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Reajuste de 15% a funcionalismo será parcelado

A edição deste domingo do Acre Economia traz uma entrevista exclusiva com o governador do Acre, Tião Viana. Ele fala sobre os projetos econômicos planejados pelo poder público e adianta futuros investimentos no Estado. Além disso, dá detalhes sobre o aumento para o funcionalismo que será formalizado nesta segunda-feira e quanto isso irá representar de entrada de recursos para a economia.

NELSON LIANO JR.

O governador Tião Viana (PT) conversou com exclusividade com o Acre Economia, logo depois da inauguração da Usina de Beneficiamento de Castanha de Brasiléia. Viana traduziu em números os investimentos que estão sendo feitos nos setores econômicos produtivos e de infra-estrutura do Acre para acelerar o crescimento. Também revelou o esforço para garantir aumento salarial para todo o funcionalismo estadual. Viana acredita que os investimentos nas áreas sociais como a Saúde e a Educação ajudam a fortalecer o PIB acreano.

 Acre Economia – Governador, o senhor tem noção de quanto a economia do Acre cresceu nos primeiros meses do seu Governo, levando em conta os investimentos anunciados?

Tião Viana – Isso ainda não dá para medir. É preciso pelo menos um ano para fazer o balanço. Tem o período das safras rurais, de implantação de indústrias e de mudanças nas atividades comerciais com as prioridades. Tem que ser levado em conta que se está pactuando uma renegociação da dívida de três mil e quinhentas empresas com 95% de isenção dos juros e o prolongamento do parcelamento para cento e vinte meses para que todos possam estar adimplentes e ter acesso ao crédito para reaquecer a economia.

O Banco da Amazônia emprestou ao Acre para a infra-estrutura rural trezentos milhões de reais no ano passado. Há 12 anos, emprestava setenta e oito milhões. Várias indústrias já estão se instalando no Estado. Só a Usina de Castanha que inauguramos saiu de uma produção que consumia um capital de giro de 200 mil reais por ano e, agora, está movimentando 24 milhões de reais. A safra do milho saiu de 5 mil toneladas para 45 mil. A atividade da piscicultura recebeuum investimento novo de 53 milhões de reais.

A usina de preservativos está recebendo um investimento novo de 19 milhões de reais. Somando investimentos estratégicos para o desenvolvimento do Estado da ordem de 520 milhões de reais do BNDES, mais 160 milhões de reais do Banco Mundial, sem contar os recursos do Governo Federal, dá para perceber as mudanças. Nos primeiros meses, conseguimos mais 50 milhões de reais para o saneamento básico. E vamos contratar algo em torno de 300 milhões de reais até junho para poder promover trabalhos de esgotamento sanitário em todos os municípios do Acre com menos de 40 mil habitantes. Isso significa um movimento forte na nossa economia. Só programa de pavimentação de ruas prevê um investimento surpreendente com geração de emprego.

Acre Economia – Quanto será investido na pavimentação de todas as ruas do Estado?

Tião Viana – Nós já temos contratado 234 milhões de reais. Estaremos bem perto da metade do dimensionamento total do programa no seu primeiro ano. Sem contar que teremos emendas parlamentares e estamos inserindo o projeto dentro do PAC. Além da nossa capacidade de buscar crédito na área de infra-estrutura. Existem ainda as parcerias com os municípios, como com o prefeito Angelim (PT), que está numa fase de conseguir 50 milhões de reais com BNDES para a aplicação de infra-estrutura e saneamento ambiental.

Acre Economia – Governador, gostaria que o senhor esclarecesse qual a real capacidade de endividamento do Estado. Principalmente, levando-se em conta que houve mudanças nesse setor no governo Dilma em relação ao Governo Lula?

Tião Viana – O Acre tem um dos melhores índices de avaliação fiscal do Brasil. A nossa capacidade de crédito é algo admirável, em torno de 4 bilhões e 900 milhões de reais. Ainda estamos perto da metade de endividamento desse universo de disponibilidade. Claro que isso está vinculado ao momento de contrair a dívida associada à possibilidade de pagamento. Temos hoje uma fase de mobilidade na contratação de empréstimo que, se bem utilizado, é chamado de investimento e gerador de receita. Para nós, a equação de contrair empréstimos significa lançar investimento e retorno econômico com resposta em termos de receita. Como a Usina de Castanha de pequenos produtores, com o fomento do Governo, que vai contrair um empréstimo de 10 milhões de reais para comprar castanha. Estamos certos que isso representa uma receita de 30 milhões de reais no mesmo ano. Essa é uma visão econômica positiva.

