deve procurar estacionamento privado”. Quem desrespeitar a regra pode ter o carro apreendido pelo Detran. A infração é classificada como “leve” e a multa é de aproximadamente R$ 56.

O espaço urbano tenta se adequar com aumento da frota de automóveis nos últimos 12 anos. A Prefeitura de Rio Branco estima que são 22 estacionamentos privados que prestam serviços no Centro da cidade. Nem todos estão regularizados.

“Olhador de carro”_ A mão de obra necessária para atuar na cobrança e fiscalização da “Zona Verde” é um problema a mais para ser gerenciado. Os atuais “flanelinhas” devem sair de cena. Possivelmente, eles irão integrar equipes que trabalharão em dois turnos de seis horas, com direitos trabalhistas garantidos.

Mas, o projeto já encontra fortes resistências na comunidade. “Eu vou ser um mero ‘olhador de carro’ (sic), com risco de ser mandado embora?”, pergunta Maurício George Batista, fundador e presidente da primeira Associação dos Guardadores e Lavadores de Carros no Brasil. O grupo foi criado há sete anos. A desconfiança de Batista se refere à possibilidade de abertura de licitação para empresas se instalarem em Rio Branco e prestarem o serviço de estacionamento provisório. Atualmente, a Associação de Guardadores e Lavadores de Carros possui 150 associados, temerosos de que possam baixar a renda que hoje, asseguram, ultrapassa R$ 900.

O projeto da criação da Zona Verde prevê ampliação para duas outras áreas da cidade: no bairro Bosque e na Estação Experimental. Mas, a expansão depende da qualidade do serviço oferecido pelo poder público municipal e da aceitação dos usuários. O projeto Zona Verde precisa ser aprovado pelo prefeito Angelim e pela Câmara Municipal. Ainda não há data prevista para o projeto ser apreciado pelos vereadores.


Com renda mensal que ultrapassa um salário mínimo, “flanelinhas” estão inseguros com criação da Zona Verde. Maurício Batista, da Associação de Guardadores: “Vou ser apenas um ‘olhador’ de carros?” 


ARTIGO
Passado, presente e futuro do cultivo de seringueira no Acre (1)
Evandro José Linhares Ferreira* & Raimundo Barros Lima**

Entre 1972 e 1982 o Programa de Incentivo à Produção de Borracha Natural (PROBOR) fomentou o plantio de pelo menos 20 mil hectares de seringueiras por todo o Acre. O PROBOR era um ambicioso programa do Governo Federal que pretendia tornar o Brasil auto-suficiente na produção de borracha e em suas três etapas (PROBOR I, II e III) previa o plantio de 388 mil hectares de seringueiras, a maior parte delas na Amazônia.

As seringueiras ou clones plantados no Acre com o incentivo do PROBOR foram, em sua maioria, importadas de outras regiões da Amazônia, especialmente do Pará, que naquela época era o principal pólo de ciência e tecnologia da região. Elas haviam sido selecionadas e melhoradas por técnicos do Instituto Agronômico do Norte (IAN) e do Centro de Pesquisa do Trópico Úmido (CPATU), de Belém, tendo como base plantas originalmente cultivadas em Fordlândia e Belterra, as duas localidades pa-raenses onde, a partir de 1928, Henry Ford, o magnata da indústria automobilística americana, realizou os primeiros plantios em larga escala de seringueira na Amazônia. É importante ressaltar que o cultivo dos clones recomendados pelos pesquisadores paraenses era uma exigência do PROBOR para conceder o financiamento aos interessados em cultivar seringueiras no Acre.

O critério que norteou o desenvolvimento dos clones introduzidos no Acre foi a resistência ao fungo Microcyclus ulei, causador da doença conhecida como ‘mal-das-folhas’. Esta doença, junto com outros problemas técnicos e administrativos, arruinou o sonho gomífero do magnata americano de criar um mega plantio de seringueiras na área de um milhão de hectares que ele havia adquirido para a empreitada. O ‘mal-das-folhas’ afeta severamente a seringueira ao impedir o seu processo de reenfolhamento, que acontece anualmente em razão da queda natural de todas as suas folhas. Com isso, ele atrasa o início da exploração ou, em casos de ataques recorrentes, inviabiliza a exploração dos seringais cultivados. Embora o fungo também esteja presente nos seringais nativos, a baixa densidade natural das seringueiras (cerca de 1 árvore/hectare) e sua grande diversidade genética minimizam os seus efeitos. Em plantios ra-cionais, por outro lado, onde a densidade de seringueira é muito alta (média de 500 árvores/hectare), o efeito deletério do fungo é devastador.

