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Acre deve investir nas ‘portas de entrada’

Amanhã, um grupo de 20 jovens inicia no Novo Mercado Velho o processo de elaboração do Inventário de Turismo do Acre. O documento é uma espécie de “identidade” dos potenciais setores que podem ser explorados pela indústria do Turismo. Apesar da infra-estrutura deficitária em energia, transporte aéreo e terrestre, além da rede hoteleira, o Acre pretende concluir o seu documento até dezembro deste ano. Em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, o trabalho deve terminar em setembro.

Esses detalhes foram apresentados pela secretária de Estado de Turismo, Ilmara Rodrigues ao presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Enrico Fermi Torquato. Amanhã, ele conclui viagens a todos estados brasileiros reforçando o trabalho das diretorias regionais no processo de consolidação da indústria hoteleira. Durante o apagão de energia elétrica na tarde de ontem, ele concedeu uma entrevista ao jornal A GAZETA no saguão de um hotel recém-inaugurado. Leia os principais trechos.

A GAZETA – Como é Acre é avaliado hoje dentro da Abih?
Fermi Torquato
– O Acre é visto como um ponto estratégico, em função da sua localização geográfica. No que diz respeito ao Pacífico, principalmente. É estratégico também por conta da tríplice fronteira. Além disso, a atual diretoria da ABIH quer reforça as representações regionais. Eu concluo amanhã, em Macapá, viagens por todo o país avaliando as questões relacionadas o Turismo. Isso faz com que tenhamos uma visibilidade geral, real e atual do país para que nós possamos nos posicionar nas questões regionais, estaduais e municipais.

A GAZETA – Você é natural do Rio Grande do Norte, um estado que, embora pequeno, já tem, no Turismo, uma fundamental fonte de renda [65% do PIB do Rio Grande do Norte advém da indústria do turismo]. É a primeira vez que você vem ao Acre. Deu para tirar as primeiras impressões?
Fermi Torquato
– Há 30 anos, o principal produto do Rio Grande do Norte era o algodão. Com pragas agrícolas e a entrada no mercado do tecido sintético, sobretudo vindo da China, acabou dizimando as nossas plantações. Não tivemos outra solução, senão focarmos no Turismo como tábua de salvação. Tínhamos uma agricultura de subsistência, não tínhamos indústrias e nem comércio forte. O investimento privado respondeu muito bem no setor hoteleiro. Contávamos com coisas que são bem próprias daqui do Acre também, cultura forte, gastronomia forte e diversificada e trabalhamos bem o conceito do Turismo. A sociedade civil organizada se fortaleceu e foram buscar no poder público e parte de infra-estrutura deficitária naquele momento. Tivemos uma ‘cobrança organizada’ para que o poder público fizesse a parte dele.

A GAZETA – Quem compõe a “sociedade civil organizada” quando se refere aos problemas do Turismo?
Fermi Torquato
– A todos os que compõem a cadeia produtiva do Turismo. Por meio dessa organização, conseguimos fazer com que as decisões do Conselho Estadual de Turismo fossem deliberativas e não apenas consultivas. Isso acelerou o nosso amadurecimento para consolidar a economia do Turismo. Hoje, o Turismo representa 65% do PIB do Rio Grande do Norte. É a principal atividade econômica do Estado.

A GAZETA – Esse investimento é centralizado em Natal ou é descentralizado?
Fermi Torquato
– No princípio, houve centralização em Natal até porque é lá que fica o ‘portão de entrada’. Mas, a necessidade de segurar o turista mais do que ele ficava normalmente no Estado fez com que nós criássemos lá cinco polos turísticos. Esses polos estão integrados hoje. Para isso, tem que ter infraestrutura. O turista não gosta de sofrer.

A GAZETA – O Acre está iniciando um processo. Temos um ‘passivo’ muito grande nesse setor. Do ponto de vista conceitual, o que o Acre não pode deixar de cumprir na tarefa a ser feita?
Fermi Torquato
– Cuidado do ‘portão de entrada’ é o principal ponto: aeroporto, rodoviá-ria, as vias de acesso que o cliente tem logo ao chegar aqui, seja terrestre ou aéreo. Cuidar da infra-estrutura, da segurança, da acessibilidade e fazer com que esse turista possa chegar aos destinos que se propuseram. Cuidar da infra-estrutura básica. Energia é uma delas [nesse momento, a energia elétrica retornou, após apagão]. Os investidores só vem se tiver essa infra-estrutura. Em Pernambuco, por exemplo, teve uma época em que os hotéis tiveram um problema grave de abastecimento de água. Houve um ‘apagão de infra-estrutura’. E isso foi muito prejudicial para o setor.

A GAZETA – Constantemente, o senhor faz referências a planejamentos, estatísticas. O profissional do turismo hoje já tem no planejamento e nas pesquisas uma ferramenta comum de trabalho?
Fermi Torquato
– Sem isso, tudo fica mais difícil. O planejamento aponta para onde queremos ir, qual perfil de cliente que queremos, quais são os nossos potenciais. Hoje, por exemplo, 95% do orçamento do Ministério do Turismo advêm de emendas parlamentares. Portanto, sem a iniciativa privada, o setor do Turismo quebra. E a empresa que quer ser viável, que deseja se consolidar, tem que planejar.

 

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