Acre Economia – O que muda para o Acre, em se tratando de investimentos, a saída do presidente Lula? A presidente Dilma está ‘abrindo as portas’ para recursos virem para o Estado?

Tião Viana – Só tenho gratidão à presidente Dilma. Até agora todas as demandas que tenho tido no Governo Federal têm sido tratadas com sensibilidade e prontidão para ajudar o Estado. É uma visão de país da presidente Dilma. Ela tem respeito pelo trabalho que estamos desenvolvendo no Acre. Conhece o nosso trabalho e sabe a maneira séria como o Acre trata as questões dessa natureza. O Acre está saindo de uma transição de infra-estrutura para adaptação da sua capacidade de trabalho para transformar em produção geradora de riqueza.

A presidente Dilma conhece bem o significado disso. É preciso mudar o conceito. Quando se fala em investimento em educação, isso gera mais desenvolvimento numa região do que o investimento em grandes pro-priedades. Quando se fala em investimento em saúde, vai gerar no seu entorno mais retorno econômico do que as grandes propriedades que têm um modelo tradicional de produção. É preciso entender que, nesses 13 anos, se conseguiu triplicar a renda per capita do Estado e alcançar os melhores indicadores sociais investindo em infra-estrutura pública. Agora, é hora da infra-estrutura para o desenvolvimento econômico.

Acre Economia – Com o projeto de industrialização, o Estado descartou a opção Florestal?

Tião Viana – As duas estão completamente integradas. Num futuro próximo, poderemos chegar a mais de 1 bilhão e 500 mil reais de receita com a madeira fazendo um uso inteligente dos recursos madeireiros do Estado. As plantas industriais de Cruzeiro do Sul e Tarauacá somam 38 milhões de reais em investimento e a geração de mil e quatrocentos empregos. O Governo está mantendo a linha de acreditar na economia florestal com a incorporação de tecnologia. Isso significa uma ação de incremento do PIB acreano. Quando se fala em industrialização, estamos falando de uma nova Zona Franca do Século XXI. A Zona de Processamento de Exportação (ZPE) poderá trazer isenções para a exportação e também para a importação de insumos para a atividade industrial.

Podemos falar em cosméticos, medicamentos, produtos naturais para fins terapêuticos e indústrias que tratam do mercado regional de consumo de peças de veículos. Podemos falar ainda da indústria de alimentos. A China consome 50 toneladas de porcos por ano. O Brasil importa metade do peixe que consome. Estamos falando em expansão do mercado interno e venda para a Ásia. Também a indústria das compras governamentais não pode ser esquecida. Temos 11 olarias de porte médio que querem dobrar a sua capacidade no próximo ano e, mesmo assim, não vão dar conta da metade do consumo de tijolos que vamos precisar no Estado. Por isso, talvez tenhamos que associar com asfaltamento que é um pouco mais barato, mas que gera menos empregos.

Acre Economia – A Usina de Castanha irá vender para a Nestlé e parece que há possibilidade da Johnson & Johnson também fazer negócios com o Acre.

Tião Viana – A Johnson & Johnson está tirando uma planta industrial na Venezuela por desentendimento com aquele governo. Eles têm interesses estratégicos com os países andinos. Nós podemos receber na sede na ZPE do Acre uma planta dessa dimensão. Mas ainda é cedo para dizer que vai acontecer. Embora, posso afirmar que o Governo está trabalhando e o senador Jorge Viana (PT-AC) está empenhado. O ministro da saúde, Alexandre Padilha também está ajudando.

Acre Economia – Haverá transferência de recursos da área de desenvolvimento para garantir o aumento dos salários dos servidores?

Tião Viana – O ano de 2011 é o mais difícil da vida orçamentária do Acre. Mas as previsões são muito melhores para 2012. Então, uma negociação que soma os dois anos é mais solidária entre Governo e os servidores que merecem os maiores investimentos do Estado. Tenho certeza que o Governo tem que fazer o esforço que está fazendo para diminuir qualquer possibilidade de prejuízos para as categorias na sua política salarial. Mas também não pode ir além das suas responsabilidades e tirar dinheiro de investimentos já programados em projetos estruturantes para transferir para a despesa corrente. Mas sem servidor público não há política desenvolvimento.

Acre Economia – O senhor anunciará o aumento do reajuste nesta segunda?