Para apoiar os plantios de seringueira no Acre e no Brasil no âmbito do PROBOR, o Governo Federal montou uma extensa estrutura de apoio que envolvia o BASA, o principal agente financeiro, empresas estaduais de extensão e desenvolvimento rural (ACAR, Emater e COLONACRE) e instituições de pesquisa (CEPLAC e CPATU, posteriormente incorporado pela Embrapa). Para coordenar sua política nacional de borracha, foi criada uma agência dedicada exclusivamente ao tema, a Superintendência da Borracha (SUDHEVEA).

Apesar de todo este aparato, estima-se que apenas 116 mil das 388 mil hectares previstas pelo PROBOR tenham sido efetivamente plantadas. No Acre, excluindo-se parte do plantio feito com recursos próprio pela empresa Bonal, estima-se que chegaram a entrar em produção apenas 1,5 mil hectares de seringais apoiado pelo PROBOR.

Em meados dos anos 80, quando a SUDHEVEA foi extinta, o PROBOR entrou em decadência e toda a estrutura de apoio técnico-financeiro deixou de existir, resultando no abandono de milhares de hectares de plantios, boa parte deles sem nunca ter entrado em produção. Para piorar a situa-ção, no começo dos anos 90, durante o governo Collor, foi extinto o subsídio ao preço da borracha produzida na Amazônia, eliminando a maior vantagem competitiva da produção oriunda de seringais nativos e de cultivos da região.

O fracasso do cultivo de seringueiras no Acre e em outras partes da Amazônia ocidental nas décadas de 70 e 80 pode ser creditado, em grande parte e sem medo de cometer injustiças, à incapacidade das instituições de pesquisa do país em desenvolver clones altamente produtivos e resistentes ao fungo causador do ‘mal-das-folhas’, que encontrou nas condições climáticas dessa região o ambiente ideal para a sua propagação.

Não se pode deixar de reconhecer também que houve problemas de planejamento, falta de critério na seleção dos agricultores e principalmente fiscalização deficiente dos plantios contratados. Ainda hoje é comum se ouvir que o estabelecimento de milhares de hectares de pastagens na região leste do Acre foi viabilizado com recursos desviados dos financiamentos do PROBOR. Da mesma forma se sabe que centenas de hectares de seringais plantados no Acre foram criminosamente queimadas por produtores inescrupulosos com o objetivo de receber o seguro contra acidentes naturais que estava embutido em alguns financiamentos. Ao fazer isso, o seguro cobria parte da dívida que o produtor teria que pagar ao agente financiador. Com todos esses problemas não é surpresa alguma saber, de técnicos do governo estadual, que a área estimada de seringais cultivados no Acre é de pouco mais de 800 hectares.

Desde os primórdios do PROBOR no Acre dois ou três grandes empreendimentos e alguns pequenos produtores persistiram na exploração de seus plantios. Outros produtores que haviam abandonado seus cultivos retomaram a atividade em meados da década de 90 quando o Governo do Estado criou uma lei de incentivo à comercialização da borracha (Lei Chico Mendes), que resultou em uma melhora substancial do preço pago aos produtores e fomentou o ressurgimento do interesse pela atividade no Estado. Mais recentemente, o governo estadual implantou uma fábrica de preservativos em Xapuri, fato que gerou um aumento significativo na demanda de látex oriundo tanto de áreas de seringais nativos como de cultivo.

É importante ressaltar que possíveis mudanças climáticas decorrentes do desmatamento desenfreado de áreas florestais no leste do Acre parecem estar alterando o período da queda e renovação foliar de seringueiras cultivadas nesta região. Aparentemente a troca das folhas está acontecendo algumas semanas antes do que normalmente costumava ocorrer e sob condições climáticas que desfavorecem ataques massivos do fungo causador do ‘mal-das-folhas’, como por exemplo, baixa umidade relativa do ar. Embora esta seja uma boa notícia para os interessados em cultivar seringueira, ela também indica que a duração e severidade do período seco no leste acreano parece estar mais acentuadas, o que pode estar desfavorecendo o cultivo de outras plantas economicamente importantes.

Esta mudança do comportamento da seringueira na região tem como consequência uma melhoria nas condições de desenvolvimento e produção dos clones introduzidos no Acre durante a vigência do PROBOR. Observações preliminares sugerem que a menor intensidade dos ataques do fungo tem permitido que alguns clones produzam até 200 ml de látex/dia. Diante dessa nova situação e do crescente interesse local pela cultura da seringueira, seria importante revisitar os antigos plantios, incluindo aqueles que foram abandonados, para tentar re-identificar os clones e avaliar o potencial produtivo e nível atual de resistência ao ‘mal-das-folhas’. É o clássico caso de se aprender com os equívocos cometidos no passado.

