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Cavalgada movimenta quase R$ 2 milhões

A Expoacre começa muito antes da cavalgada.Quando o som do berrante anuncia o início do trajeto do Calçadão da Gameleira até o Parque de Exposições Marechal Castelo Branco, os caminhões alugados estão totalmente adaptados com motivos “country” pelas comitivas; com integrantes vestidos com camisas personalizadas; embalados por músicos regionais e muita cerveja e churrasco. As lojas e restaurantes do Parque estão prontos para receber os visitantes e clientes. Para que tudo isso esteja funcionando, em alguns setores do comércio regional, a preparação para o evento começa com até seis meses de antecedência.

É o caso do setor de malharia. As camisas coloridas, enfeitadas com imagens que mostram o rústico cotidiano dos peões de boiadeiro ou domadores de cavalos são confeccionadas em indústria de transformação nos bairros da periferia de Rio Branco. A Stágio Confecções está no mercado desde 1996. Emprega diretamente 40 pessoas em um espaço de 700 m², no bairro Nova Esperança, com maquinário comprado sem apoio dos bancos que lhe negaram ajuda. O pedido das malhas para as indústrias do Sul é feito com seis meses de antecedência e, desde junho, passou a aceitar os pedidos das comitivas no final de junho.

A expectativa é de que a produção alcance duas mil camisetas de manga longa. “Esse foi o melhor ano”, comemora o proprietário da Stágio Confecções, Luís Carlos Guimarães, em meio ao barulho das máquinas e o vai e vem dos 40 funcionários. “Depois da produção dos uniformes escolares, a Expoacre é responsável pela maior movimentação aqui na indústria”.


Festa de abertura da Expoacre é mais esperada que o Natal e Ano Novo, dizem organizadores

As camisetas são levadas a todo instante pelos organizadores de uma das 57 comitivas que devem desfilar este ano na Via Chico Mendes. Para participar das comitivas, cada integrante paga até R$ 150. A quantia dá direito a uma série de serviços: open bar, churrasco, garçons, banheiro, música ao vivo, segurança privada, coletores de lixo (algumas comitivas estendem a festa até o dia seguinte quando oferecem um café da manhã aos integrantes). É um sistema já nacionalmente conhecido pelo carnaval da Bahia, com a venda dos abadás para acompanhar os trios elétricos.

Alguns caminhões alugados são ornamentados para a festa. Madeira, papel, pinturas, tecidos, luzes. Algumas ornamentações chegam a ser orçadas em mais de R$ 5 mil. Ano passado, participaram da festa de abertura nada menos que 98 carretas. A maior parte tinha ornamentação.

Comitiva gera 150 postos de trabalho
A “Galpão Modelo” é a maior de todas comitivas. O investimento inicial dos organizadores é de R$ 70 mil, contando com o apoio dos patrocinadores, para garantir infraestrutura.Há quatro anos, vence a competição como a maior e mais organizada comitiva da Expoacre. No 1º ano, saiu com 350 pessoas. Este ano,  600 pessoas já compraram a camisa. Os organizadores da “Galpão Modelo” garantem que só não ampliam a quantidade de participantes porque os organizadores da feira estabelecem limite para o total de equipamentos utilizados. Este ano, a comitiva já sai com três trios elétricos e duas carretas bitrens, mais os cavalos.


Os organizadores Thiago Melo e Joel Marszalek

Só o “Galpão Modelo” gera 150 postos de ocupação diretos, entre o bar, que tem a temporada de eventos voltada para Exposição, e a cavalgada. “A organização da comitiva é muito trabalhosa”, afirma um dos proprietários, Joel Marszalek. “São quatro meses praticamente dedicados a isso. Mas é, sim, um negócio muito lucrativo”.
Outra grande comitiva é a “Laço Acreano”. Há duas semanas, esgotaram as vendas das camisas para os participantes, a R$ 150 cada. “Serviços de catadores de lata, churrasqueiros, garçons, banheiros, eu terceirizo”, informa um dos sócios do grupo, Cleiton Oliveira. “E imaginar que tudo começou como uma festa de amigos”. Com estimativa de custo para a organização da “Laço Acreano” em mais de R$ 100 mil, os organizadores vão levar para a cavalgada 450 integrantes.