Tião Viana – O anúncio está mantido dentro das responsabilidades. Não darei um real além das possibilidades orçamentárias e também não deixarei de dar um real além das possibilidades. Estou agindo com justiça, com respeito, com democracia, humildade e a firmeza de quem tem o dever de preservar o orçamento do Estado e a sua capacidade de sobrevivência financeira. No próximo ano, 10 mil servidores irão se aposentar. Se nós não tivermos previsões para pagar esses salários e incorporar novos servidores poderemos levar o Acre para ser igual ao Rio Grande do Sul. Um Estado completamente falido quanto à viabilidade orçamentária pelos encargos com os servidores que tem. É preciso dar o merecido sem desmerecer o equilíbrio financeiro do Governo.

Acre Economia – Quanto será o aumento para os servidores e o quê representará de aporte financeiro para a economia do Acre?

Tião Viana – A melhor proposta foi o aumento linear de cinco por cento em julho, cinco por cento em janeiro e cinco por cento em julho de 2012. Estamos numa fase de negociação com os servidores. Isso representa um gasto em torno de 150 milhões de reais que entrarão na economia do Estado até o próximo ano.


Acre está em penúltimo lugar em produtividade na região Norte

ITAAN ARRUDA

O Estado do Acre é o  quinto colocado do Norte em produtividade na safra de milho, com 2.077 quilos por hectare, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio da pesquisa Produção Agrícola Municipal. Está dentro da média da região. Mas, os investimentos anunciados pelo Governo do Estado no setor agropecuário vão exigir uma nova postura de agricultores, de técnicos extensionistas e de instituições financeiras. A fábrica de ração da Peixes da Amazônia S/A, o complexo Agroindustrial de Aves e as indústrias ligadas à cadeia produtiva do leite são exemplos que reforçam a necessidade de gerar escala com alta produtividade na safra de milho.


Trabalho de extensionistas: mais diálogo para melhorar uso da terra e aumentar produtividade

A fábrica de ração exige farinha de peixe (vinda do Peru), soja (que deve ser comprada de Rondônia) e milho acreano; o complexo Agroindustrial de Aves também exige milho e já teve problemas com fornecedores e, por último, se a silagem for deficitária no período de seca, a produção leiteira não fica inviabilizada, mas tende a cair. Sem o milho como insumo, esses empreendimentos ficam completamente comprometidos. Ou, pode-se apelar para uma alternativa mais próxima: trazer de Rondônia, o vizinho agricultor.

O Acre tem a quarta maior produção regional, calculada em 81,5 mil toneladas, pelos números da Comissão Estadual de Coleta de Dados Agropecuários e Extrativistas (CEDAE), uma instância de pesquisa criada pelo Governo do Acre para nivelar informações com o instituto federal. Mesmo usando os números oficiais do Cedae, a quantidade não chega a ser nem um quarto da produção de Rondônia, contabilizada em 368,8 mil toneladas. E está longe da marca paraense de 552,1 mil toneladas.

Mecanização é um caminho
Atualmente, o Acre tem uma área de 39.784 hectares com plantio de milho. A mecanização é executada praticamente com exclusividade pelo Governo do Estado e está presente nas re-giões mais povoadas do Acre onde se necessita de melhor abastecimento. Em áreas mecanizadas, o governo calcula que a produtividade alcança, no mínimo, 3,5 mil quilos por hectare. O número conflita com os dados do IBGE, um tradicional problema na aferição dos dados comparativos do setor produtivo. Mas, até conseguir aderir a programas de mecanização, um longo processo precisa ser construído. Algumas comunidades já compreenderam isso.

A Cooperativa Regional de Produtores do Projeto Moreno Maia (Coopermaia) quer entrar nas estatísticas de excelência na produtividade de grãos, além da farinha, o carro-chefe dos produtores regionais, junto com a banana. Das 526 famílias existentes em todo o projeto de assentamento, 26 são da Coopermaia. Os cooperados estão construindo um galpão para armazenagens dos produtos e se mostram ansiosos para iniciar a mecanização.

Diálogo
Mas, antes dos tratores fazerem a “destoca” (retirada dos tocos de árvores para plantio) e “gradeação” (quando a máquina passa a grade para arar a terra), técnicos e engenheiros agrônomos da Secretaria de Estado de Extensão Agroextrativista e Produção Familiar (Seaprof) praticam uma técnica antiga e eficiente quando feita de maneira harmônica: a conversa.

Edis Rodrigues Monteiro possui uma área de 70 hectares. Mora na região desde o tempo do antigo Seringal Corredeira. Já foi um dos mais produtivos na safra de feijão. Hoje, a pequena área onde cultiva o grão está cheia de capim e “vaquinha”, uma praga que se alimenta da folha da planta. O que chama atenção na postura do agricultor é o completo desconhecimento sobre o processo contábil da produção.