Essa perspectiva de aproveitamento mesmo que marginal dos investimentos decorrentes do PROBOR no Estado é significativa porque desde 2010 o governo estadual pôs em marcha o programa ‘Florestas Plantadas’, um grande projeto de fomento ao plantio de culturas perenes no qual a seringueira tem papel destacado. A previsão é de se plantar 10 mil hectares de seringueiras nos diferentes municípios que fazem parte da bacia do Rio Acre.

* Pesquisador, Doutor em Botânica, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA, Núcleo de Pesquisas do Acre e Herbário do Parque Zoobotânico da Ufac.
** Técnico da Seaprof, Especialista em heveicultura e professor aposentado da Ufac.
 


Notas Econômicas

Menos imposto…
Sociedade civil organizada e instituições de defesa do setor empresarial iniciam, na próxima terça-feira, no Terminal Urbano de Rio Branco, a coleta de assinaturas para formulação de um anti-projeto de lei para redução da cobrança do ICMS nas contas de luz.

Mais energia
A radialista e jornalista Eliana Sinhasique é uma das lideranças que está à frente do movimento. Tem percorrido instituições públicas e privadas para demonstrar que a cobrança de ICMS em cima de tributos existentes na conta de luz, além de castigar o setor produtivo e de serviços, compromete o orçamento do cidadão.

Assinatura
Para fazer parte desse movimento, basta ir ao Terminal Urbano, terça-feira, munido de carteira de identidade. Haverá uma tenda preparada para receber os cidadãos que desejam participar.

Encruzilhada I
Situação difícil a dos gestores públicos. Sobretudo no Acre. O contexto é o seguinte: estão descobrindo, na prática, que a Dilma não é Lula; as torneiras dos recursos do Governo Federal estão se fechando a cada mês, e os municípios estão atolados em dívidas. Não demora muito e o setor da construção civil começa a dar os primeiros chiados.

Encruzilhada II
Para completar, o arremedo da Reforma Tributária deve sair. Os gestores, no discurso, são a favor. Mas, na prática e nos bastidores, torcem o nariz porque sabem que é mais um instrumento de perda de receita que está sendo gestado. Quem quer perder receita no curto ou curtíssimo prazo?

Reforma Tributária
Os empresários são unânimes em afirmar que a Reforma Tributária a ser aprovada no Congresso Nacional já “está defasada”. O presidente da Federação do Comércio do Acre, Leandro Domingos, é enfático. “Paga-se muito imposto, porque o poder público gasta muito”.

“Atendendo interesses”
Domingos avalia que a atual proposta de Reforma Tributária foi retaliada para atender interesses de prefeitos e governadores que temem perder receitas. E adianta um temor: os empresários trabalham “para não ver aprovada a criação da CSS (Contribuição Social para a Saúde)”.

Murmuru
Começou a extração de óleo de murmuru na Vale do Juruá. A novidade é pela conclusão de um novo contrato com a empresa Johnson &Johnson. O desafio é fazer com que haja beneficiamento dos óleos aqui. Mas, isso já está sendo avaliado pelo secretário de Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães.

Saudades de 2010
Dificilmente o setor de vendas de automóveis vai repetir em 2011 o desempenho do ano passado. Em 2010, o volume de vendas foi 20,67% maior do que em 2009. Especificamente no setor de motocicletas, houve aumento de 12,64% em 2010 em relação ao ano ante-rior. Tudo graças ao ex-presidente Lula, à estabilidade econômica e ao pagamento em dia do fun-cionalismo local.

Álcool
O aumento do preço do combustível já não indigna mais ninguém. Mas, o que deixa o acreano irritado, para dizer o mínimo, é não conseguir responder à questão: como pagar tão caro pelo combustível se existe aqui uma usina como a Álcool Verde? O próprio Governo já havia anuncia-do que “sentiríamos nas bombas o impacto do trabalho da usina” no fim do ano passado. Hoje já é 10 de abril. 


ENTREVISTA
Sem medo de arriscar
Ela é Helena Gomes do Vale. Dito assim, o nome não chama atenção. Mas, quando se fala “Tia Tucha”, os apreciadores da culinária regional conhecem bem a personagem. Com 64 anos, a acreana de Tarauacá criou quatro filhos. Já foi funcionária pública durante 13 anos na Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural). Não agüentou o ritmo. “Precisava fazer mais dinheiro”, lembra. “Ficava repetindo o mesmo trabalho sempre”. A necessidade de inovar e de aumentar a renda levaram Tucha a abrir uma pequena empresa de produção de salgados, marmitas e pequenos eventos.