Moda para quem pode
A vestimenta é uma parte nada desprezível no grande negócio em que se transformou o evento.Há lojas que se especializaram no setor “country”, fazendo adaptações para se sustentar no mercado fora da época da Expoacre. Mas, na prática, todos os esforços têm os meses de junho e julho como estratégicos. “Essa época do ano é uma loucura”, constata um dos sócios da “CowboysRunch”, Luiz Alberto Teles. “O mês de julho é o nosso mês”. A loja está no mercado há exatos três anos. Em junho e julho, as vendas aumentam, em média, de 40 a 50%.


Com couro de arraia, bota chega a custar R$ 1,6 mil

E tem gente que investe alto. Não são poucos os clientes que chegam a pagar R$ 1,6 mil por uma bota. Com couro de arraia, o acessório já é peça garantida na vestimenta de muitas mulheres na Expoacre. Cintos de couro custando quase R$ 800 também fazem parte do ritual para ser um ‘cowboy’ em grande estilo.

A cavalgada tem se consolidado como um momento estratégico da Expoacre. Depende dela o sucesso ou o fracasso do tom ideal dado ao resto da festa. Fazer uma boa abertura é bom para todos. Por isso, à medida que o dia 23 se aproxima, o nervosismo aumenta. Tudo é importante. Em todos os detalhes. Para alguns, custe o que custar.


Dezesseis empresas iniciaram processo para ingresso na ZPE


ITAAN ARRUDA

A Zona de Processamento de Exportação do Acre despertou interesse em 36 empresas, mas apenas 16 estão com processo formalizado junto à Câmara Técnica vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que oficializa a entrada. No final desse mês, o presidente do conglomerado peruano do Grupo Glória, Jorge Rodriguez, faz visita ao Acre. A vinda do industriário é consequência da vistoria feita por executivos da empresa peruana em abril deste ano, quando anunciaram a possibilidade de produção de fertilizantes na ZPE acreana e instalação de uma indústria de beneficiamento de leite no parque do Distrito Industrial.

Das 16 empresas interessadas, 11 são acreanas. Cinco são grandes empresas, uma está ligada ao setor de veículos automotores. A Kasinsky, indústria de motocicletas, quer vir para cá. Em abril deste ano, técnicos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio já iniciaram conversas com representantes da empresa japonesa em São Paulo. A intenção do Governo do Acre é fazer com que os pneus das motocicletas sejam produzidos aqui e enviados para Manaus por meio da hidrovia do rio Madeira.

Uma transnacional do setor de cosméticos e farmácia está saindo da Venezuela com reais possibilidades de se instalar no Acre. O secretário de Estado de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães, não quis adiantar o nome da empresa. “Articulações estão sendo feitas”, garantiu. “Mas, não dá para adiantar senão dá azar”.


Delegado da Receita acompanha implantação da ZPE

 Antes das empresas, a burocracia
No plano econômico, a semana que passou foi marcada pela presença do Delegado da Receita Federal no Acre, Leonardo Frota. Ele foi conferir o andamento dos processos executados pelo Governo do Acre para implantação da Zona de Processamento de Exportação.“Estamos tentando nos antecipar aos problemas”, afirmou. Leonardo Frota informou que é a primeira vez que participa da implantação de uma ZPE.

“A Receita poderia apenas apresentar as regras a serem seguidas e depois conferir se foram seguidas”, informou. “Mas, isso, em nada ajudaria na execução do projeto”, disse para justificar o envolvimento no acompanhamento dos trabalhos, acompanhados por técnicos do governo estadual.

Todo cuidado nessa etapa dos trabalhos serve para garantir o alfandegamento, medida necessária para que as indústrias instaladas na ZPE tenham taxas aduaneiras eliminadas. “Se nós não cuidarmos dessa etapa do processo, não conseguiremos sucesso no projeto”, ressaltou o secretário de Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães. O governo quer concluir o alfandegamento em agosto, antes anunciado para final de julho. 

 

 


 

 TIM busca parceiros no Acre com foco em pequenas e médias empresas

MAÍRA MARTINELLO

A operadora de telefonia móvel TIM está buscando empreendedores no Estado dispostos a investir em lojas de revenda da marca, com foco em oferecer planos tarifários e serviços exclusivos para o mercado de pequenas e médias empresas (PME). De acordo com o gerente Consumer da TIM Centro-Oeste, Eduardo Rossi,a empresa trabalha num projeto de expansão na região Norte e observou no Estado um nicho crescente de empresas desta categoria, que já demanda serviços customizados de telefonia.