“Benfeitoria em ramal é uma conseqüência”, esclarece Hermes Pereira da Costa e Filho, agrônomo acreano com trabalho em indústrias multinacionais ligadas à agricultura no inte-rior de São Paulo e Goiás e que agora é gerente da Cadeia Produtiva de Grãos e Mandio-ca. “Se tiver produção, a melhoria da estrutura do ramal vem junto”. Fica o compromisso da equipe do Acre Economia voltar para a próxima colheita do milho. Na semana que inicia, os integrantes da Coopermaia já terão um trator de esteira e outro de pneu para trabalhar nos 26 lotes dos cooperados.


ARTIGO

A sensação do dever cumprido

João Francisco Salomão*

No próximo mês de julho, inicia-se a nova gestão da presidência da FIEAC. Este é o momento propício para fazermos um balanço dos últimos anos, que foram plenos de realizações e progresso para o nosso Estado. A indústria acreana está vivendo um bom momento, e tem na Federação das Indústrias do Estado do Acre (FIEAC) o maior aliado na defesa de seus interesses.

Em oito anos à frente da Federação, priorizamos a eficiência, batalhamos para uma maior visibilidade às instituições e participamos ativamente dos debates políticos, importantíssimos para a definição dos rumos do setor industrial do Acre. Em praticamente todas as decisões importantes estivemos presentes, sempre no melhor interesse da nossa indústria.

A FIEAC atuou na formulação de políticas públicas que resultaram na criação de um novo Parque Industrial, na implantação da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) e agiu sistematicamente para aperfeiçoar e ampliar a política de incentivos às indústrias acreanas, lançada em 1999. No campo tributário muitos avanços foram alcançados, como a isenção de ICMS para a indústria de panificação, além de um canal aberto com a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz) para propor melhorias. Mas os progressos não param por aí.

Idealizado pela FIEAC, em parceria com as demais instituições do setor produtivo, o Fórum de Desenvolvimento Sustentável do Acre tornou-se num importante espaço legítimo e democrático para discussão de temas diretamente relacionados ao desenvolvimento econômico-social do Estado, bem como de formulação de propostas voltadas ao fortalecimento da atividade empreendedora.

Durante os últimos oito anos, participamos ativamente nas discussões das políticas para o desenvolvimento do Estado e, por isso, conquistamos elevado conceito junto ao Governo e a sociedade como intérprete da indústria local e do setor produtivo como um todo.

Prova disto é a Agenda Legislativa da Indústria Acreana. Desde 2005, os empresários contam com este importante instrumento para acompanhar e participar do andamento de projetos de leis que, de algum modo afetem as atividades industriais. A publicação relaciona projetos que tramitam na Assembleia Legislativa do Acre e na Câmara de Vereadores de Rio Branco – propostos pelos próprios parlamentares ou pelo Poder Executivo, e que de algum modo interessam ao setor industrial.

Outro projeto de grande importância implantado pela FIEAC é o Norte Competitivo. Trata-se de um estudo que indica quais são os eixos de integração de transportes e quais as obras prioritárias demandadas pelo setor produtivo brasileiro, sobretudo os estados que compõem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins).

Com o objetivo de aumentar a base sindical, a CNI concebeu o Programa de Desenvolvimento Associativo (PDA). Em cada Estado, as Federações promovem ações que modernizam os sindicatos para fortalecer sua atuação na defesa dos interesses industriais. No Acre, desenvolvemos sites para os 10 sindicatos filiados, além de construirmos os planejamentos estratégicos; concepção e produção dos portfólios e capacitação dos líderes nos mais diversos assuntos, como por exemplo: relações do trabalho, inovação, meio ambiente, política tributária, infraestrutura, comércio exterior e tantos outros.

Durante nossa gestão, foram realizadas várias pesquisas que serviram como bússola para o mercado, apontando tendências e sugerindo correções de rumos. Hoje, a indústria brasileira como um todo enfrenta uma ameaça à sua competitividade em nível global: a falta de mão-de-obra especializada. Para isso, a FIEAC inaugurou o Núcleo da Construção Civil, construído em uma área que compreende 920,19 m², com o objetivo de qualificar mão-de-obra para atender esta crescente demanda percebida no setor.

O Instituto Euvaldo Lodi também teve importante participação neste processo de capacitação empresarial. Durante os últimos anos, desenvolveu competências em gestão e inovação, habitando os empresários, executivos, gerentes e profissionais das empresas industriais para se anteciparem às mudanças impostas pela acirrada competitividade do mercado. Foram diversos cursos de curta duração até MBA em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.

Com o reconhecimento da comunidade, o SESI é referência por suas atividades nas áreas de educação, saúde e segurança do trabalho, cultura, lazer e responsabilidade social. Merecem destaque os Jogos do SESI – que se subdividem em etapas estaduais, regionais, nacional e mundial. Com muita competência e investimento empresarial local, a equipe de futebol da Age Construções conquistou ouro no mundial, realizado em Rímini, na Itália. Investimentos em qualidade de vida melhoram a produtividade da empresa. O trabalhador que pratica esporte é mais saudável e motivado.

Estas são apenas algumas etapas já percorridas pelo setor industrial acreano. O caminho para o fortalecimento pode ainda ser longo, mas vem sendo traçado de maneira segura e sistemática. Temos ainda de travar verdadeiras “guerras” contra os fatores que entravam nosso desenvolvimento, como a elevada carga tributária e o excesso de burocracia. Porém, se olharmos para trás, veremos que nosso objetivo já esteve bem mais distante.  

* João Francisco Salomão é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre – FIEAC (salomao@fieac.org.br).


 

Continuação do dever

ITAAN ARRUDA

“A sensação de dever cumprido” de João Salomão é um peso a mais nos ombros de Carlos Sassai. Dia 23 de maio, Carlos Sassai foi eleito por aclamação como presidente da Federação das Indústrias do Acre. Assume em julho com o discurso da continuidade das políticas implantadas pelo amigo Salomão.

Tímido, falando baixo e ainda pouco afeito a entrevistas. As primeiras impressões revelam uma liderança com novo perfil na federação das indústrias acreanas. Na conversa com a equipe do Acre Economia, ficaram evidentes alguns pontos consensuais no setor produtivo regional: a necessidade de se elaborar uma reforma tributária, a relevância do papel do Governo do Acre como promotor do desenvolvimento local, e a defesa do meio ambiente como retórica. Mas, quando questionado sobre pontos polêmicos, como a reforma no Código Florestal ou os estudos de prospecção de gás ou petróleo no Acre, não tem dúvida. “Por que não?”


“A partir do momento que temos uma estrutura de instituição privada, se começarmos a ter interferência política perdemos identidade e independência”

Acre Economia – O senhor foi eleito por unanimidade, de forma consen-sual, em chapa única. Isso evidencia responsabilidades maiores com o setor industrial. Quais os principais desafios que o senhor assume a partir de julho?

Carlos Sassai – De fato, ser eleito por consenso aumenta muito mais a minha responsabilidade. Todos os setores me apoiaram e o trabalho tem que ser feito para todos. Quanto aos desafios, sem dúvida o principal desafio hoje para o setor industrial é a formação de mão de obra. Para mim, isso vai ser um grande desafio. Já é um problema nacional. O país cresce entre 4 e 5 % ao ano e a cada ano que se passa percebe-se a carência da mão de obra qualificada.

Acre Economia – O setor da construção civil é o que mais emprega e também onde há maiores problemas na qualificação da mão de obra. Por que é tão difícil formar profissionais para esse setor?

Carlos Sassai – Na minha visão, essa questão da mão de obra foi uma falha que aconteceu nesse país ao longo dos anos em função das várias crises pelas quais nós passamos que, aliado aos problemas financeiros, pecamos por não priorizar a educação.

Acre Economia – Em um lugar como o Acre onde a participação do Estado é fundamental para a impul-sionar o desenvolvimento, como é que a Federação das Indústrias pode ser blindada do ponto de vista político? Como uma coisa não interfere na outra? Não se faz política aqui na Fieac?

Carlos Sassai – Somos “blindados” na medida em que resolvemos os nossos problemas internos do setor industrial, de forma bastante madura e com parcerias. E, dessa forma, temos tido bastante sucesso. Essa “blindagem” é consequência de uma maturidade. As nossas coisas, de natureza empresarial, somos nós que temos que resolver. A partir do momento que temos uma estrutura de instituição privada, se começarmos a ter interferência política perdemos identidade e independência. Lógico que a parceria com o setor público é a melhor possível. Com isso, nós conseguimos realizar todas as ações que o governo pretende. Quando há algum problema, nós discutimos de forma muito aberta com o setor público e, com isso, nós conseguimos sucesso. E pretendo manter isso.

Acre Economia – Não há crescimento econômico, sem acesso a crédito. Como presidente da Federação das Indústrias, o que deve ser feito para melhorar o acesso ao crédito?

Carlos Sassai – Isso é um problema. Temos que avançar. E avançar muito nesse setor. Nós temos, no setor indus-trial, grandes dificuldades de acesso ao crédito no nosso Estado. Ainda não tenho nada desenhado nesse momento. Mas, como temos boas relações com todas instituições, vamos ter que criar alternativas. Talvez, a criação de um fundo, onde o empresário possa ter acesso. Para o Estado hoje ter uma alavancagem na economia, precisa do setor empresarial criar riqueza. Como podemos gerar riqueza? Incentivando o setor indus-trial. Em relação ao acesso ao crédito, eu ainda preciso estudar mais e apontar caminhos, junto com governo e instituições financeiras.

Acre Economia – Ano passado, a Federação das Indústrias elaborou um planejamento para os próximos oito anos. De que forma os cortes do Governo Federal interferiram nessa expectativa do setor?

Carlos Sassai – Planejamento de médio prazo exige uma revisão anual. Logicamente, que tivemos que fazer ajustes. Mas, eu sou bem mais otimista nesse aspecto quanto aos cortes do Governo Federal. Acho que é uma coisa momentânea. A ameaça de retorno da inflação é algo que preocupa. Mas, eu acho que ano que vem nós vamos ter outra realidade.

Acre Economia – O senhor fala isso fundamentado em quê?

Carlos Sassai – Acho que o nosso país chegou em um patamar no setor produtivo muito bom, com uma economia aquecida e avalio que, por isso, não vai ser tão dramático ano que vem. Acredito que nós podemos entrar na normalidade. É claro que ainda temos muita dependência do Governo Federal. Temos muito projetos do PAC II que não sofreram cortes. Além disso, há o programinha Casa Minha vida agora para julho com a construção de dois milhões de unidades habitacionais no país… só para o Acre vão ser dez mil casas e isso ameniza bastante a situação do nosso parque industrial. Só aqui no Acre, com o programa de dez mil casas, são mais de 500 milhões de reais.

Acre Economia – De que forma o senhor pretende intervir na discussão regional sobre a questão tributária?


Carlos Sassai
– É o nosso maior gargalo. O setor industrial já tem um caminho percorrido nesse assunto e está na Confederação Nacio-nal das Indústrias, a CNI. Ainda não participei das reuniões da CNI sobre essas questões. Já existe uma reforma tributária em discussão. A expectativa é de que traga bons resultados. Do jeito que está fica difícil ser competitivo, principalmente com exportações com os problemas do câmbio.

Acre Economia – Todas as vezes que é colocada a relação entre ‘preservar meio ambiente e desenvolver-se economicamente’, seja nas questões privadas ou na esfera pública, nunca houve dúvidas. A opção é sempre pelo desenvolvimento. O senhor concorda com isso?

Carlos Sassai – Atualmente, não há como nós, enquanto empresários, deixarmos deatender à questão ambiental. Não é só a viabilidade econômica o que conta. Aqui no Acre, já estamos habituados a trabalhar com isso. Nós nos conscientizamos que isso é importante. Precisamos trabalhar pensando em sustentabilidade senão você não consegue desenvolver os seus projetos.

Acre Economia – Se a Federação das Indústrias hoje for chamada a se posicionar sobre prospecção de petróleo ou efetivar a Reforma no Código Florestal, a Fieac já tem uma posição a respeito disso?

Carlos Sassai – Sim, temos. Em relação à reforma no Código, a gente não pode também… [gaguejando] Acho que a preocupação tem que ser daqui pra frente, né? Teve outras épocas que não existia essa preocupação… Há trinta anos, até se punia o agricultor que mantinha a floresta em pé. Sobre o petróleo, nós vamos trabalhar com isso aqui na região. Temos que arranjar a melhor forma de proteger o meio ambiente e trazer o melhor desenvolvimento para a região, né? Nós temos aqui aproximadamente 800 mil pessoas que têm que sobreviver, né? E se temos o gás ou petróleo, por que não?


NOTAS ECONÔMICAS

Dança dos números
A coleta e interpretação dos números do IBGE são sempre uma incógnita. Pesquisadores diminuem a importância da Produção Agrícola Municipal feita em 2009 em detrimento do Censo Agropecuário feito em 2006. Para o jornalismo, vale a regra do que é mais recente.