A concorrência aumentou e ela teve novamente que mudar o foco de atuação no mercado. Especializou-se em uma iguaria bem acreana. Hoje, em um espaço com menos de dois metros quadrados, no estacionamento do supermercado Araújo do Aviário, ela faz tapioca com 61 tipos diferentes de recheio, com preços que variam de R$ 2,00 a R$ 7,50. O corpo franzino esconde uma mulher de fala firme, que não dá muita margem para dúvidas. Aliás, conversar com Tia Tucha é construir algumas certezas.

Uma delas todo empresário do Acre sabe bem do que se trata. “Anote aí na reportagem”, ordenou. “O meu maior problema é mão de obra”. Antes de estacionar a pequena (e nova) caminhonete, duas de suas funcionárias adiantavam o preparo da comida. Eram duas horas de uma tarde quente. Enquanto as perguntas eram feitas, ela não parava um segundo. Preparava-se para atender os clientes: ajeitava refrigerantes, queijo, carne, guardanapos. Começava mais um dia de trabalho.


Helena Gomes do Vale ou simplesmente ‘Tia Tucha’: de funcionária pública a dona do próprio negócio, ela dá lições de empreendedorismo e determinação

Acre Economia: De onde vem “Tia Tucha”? Por que esse nome?
Tucha:
Isso vem de longe, lá de Tarauacá. Onde nasci. Coisa de criança.

Acre Economia: Por que a senhora resolveu fazer tapioca?
Tucha: A história é longa. Eu era funcionária pública. Trabalhei na Emater durante 13 anos. Mas, eu precisava fazer mais dinheiro. Ficava fazendo sempre a mesma coisa todo dia. Aí, resolvi fazer salgados, marmitas e eventos.

Acre Economia: Não deu certo?
Tucha
: Deu, sim. Com esse trabalho, fiz minha casa, garanti o sustento e a criação dos meus filhos… eu mudei de ramo porque a concorrência aumentou muito nesse setor. Começou muita gente a fazer salgados (sic) e o preço foi ficando baixo, a margem de lucro foi caindo. Tive que mudar.

Acre Economia: Mas por que tapioca e não outro produto?
Tucha:
Eu tinha que fazer uma pesquisa para saber o que fazer. Aí, eu viajei. Fui para Salvador, Maceió, Recife e João Pessoa. Lá, eu tive contato com a tapioca feita de outras maneiras. E aquilo foi indo… foi indo… e alguma coisa dentro de mim dizendo que ‘ia dar certo… isso vai dar certo’. Voltei decidida a fazer alguma coisa com esse produto. Foi quando fiz um curso que melhorou as coisas.

Acre Economia: Curso de culinária?
Tucha:
Não. Eu já tinha experiência em cozinha. Já tinha trabalhado com isso. Mas, uma mulher do Sebrae de Alagoas veio dar um curso aqui em Rio Branco há sete anos. Ela mostrou a valorização não só do produto, mas da forma como se apresenta as coisas. O curso tinha 40 pessoas. Só eu abri um negócio. As pessoas diziam: ‘eu vim aqui porque não tinha nada pra fazer em casa’ ou ‘ah! eu tô aqui pra não ficar parada’. Eu, não. Eu precisava fazer dinheiro. Resolvi montar esse empreendimento aqui. Falei com a direção do Araújo e eles me permitiram instalar aqui no estacionamento.

Acre Economia: Quantas tapiocas a senhora faz, em média, por dia?
Tucha:
[olhou por cima dos óculos, desconfiada, pensativa] Isso não vou te falar, não. [sorriu] Porque é meu segredo. Mas vou te dar uma noção para você ter uma idéia. Eu uso, em média, 15 quilos de goma por dia.

Acre Economia: No geral, o acreano gosta de se arriscar?
Tucha:
Ah! Isso eu quero que você coloque na sua reportagem. O meu maior problema é mão de obra. Eu, aqui nesse lugar pequeno, empregava três pessoas. Uma teve que sair. Estou com duas agora. As pessoas falam: ‘a sua tapioca é boa. Por que a senhora não abre outra banca em outro estacionamento do Araújo?’ Mas, como? Eu sou só uma. Já tentei ensinar. Mas, não se interessam. E olha que o governo dá oportunidade. Tantos cursos… tantas coisas… mas falta interesse das pessoas. E isso vai demorar para mudar.

Acre Economia: A senhora já pensou em sair daqui? Arriscar em outros lugares?
Tucha: Aqui é que é lugar bom para se viver.

 

A Gazeta do Acre: