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Gladson Cameli: “o PP continua unido e aliado da Frente Popular”

Nos últimos dias, o governo estadual sofreu alguns revesses no plano político. Rebelião na base aliada, truculência policial, desentendimentos com o Judiciário e a ameaça de uma greve geral do funcionalismo público. Uma grande baixa, no entanto, ainda estava se desenhando e se concretizou esta semana: sob nova direção, o PP está mais independente do PT e da FPA.

A ascensão do deputado federal Gladson Cameli e o consequente fim da ‘Era César Messias’ representou um duro golpe naquilo que o grupo mais se orgulhava: a sua unidade política. “Não mudamos a caminhada, apenas a forma de caminhar”, assim resumiu o parlamentar, assegurando que a legenda continua aliada do governo e da FPA.

Prudente, Cameli faz o possível para que a transição seja menos desgastante. “Na nova direção estarão contempladas todas as forças políticas internas”, garante ele, para quem o exercício da democracia interna, o respeito à pluralidade e transparência são ‘marcas registradas’ do partido.

Ele promete estruturar a legenda em todos os municípios, lançando o maior número possível de candidatos a prefeito em 2012. Também quer instalar no Estado a Fundação Milton Campos, cujo papel principal seria formar ‘quadros’, não obstante à assessoria política e estatística. Gladson sabe que um vôo mais alto em 2014 depende desses fatores.

Ocupando uma das funções mais estratégicas da Câmara Federal, a presidência da Comissão da Amazônia, Cameli que unir e articular as bancadas de todos os estados e exigir mais investimentos, com políticas públicas consequentes.  “É preciso desenvolver a nossa região, principalmente os estado de Roraima e Acre, que possuem os piores PIB´s do Brasil”, comentou.

A reativação da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), as efetivações das Áreas de Livre Comércio (ACL) e Zona de Processamento de Exportação (ZPE) são, na sua avaliação, as ‘medidas emergenciais’ para tirar o Acre da dependência de repasses da União e de emendas parlamentares. Para se contrapor a isso, ele defende o que o saudoso economista Celso Furtado chamava de autodesenvolvimento: agro-industrializar os produtos agrícolas nas próprias comunidades.

Com apenas 33 anos e no segundo mandato de deputado federal, o engenheiro civil Gladson Cameli é filho de Eládio Cameli, um dos mais fortes empresários da construção civil dessas paragens. Ele recebeu a reportagem de A GAZETA na sede do partido, onde concedeu a seguinte entrevista:

A GAZETA – O seu mandato ganhou visibilidade, notadamente depois que o senhor chegou à presidência da Comissão da Amazônia. O que poderia ser feito pelo Acre e Região Norte.

Gladson Cameli – Primeiro é uma satisfação ser o segundo parlamentar acreano a ocupar o cargo. Trata-se de uma comissão estratégica, uma vez que é totalmente ligada ao Ministério da Integração Nacional. Todos os projetos e investimentos, para os nove estados componentes da Amazônia, passam por ela. Há um sentimento na comissão de que é preciso encontrar alternativas para os 27 milhões de amazônidas. O desenvolvimento, no entanto, deve levar em consideração as nossas particularidades, principalmente o de preservar os nossos recursos naturais, que são fundamentais para se criar novas alternativas econômicas. 

A GAZETA – E quais seriam elas essas alternativas?

Gladson Cameli – A agricultura é perfeitamente viável, deste que se incorporem novas tecnologias e se implante uma política agrícola verdadeira. Temos um enorme potencial pesqueiro, que é pouco explorado. Por termos a maior biodiversidade do planeta, também podemos explorar a indústria de fármacos e cosméticos. E, por fim, podemos industrializar a nossa fruticultura e demais produtos agrícolas, criando uma cadeia produtiva, porque envolve os setores primário, secundário e terciário (agricultura, indústria e comércio). Mas veja bem: esse desenvolvimento é sem degradar o meio ambiente e elevando a qualidade de vida da maioria da população. Tudo isso, aliado à instalação da ZPE, que pode garantir a exportação dos nossos produtos para a Ásia e Costa Leste Americana.

A GAZETA – A região do Vale do Juruá é considerada a de maior biodiversidade do planeta. É possível indústrias de fármacos e cosméticos se instalarem por lá? O que está faltado?

Gladson Cameli – É possível porque o Acre tem a simpatia do governo da presidente Dilma. Brasília é sensível às causas da Amazônia, principalmente na busca por alternativas econômicas. Está faltando articulação política e pressão das nossas bancadas junto à presidência.

A GAZETA – A principal missão da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) é fomentar o desenvolvimento da Amazônia Ocidental. Sendo o Acre o estado mais ocidental do país, por que as Áreas de Livre Comércio (ACL) de Brasiléia, Epitaciolândia e Cruzeiro do Sul não foram efetivadas?

Gladson Cameli – Está faltando pressão política do Governo do Estado em Brasília, até porque elas já estão implantadas. Já existem, em Cruzeiro do Sul, empresários importando produtos da China. Essa luta deve envolver toda a bancada acreana, articulada com as câmaras municipais, prefeitura e setores da sociedade civil organizada. Mas, voltou a repetir, o Governo do Estado deve fazer pressão para forçar a Suframa e demais órgãos a cumprirem as suas missões institucionais. Nos próximos dias, a Comissão da Amazônia vai convocar a presidente da Suframa, Flávia Grosso, para tratar das áreas de livre comércio de Brasiléia e Cruzeiro do Sul. É preciso efetivá-las e não dizer que estão funcionando.

A GAZETA – Havia uma convenção marcada para o dia 27 do mês passado, o que findou não acontecendo. O senhor pode dizer o que está acontecendo, uma vez que o mandato do presidente João Pereira expirou no fim do mês?

Gladson Cameli – Foi com o propósito de se fazer uma política coerente, dando respostas aos eleitores e à base partidária, que ocupamos um espaço político vital para uma reestruturação partidária. O PP é um partido grande, que já possuiu, em seus quadros, cargos como o de senador, tinha quatro deputados federais e governadores. Atualmente, somos uma das legendas mais fortes no Vale do Juruá. Estamos atendendo a um apelo do diretório nacional para a sigla volte a crescer e aparecer. O número 11 precisa estar nas ruas e volta a figurar nas disputas majoritárias. O que acontece no PP acontece em qualquer partido. A alternância de poder é um dos principais pilares da democracia. Esse problema já foi solucionado, uma vez que a nossa coesão é sempre calcada no número 11.

 A GAZETA – Todo grupo político, que pretenda alcançar cargos majoritários em 2014, precisa, necessariamente, ‘mover as pedras’ acertadamente nas eleições de 2012. Nesse cenário, o senhor poderia migrar para a oposição e ser candidato a senador?    

 Gladson Cameli – Não. O PP é e vai continuar sendo da Frente Popular. Volto a repetir: é recomendação do diretório nacional que a sigla esteja fortalecida nas próximas eleições. Onde não pudermos lançar candidatos a prefeito, a gente lança como vice. Vamos ter, ainda, um time muito forte de candidatos a vereador em todos os municípios. O PP não será omisso e vai se colocar no lugar dele, sendo um partido verdadeiramente grande.

A GAZETA – A impressão que se tem, aqui de fora, é a de que o partido está expondo suas ‘vísceras’. O PP não estaria rachado? 

Gladson Cameli – Em absoluto. Como você está vendo, estamos, neste momento, fazendo uma reunião para fazer uma transição transparente e fraterna. Eu tenho muito orgulho de ser desta sigla, que é composta por homens e mulheres honrados e abnegados. Na segunda-feira, eu e o César vamos sentar e nos entender.  

 

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