Mini-franquias
Quem chega ao Acre para tentar expandir investimentos é a Zaiom. Trata-se de uma rede de pequenas franquias. No Acre, os setores priorizados são os de informática (com o selo “Amigos do Computador”) e paisagismo (com o selo “Dr. Jardim”). O investimento inicial para possíveis franqueados é de R$ 20 mil. Mais informações, pelo telefone: (11) 2146-0909.

Vai demorar
Ainda vai demorar (e muito) para que os agricultores acreanos tenham uma nova postura diante dos loteamentos agrícolas. Poucos escolarizados, sem contabilizar os custos de produção e com a presunção de que “a vida toda plantou ‘assim’ e não vou mudar” fica difícil melhorar a produtividade. Haja argumento por parte dos técnicos e agrônomos extensionistas.

Refrigerante I
Fábrica de refrigerantes Dydyo, de Rondônia, se prepara para iniciar a construção de uma indústria no Distrito Industrial de Rio Branco. Empresário Robson Dorner informa que a entrada em operação da fábrica dependerá da entrega dos equipamentos de produção, muitos dos quais são importados e chegam a demorar até um ano para serem entregues. Mas Robson garante que está trabalhando junto aos distribuidores para agilizar a instalação do maquinário em Rio Branco.

Refrigerante II
A Dydyo Refrigerantes está situada em Porto Velho, com centro de distribuição em Ji-Paraná e distribuidores parceiros em todos os municípios de Rondônia, bem como em Rio Branco e no Amazonas. Além do empreendimento no Acre, a empresa se prepara para inaugurar, em agosto, uma das mais modernas indústrias de fabricação de embalagens PET do país.

Reconhecimento
Presidente da Associação Comercial, Industrial, de Serviço e Agrícola do Acre (Acisa), João Batista Fecury, envia email para o Acre Economia, destacando o reconhecimento da entidade ao trabalho desempenhado por este suplemento de A GAZETA. “Cremos que o esmero em mostrar as diversas linhas de opi-niões dos empreendedores sobre o mesmo assunto permite ao leitor a consolidação de sua própria”, diz a mensagem.

Cheques
A implantação da “compensação digital” possibilitará que cheques sejam compensados em até dois dias, a partir de 20 de julho. A informação é da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), que explica: o procedimento é mais seguro porque reduz a possibilidade de clonagem, extravio, perdas e roubo dos cheques. Atualmente, dependendo da localidade, a compensação pode demorar até 20 dias úteis. Os bancos terão 60 dias para adaptação ao novo sistema.

Queda de vendas
Pesquisa da Fecomercio-Acre apontou que a venda de automóveis no Estado passa por um período de desaceleração. Nos primeiros quatro meses deste ano, houve queda de 7,7% no número de veículos comercializados em relação ao mesmo período do ano passado. Comparando com os últimos quatro meses de 2010, o número chega a mais de 38% de diminuição das vendas.

Efeito psicológico
O presidente da Fecomercio, Leandro Domingos, explica que a retração começou após a política de contenção da inflação imposta pelo Governo Federal, por meio da qual houve uma adequação das taxas de juros. Domingos avalia que o consumidor se afastou das lojas por “efeito psicológico” e por influência da mídia, visto que as taxas não tiveram grande aumento. Mas ele diz que acredita na retomada do consumo de veículos no Estado para logo.


Endividamento atinge 76% das famílias acreanas, aponta pesquisa da CNC

MAÍRA MARTINELLO

Mais de metade dos acreanos está endividada, segundo revelou a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. De acordo com o levantamento que ouviu 500 famílias em Rio Branco,o nível de endividamento no Estado, neste mês de maio, foi de 76%, e o de inadimplentes (pessoas que afirmam que tem contas e dívidas em atraso) foi de 24%.Em relação a maio de 2010, o índice atual registrou aumento de 1,5%.

Os indicadores são mais positivos do que os apresentados no último mês de abril, quando 81% dos entrevistados se disseram endividados e 26,5%, inadimplentes. Entretanto, o percentual de pessoas com dívidas no Acre chega ser maior do que a média na-cional, que cresceu em maio, no comparativo com abril, e atingiu 64,2%. Quanto ao nível de inadimplência, o Estado praticamente empatou com o resultado nacional, que foi de 24,4%.


Economistas Carlito, Robinson e Cláudio analisam causas do endividamento

Dentre os consumidores inadimplentes, 7% afirmaram que não conseguirão pagar as dívidas. Este índice é considerado, de certa forma, positivo pelo economista Robinson Braga, chefe do departamento de Economia da Ufac. Ele avalia que, apesar de o percentual de endividados estar elevado no Estado (76%), o que é, sim, preocupante, o número de pessoas que declarou não ter condições de quitar as contas é “administrável”.

