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De olho na vida alheia

Num certo dia do passado, em algum lugar, fazia minha sesta após o almoço, quando repentinamente ou de modo súbito  a casa ficou sem energia elétrica. Minutos depois quando saí para as minhas obrigações docentes, ao chegar ao portão da casa, recebí a “boa nova” por un joven que junto com outros, matavam o tempo à sombra de uma pequena árvore: professor cortaram a sua luz! Olhei de soslaio para os jovens e respondi: depois eles religam!

Este acontecimento reflete o quanto, você e eu, leitor estamos de olho na vida alheia. A propósito, o filosófico existencialista Martin Heidegger (1889-1976) dizia que a queda do homem no plano das coisas do mundo, ou seja, o declínio da existência humana desceria ao nível da inautenticidade e banalidade; desceria ao “estado de dejeção”. Esta é uma situação  em que a existência humana se distância de si, esconde a si mesma sua possibilidade própria e se abandona ao modo de ser anônimo. É um estado em que o homem que se caracteriza pela “tagarelice, pela curiosidade e pelo equívoco”. O termo dejeção se aplica de forma fenomenal aos dias de hoje. Vivemos a época da falação, das tagarelices e dos discursos falaciosos ditos para enganar. 

No campo da curiosidade humana, o presente século vive de olho na vida alheia e do que é alheio. Não é à toa que, mundo afora, milhões de pessoas gastam um bom dinheiro nas bancas de revistas; dedicam mais tempo  ainda, com a mídia eletrônica, tudo com o fito de viver mais bem informado. Ocorre que a maio-ria, por não possuir massa crítica, despende seu tempo e dinheiro, pelo simples valor do entretenimento de ver, com antecedência, as fofocas sobre as “celebridades”  e quanto mais bizarras essas fofocas, melhor. No passado, até recentemente, editores talentosos ofereciam coletâ-neas fascinantes de contos antigos e novos, que entretinham enquanto enriqueciam a alma. Na cultura pós-moderna os vândalos, mascarados de inovadores da cultura da teledramaturgia e outras pseudo-s artes cênicas, apontam para atratividade física, o sucesso material e a realização individual, numa emulação sem precedentes. Nas novelas, e outras produções de igual teor e baboseiras, pontificam os perigos plásticos dos ricos e bonitos e uma exagerada veneração ao dinheiro, ao sexo irresponsável, ao poder, aos bens de consumo e a fama. Custe o que custar! O público, composto na sua grande maioria de telespectadores que não tem o que comer, mas que possui aparelho de TV em casa, passa a endeusar os “atores” num verdadeiro culto à fama. “Atores” que na sua maioria são desprovidos de princípios éticos minimamente exigidos.  A televisão brasileira a partir do fim da tarde só atende três linhas de programação: num horário é abordada a violência urbana; depois é só novela e; mais tarde pontificam os programas de auditórios. Não tem para onde correr.

Não fora pela excessiva  curiosidade da “macharada” e de  algumas homoafetivas essas revistas de  nudez explícita  e de ensaios sen-suais de homens e mulheres esta-riam fadadas ao lixo.  Só à guisa de curiosidade, o babado da semana  fica por conta a ex-BBB Maria  posar  nua  para a revista Playboy.

No passado o ator e teatrólogo Paulo Autran (1922-2007), foi perguntado por uma repórte o que ele “achava” da gravidez da Xuxa. Não acho nada. Há tantas jovens brasileiras grávidas, por ai, porque eu tenho que opinar sobre a gravidez da Xuxa. Outro exemplo de notícia bizarra é dizer que  William e Kate, agora Duque e Duquesa de Cambridge, se mudarão dentro de algumas semanas para a casa que foi da princesa Diana. O que nós daqui de Rio Branco temos a ver com este tipo de notícia, antes queremos saber, quando aquelas famílias que moram em áreas alagadiças, cafundós, etc, se mudarão para novas e seguras moradias.

Outra coisa que chega ser irritante é o “forçar de barra” que a imprensa descarrega sobre Britney Spears. Essa moça, além de andar por aí sem calcinha, só faz besteira. Aliás, como foi considerada mentalmente incapaz, deveria está confinada em um hospício .

Sabe, leitor, acho que sou extremamente obtuso para andar preocupado com notícias bizarras ou mesmo com declarações de alguns bam-bam-bam’s da pós-modernidade; a moderação não é a praia dessa gente. 

Por outro lado, confesso que o meu lado curioso está aguçado, ansioso para ouvir uma explicação plausível de como se deu essa riqueza relâmpago do sr. Palocci. Um homem com cargo público que enriqueceu em pouco tempo de forma fenomenal.

Tenho, também, a curiosidade de saber como a presidente Dilma fará para honrar uma promessa de campanha: Construir 6 mil creches e pré-escolas até o fim do seu mandato, pois para materializar a promessa  terá de construir uma creche a cada 5 horas e 27 minutos.

Entretanto, devo moderar minha curiosidade, pois que, já diziam os antigos: curiosidade mata!

E-mail: assisprof@yahoo.com.br

 

Categories: Francisco Assis
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