Gerente Consumer da TIM, Eduardo Rossi: boas oportunidades de negócio no Acre

“O Acre ainda é um mercado carente no ramo da telefonia, devido ao seu isolamento geográfico, e os consumidores acabam pagando muito caro por este serviço, às vezes até sem a qualidade prometida. A TIM é a quarta colocada na região entre as operadoras, com 9% do market share, mas já observamos um grande mercado potencial para expadir nossa atuação. Com certeza, existem boas oportunidades de negócios para a TIM e para os empresários locais neste segmento da PME e estamos dispostos a investir em novos parceiros”, afirma o gerente.

Segundo dados do Sebrae/Dieese, o Brasil possui hoje 5,9 milhões de pequenas e médias empresas formais, o que corresponde a 97,5% das companhias brasileiras. Somente no Centro-Oeste e Norte, a operadora estima que existam 450 mil empresas constituídas e que seriam alvo desse modelo de negócio.

Eduardo explica que o formato das lojas de revenda da TIM voltado para as PMEs se assemelha ao de uma franquia, porém com maior flexibilidade de atuação por parte do empresário e também melhor retorno financeiro.

Como no sistema de franquia, a loja é padronizada em relação a layout, sistemas e organização de forma geral. A TIM também se responsabiliza em repassar o know-how durante a implantação da empresa, com a capacitação dos consultores, treinamentos sobre produtos e serviços e acompanhamento das negociações e da lucratividade. As diferenças são que o empresário tem a flexibilidade de trabalhar com outros tipos de negócio e não tem a obrigação do pagamento dos royalties.

O valor do investimento para abertura da loja é a partir de R$ 50 mil; e o lucro líquido varia entre 8% e 15% ao mês.

“Além da amplitude comercial do segmento, o retorno financeiro de uma revenda especializada em PME é maior do que a média de uma franquia, por exemplo.Em geral, o empreendedor leva dois anos para recuperar o investimento inicial do negócio. O modelo implantado pela TIM garante o retorno entre 12 e 15 meses, com 100% do retorno do investimento”, destaca o gerente.

Sobre os planos 
Eduardo Rossi destaca que a TIM possui planos corporativos, com conceitos inovadores, como o plano TIM Empresa Mundi, opção econômica que permite ligações para qualquer direção – locais, DDD e DDI – com a mesma tarifa. Outra opção para o segmento é o plano Liberty Empresa, que oferece o benefício de chamadas locais e de longa distância ilimitadas para qualquer número TIM (móvel ou fixo), por um valor fixo mensal a partir de R$ 29 por linha contratada.  

“As oportunidades são inúmeras e podem representar uma grande economia para as empresas clientes e, consequentemente, lucratividade para as lojas de revenda. Em Brasília, já contamos com seis lojas neste formato de negócio, que tem gerado boa rentabilidade. No Acre, ainda não há nenhuma, por isso acreditamos que se trata de um mercado muito promissor”, ressalta.

As empresas e/ou empreendedores interessados em representar comercialmente a TIM no Acre, com potencial de investimento e perfil arrojado, podem enviar e-mail para o endereço eletrônico: parceiroco@timbrasil.com.br


ARTIGO

Turismo, uma atividade viável economicamente para todos

Sidney Tapajós

Rio Branco, capital do Acre, é o mais populoso município do Estado, com população de 691.132 habitantes, distribuída em uma área de 152.581,388 km2, com a área de unidade territorial de 9.223, apresentando uma densidade populacional de 33,17. Quase metade da população estadual está na Capital, tendo, ao todo, 22 municípios o Estado do Acre (IBGE, 2009).

O turismo por ser uma atividade social e econômica, de cunho intersetorial, se baseia no crescimento mútuo das partes que o integram. Tanto a infraestrutura de uma região, até as empresas privadas nela existentes são influenciadas em função do efeito multiplicador que gera investimento e aumento de demanda interna e receptiva. Além de elevar a demanda de emprego, o turismo também proporciona a geração de rendas para o setor público, representado por impostos diretos e indiretos que incidem sobre a renda total na economia local. Busca movimentar a economia de forma macro, no entanto não é difícil verificar a quantidade de setores que são beneficiados por essa movimentação.

Para estruturar um produto turístico, vários setores são necessários:

– setor público deve contribuir com a questão da infraestrutura, incentivar e dar base para a implantação da atividade;
– setor privado deve arcar com a montagem dos equipamentos necessários para atender a comunidade receptora e os turistas.

A aproximação do turismo no conceito de “impulsionador de desenvolvimento socioeconômico” significa investir em um processo no qual o crescimento econômico, histórico-cultural e social acontece de maneira equilibrada, abrindo espaço para atuação responsável tanto da sociedade civil organizada como do poder público.

Segundo a OMT (2001, pag.08), “O Turismo é considerado como um motor da atividade empresarial devido as suas múltiplas conexões com os demais setores da economia. A atividade é composta por um grupo heterogêneo de empresas que dependem uma da outra.”

O turismo não deve visar apenas o ganho monetário. Mas também o ganho de sustentabilidade, que acontece através de desenvolvimento econômico da região, integrando a melhoria da qualidade de vida da comunidade envolvida, conservação e preservação do meio, consequência disto, a valorização da identidade cultural.

Para que tudo isso aconteça de forma sistêmica, é preciso que todos os setores estejam funcionando, da formação do profissional até os gestores da atividade turística.

O Sistema Fecomércio/AC junto aos empresários da atividade turística vem procurando estreitar esses laços, buscando medidas para minimizar as diferenças, ofertando pesquisas mercadológicas, defendendo os interesses empresariais para que o mercado econômico se projete no cenário atual. 

De acordo com LAGE e MILONE (2000, p.226):
[…] A riqueza gerada pelas múltiplas atividades não mais existem, nem o tempo importa mais. O que se observa do turismo atual é a existência de uma rica e grandiosa indústria que se relaciona com todos os setores da economia mundial e que deverá continuar atendendo aos interesses da humanidade nos próximos milênios.

Além do mais, o turismo se bem planejado e controlado funciona como alternativa na renda local, valorização da cultura e redistribuição de renda.

Nesse sentido, é necessário considerar sua utilização pela atividade turística como uma forma indispensável no desenvolvimento socioeconômico do município ou região, o turismo cada vez mais, economicamente viável para todos os setores.

Fecomércio / AC
Sidney Tapajós  é turismólogo e coordenador da Câmara de Turismo

REFERÊNCIA
OMT, Introdução ao Turismo. São Paulo. Ed. Roca, 2001.

LAGE, B. H. G.; MILONE, P. C. Economia do Turismo. 7a Ed. São Paulo: Atlas, 2001.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo#Import.C3.A2ncia_econ.C3.B4mica. Acesso em: 25 de junho de 2011.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Cidades Brasileiras 2009 Disponível em:
< http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1  >. Acesso em: 26 jun. 2011.
Prefeitura Municipal de Rio Branco – Disponível em: <http://www.riobranco.ac.gov.br/v4/ >. Acesso em: 25 jun. 2011.
http://www.obsturpr.ufpr.br/artigos/turismo03.pdf. Acesso em: 27 jun. 2011.

 


ENTREVISTA

Uma grande PPP

ITAAN ARRUDA

Ele é um liberal convicto e corinthiano incorrigível. Em época de discussões sobre obras de infraestrutura para a Copa de 2014, Miguel Ignatios, Presidente Nacional da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, se diz “envergonhado e apreensivo” com a lentidão do Governo Federal em decidir. O perfil vacilante do Palácio do Planalto, segundo Ignatios, traz insegurança à iniciativa privada e não esconde a desconfiança de que, por causa da ingerência, o evento não seja realizado aqui.

Miguel Ignatios é presidente do Conselho Brasil-Peru e um entusiasta da integração brasileira com a Ásia, via Pacífico. Em uma rápida conversa na sede da Federação de Agricultura e Pecuária onde ocorreu um modesto, mas qualificado debate sobre desenvolvimento econômico na última quinta-feira, ele conversou com a equipe do Acre Aconomia.

 Acre Economia_ Como a ADVB no plano nacional avalia as mudanças que estão ocorrendo na economia acreana nos últimos anos?
Miguel Ignatios_
O Acre é um estado que exige superação de desafios constantes. Ele constitui-se de um estado fronteiriço com Peru e Bolívia. Tem uma vocação mais voltada para o Oceano Pacífico do que para o Oceano Atlântico, entendendo “vocação” como uma expectativa de desenvolvimento integrado. O Acre é um estado que pode e deve escolher nichos de produção industrial, de acordo com a sua característica agropastoril e também poderia vir a ser um grande centro de desenvolvimento de tecnologia aplicada a produtos do agronegócio. Não vamos estimar que o Acre seja um pólo petroquímicoou um pólo de eletrônica avançada: já existem regiões do Brasil que descobriram essa vocação. Então, não sendo acreano e olhando de fora, eu posso errar, mas eu vejo que o Estado pode construir esse caminho, de priorizar a pesquisa e desenvolvimento de temas, de produtos e serviços voltados para o agronegócio com vistas à exportação. Se o Acre tivesse uma estrutura de uma ZPE…

AE_ Está sendo montada uma…
Miguel Ignátios_
Pois, então… se isso vier a ser feito, espero que o  discernimento da área governamental, associada à vocação da área empresarial, direcione para produtos de viabilidade com bases nos insumos locais visando exportação em escala maior, via Pacífico.

AE_ Na sua avaliação, o que deve ser feito hoje para que a estrada para o Pacífico não se torne apenas um corredor de exportação? O setor privado daqui já está com maturidade suficiente para encarar essa estrada com livre trânsito de mercadorias?
Miguel Ignátios_
A nossa experiência histórica como país é uma experiência em que o Governo foi sempre o indutor do desenvolvimento. Infelizmente, a nossa formação é radicalmente distinta da formação social dos Estados Unidos, onde o governo pouco opinou, pouco influenciou, desde a época da Colônia e, portanto, a sociedade civil e a iniciativa privada tiveram que fazer o papel realmente pioneiro do desenvolvimento americano. No Brasil, tudo girou em torno de governo, desde a vinda da Família Real. O Acrenão é diferente de qualquer outro estado, mesmo tendo sido anexado tardiamente ao Brasil. Aqui, como em qualquer lugar do país, depende de uma participação, de um direcionamento da área estatal em torno do desenvolvimento. É a época do Acre pensar em uma grande PPP, uma grande Parceria Público Privada que pode levar o estado a experimentar uma velocidade maior de desenvolvimento.

AE_ Quais mudanças podem ser efetivadas no setor privado local para que a qualidade na prestação de serviços mude radicalmente?
Miguel Ignátios_
O país, em alguns setores, está tendo um apagão de mão de obra qualificada. Em São Paulo, o governo focou a questão educacional, fundamentalmente no tema de caráter tecnológico e criou uma rede de Faculdades de Tecnologia[equivalente ao estudo de nível superior] e Escolas de Tecnologia [equivalente ao estudo de nível médio]. O Governo Federal também possui um sistema semelhante. O resultado de qualquer aplicação no setor educacional não vem em menos de 20 anos. Não quero pontificar regras para um local que admiro, mas não conheço em profundidade e, portanto, não posso tirar e nem propor soluções definitivas, mas a parceria com o Governo Federal na execução de escolas técnicas é um caminho eficiente para fazer com que a juventude acreana saia preparada para o mercado de trabalho e não só academicamente instruída.

AE_ O senhor tem produzido vários artigos na grande imprensa que deixa ao leitor a sugestão de que deveríamos “abrir mão” de sediar a Copa de 2014. Por que a falta de entusiasmo?
Miguel Ignátios_
Eu sou entusiasmadíssimo com a Copa do Mundo. Escrevi artigos sobre o meu entusiasmo em relação à copa… há três anos. E, de lá pra cá, eu não vi as coisas andarem da forma como deveriam andar. Então, isso não me levou ao desânimo. Levou-me a uma constatação da realidade: eu acho que a copa do mundo corre o risco de não ser realizada no Brasil. E, se for, ela não vai ser aquele fator de desenvolvimento que nós gostaríamos que fosse. Ou seja, que houvesse maiores investimentos na área de transporte, mobilidade urbana, saneamento básico, segurança… Não se trata apenas de construção de estádios. Nós estamos negligentes, na construção de estádios e omissos na construção da infraestrutura. Serão eventos de massa. Não podemos pedir que 40 mil pessoas se locomovam para os estádios de carro: se cada carro tiver 4 pessoas, teremos 10 mil veículos. Vai por aonde isso? Em torno do estádio? E não se fala disso! [mostrando certa irritação] Isso que eu fico triste. Fala-se só dos estádios!

AE_ A iniciativa privada também está insegura?
Miguel Ignátios_
Estamos em julho de 2011. A Copa será em julho de 2014. Temos, portanto, exatamente 36 meses. Se você fosse dono de um hotel de 100 apartamentos, numa cidade que iria ser sede da copa, você colocaria outros 100 apartamentos? Você construiria outro prédio para mais 100 apartamentos? Cem camas…? Cem televisões…? Cem frigobar…? Um restaurante…? Gente para treinar…? Talheres…? Travesseiros…? Lençóis…? Fronhas…? Colchões…? Cadeiras…? Mesas…? Olha aonde vai isso…!E somente para 100 apartamentos! Você teria confiança…?De tirar o seu dinheiro e aplicar e equipar para atender a um evento em que você sai na rua e percebe: “Caramba! O estádio da minha cidade tá com oito por cento feito… três por cento feito… onde está o metrô aqui… onde está a via de acesso…?” Como investir nesse ambiente? Como? Isto não é desânimo. Isto é realismo. Eu, realisticamente, digo: “Estou com medo.” Eu não tenho poder de decisão. Que vexame é esse de ter que alterar a lei de licitação [Regime Diferenciado de Contratações Públicas, recentemente aprovado pelo Senado] para ver se acelera a obra de uma coisa que está decidida há três anos? Os russos, que sediarão a Copa de 2018 já estão com os estádios mais avançados que os daqui! Eu fico com vergonha e ao mesmo tempo apreensivo. Eu não tenho poder de decisão. Eu posso analisar e alertar, mas decidir… não tenho como. 


 

NOTAS ECONÔMICAS

Ignatios I
Quem esteve por Rio Branco e quase passou despercebido foi Miguel Ignatios, presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) de São Paulo. O empresário é um desses corinthianos incorrigíveis que insiste em pensar sobre melhoria de infraestrutura não apenas para as obras da Copa de 2014, mas para o aumento da competitividade do país no plano internacional.

Ignatios II
O empresário paulista é um entusiasta da missão da iniciativa privada na promoção do desenvolvimento. Ele se diz “envergonhado” com a necessidade de o Governo Federal ter que mudar as regras das licitações para poder agilizar a construção das obras de infraestrutura para receber os jogos. Para exemplificar a agilidade da iniciativa privada, afirmou que “onde o Estado tirou a mão do gerenciamento dos aeroportos, a coisa andou satisfatoriamente”.

Abrir mão
Em conversa com empresários locais, Miguel Ignatios desabafou: “Deveríamos abrir mão do evento”[em relação à realização da Copa de 2014].

Antes de…
Antes que qualquer organizador se apresse… antes que qualquer gestor público se empolgue… antes que qualquer secretário anuncie… é bom não ficar comparando em demasia a Expoacre com os eventos similares no país. É uma feira que mudou o perfil de anos anteriores, sem dúvida. De fato, deixou de ser “um grande arraial”: movimenta muito dinheiro, dentro e fora do Parque de Exposições. Mas, um pouco de cautela é bom para  ninguém ficar superfaturando a festa.

R$ 97 milhões
É a meta de comercialização a ser superada pelos organizadores da feira. Esse valor, comparado a outros eventos no Centro-oeste e Sudeste, assemelha-se ao faturamento de meia dúzia de empresas do setor de máquinas e implementos agrícolas em ano de boa safra. Portanto, é bom concentrar atenções no que a versão acreana já mostrou excelência: compromisso com o visitante e com os empreendedores. Já é mais do que suficiente.Querer impressionar pelos números tem pouco efeito prático.

Cabeça de burro I
No Acre, a expressão “enterrar uma cabeça de burro” sugere insucesso, lentidão, empreendimento que não dá certo. Na economia regional, não seria exagero dizer que Álcool Verde e a Fábrica de Pisos de Xapuri têm, em algum lugar, uma bela cabeça de burro enterrada. Semana retrasada, a Álcool Verde roubou a cena. Na semana que passou, foi a vez da Fábrica de Pisos. O boato que correu foi que o grupo de empresários responsável pelo empreendimento iria demitir parte dos 78 funcionários.

Há vagas
O boato foi desmentido por Jandir Santin, empresário da Laminados Triunfo, que detém 30% do consórcio. Santin assegurou que as mudanças estão na gestão do plano de negócios.

Mudança de foco
Inicialmente, a fábrica priorizaria o mercado externo (não é à toa que foi construída às margens da BR-317). Agora, o mercado interno é a prioridade. Entenda-se por “mercado interno” as regiões Sudeste e Sul. Os testes feitos para aplicação dos tacos aqui no Acre não foram aprovados. Os tacos descolam: o clima não ajuda e não foi desenvolvida tecnologias para que o produto possa ser aplicado em obras locais.

ZPE
Mobiliário do setor administrativo da Zona de Processamento de Exportação foi praticamente todo feito pelas pequenas marcenarias locais. Já é resultado dos compromissos firmados entre o Governo do Acre, por meio da secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio, e os microempresários.


Categories: Acre Economia
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