A pesquisa aponta, entretanto, um avanço da inadimplência para o segundo semestre, uma vez que, dentre os endividados, 43,2% afirmaram que a família está comprometida com as dívidas por mais de um ano. 29,8% ainda terão dívidas daqui há três meses; 15,3% entre três e seis meses; e 10,5% entre seis meses e um ano.

Evolução
A pesquisa da CNC traz o acompanhamento do índice de endividamento no Acre, nos últimos 13 meses, e mostra que a taxa vem crescendo,desde novembro do ano passado, quando foi registrado o total de 72,5% de famílias endividadas. Nos cinco meses anteriores de 2010, o valor se manteve em torno de 65%.

O doutor em Economia Raimundo Cláudio Maciel destaca que, nesta análise, é preciso levar em conta, principalmente os valores observados em maio de 2010 e o deste mês, que são praticamente os mesmos (74% e 75,5% respectivamente). “Há um ano, estávamos quase do mesmo jeito. A variação foi de apenas 1,5%. Ou seja, não estamos tão mais endividados.A variação no intervalo dos meses é normal”.

Cláudio diz que, para entender o atual nível de endividamento das famílias brasileiras, é necessário explicar a conjuntura econômica pela qual passa o Brasil.”O governo Lula utilizou uma estratégia para alavancar o consumo e segurar o PIB do país durante a crise de 2008 e 2009: baixou as taxas de juros e facilitou o crédito. Isso impactou diretamente na taxa de endividamento. Neste início de governo, a presidente Dilma faz o movimento contrário: eleva as taxas de juros e adota medidas de retração de crédito. O país passa por um período de desaquecimento da economia, de regulação e ainda é cedo para prever como o mercado vai se comportar”.

O crescimento dos empréstimos em ritmo mais rápido do que o da renda, o aumento do custo do crédito e o espaço reduzido para elevações nos prazos de financiamento também são apontados como fatores que estão levando a um maior comprometimento da renda das famílias brasileiras com dívidas.

O presidente da Fecomercio do Acre, Leandro Domingos, responsabiliza o Governo Federal pelas políticas “ultrapassadas e ineficientes” de contenção da inflação. “Um dos desafios é a formulação de um sistema avançado de avaliação do risco de crédito”, sugere Domingos. “Para que o endividamento do brasileiro se torne sustentável, é necessário que a atual metodologia de avaliação do risco seja revista”. Apesar do momento de desaquecimento, ele acredita que, em breve, os negócios tomarão seu ritmo normal.

O economista Carlito Cavalcante aponta ainda dois componentes da realidade econômica do Estado que contribuem para que, no Acre, os índices de endividamento fiquem um pouco acima da média do país:
“Numa região com altas taxas de concentração de riqueza e baixa geração de renda e empregos, os impactos do endividamento tendem a ficar mais evidentes, uma vez que a população pode até consumir mais pelas facilidades de crédito, mas não tem, de fato, dinheiro e bom planejamento para manter o equilíbrio financeiro por muito tempo”.

Carnês e cartões de crédito lideram os débitos
Os débitos em carnê motivaram as dívidas para 55,9% dos consumidores acreanos com renda até 10 salários mínimos, seguida pelo cartão de crédito, com 44,3%. Entre os entrevistados com renda acima de 10 salários mínimos, o cartão foi principal responsável pelo endividamento, apontado por 57,1% dos entrevistados. O crédito consignado vem em segundo, com 32,1%.

No balanço geral do país, o cartão também foi apontado como o grande vilão dos endividados, o que fez comque o Banco Central aumentasse a taxa de pagamento mínimo da fatura de 10% para 15%, a partir de 1º de junho. A partir de dezembro, o valor mínimo sobe para 20%.

Além das fortes implicações sociais que o aumento das dívidas pode causar ao indivíduo, como problemas de saúde física e mental, marginalização e mesmo a dissolução das famílias, os economistas concordam sobre os efeitos negativos do endividamento sobre  a economia: incapazes de cumprir seus compromissos financeiros, as famílias naturalmente vão conter as despesas de consumo privado, especialmente de bens de consumo duradouro. O efeito da diminuição do consumo privado faz-se sentir diretamente na diminuição do crescimento do PIB, ou seja, no abrandamento do crescimento econômico.

 

 

 

A Gazeta do Acre: