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Bailarino acreano que vendia cosméticos ganha bolsa para ir estudar no Canadá

A solidariedade de pessoas direta ou indiretamente ligadas ao bailarino Ajozadaque Silva e Silva, de 22 anos, tornou possível a realização de um sonho muito distante da realidade do jovem, que há pouco tempo vendia cosméticos de porta em porta nas ruas de Campinas: se profissionalizar numa escola de balé fora do país.

Tema de uma reportagem da EPTV, AJ, como prefere ser chamado, ganhou uma bolsa para estudar na The Goh Ballet Academy, em Vancouver, mas sem condições financeiras para custear a viagem, tampouco sua estada no Canadá, teve que recorrer a ajuda de amigos e desconhecidos para viabilizar seu projeto de vida. Com o compromisso de voltar a dar aulas na ONG, ele conseguiu a quantia necessária para pagar as passagens e se manter no país durante seis meses, período em que vai se submeter a uma árdua rotina de ensaios. “No início, vamos apresentar o ‘Quebra Nozes’ e teremos ensaios de segunda a segunda, à tarde e à noite”, explica AJ.

Para acompanhar as aulas que começam nesta segunda-feira (12), AJ teve carta branca dos diretores da escola para adiar a viagem e agora, espera pelo visto para confirmar a sua partida, prevista para ocorrer ainda em setembro.

Natural de Rio Branco, no Acre, o bailarino sabia que em São Paulo teria mais chance de seguir para uma grande companhia. Aos 15 anos já estudava jazz e sapateado, mas a falta de estrutura das escolas por onde passou, motivou AJ a vir para a região, em busca de novos rumos. Depois de uma breve passagem por Indaiatuba, conseguiu emprego como vendedor de cosméticos em uma empresa de Campinas e foi por intermédio dessa atividade que chegou até a ONG Pródança, onde encontrou na professora Walkíria Coelho, a apoio necessário para aperfeiçoar a técnica que lhe faltava. “Ele chegou aqui para vender cosméticos e disse que queria dançar. Pedi que me mostrasse o que sabia fazer e quando vi que ele tinha todos os atributos para um bailarino clássico, já soube que ele teria que sair do país”, explica a coordenadora da ONG, Walkíria.

AJ passou a dar aulas na ONG e estudar balé clássico em média cinco horas por dia. Com o incentivo de Walkíria, participou de uma série de concursos até chegar ao Festival Internacional de Dança de Brasília, em julho deste ano, quando foi contemplado com a bolsa para estudar no Canadá.

Para viabilizar seu projeto de vida, ele contou com o apoio de alunos, pais e professores do Pródança, além de empresários da região. “Ficarei dois anos estudando fora, com o compromisso de voltar para dar aulas na ONG. Pensei que não tivesse uma família aqui, mas me enganei. Essas crianças são a minha vida”, conta o bailarino.

O carinho é recíproco. A aluna Milena Lemes Duarte, de 10 anos, colaborou com a quantia de R$ 400, angariada no condomínio onde mora, na escola, entre os familiares e com os colegas de trabalho da mãe. “Gosto muito do AJ e me senti no lugar dele indo para o Canadá. Contei a história dele para todos que conhecia e todo mundo ajudou”, conta a aluna de AJ, que há 4 anos faz aulas de jazz e balé na ONG.
Além de pagar todas as despesas de AJ durante o festival de Brasília, a coordenadora Walkíria Coelho organizou rifas e promoveu uma caixinha entre as crianças para ajudar AJ. “Conseguimos juntar R$ 800, mas ele precisava de muito mais. Alguns colegas que iriam participar de uma competição prometeram que doariam o prêmio, caso vencessem. Todos demonstraram uma solidariedade imensa”, conta Walkíria.

Pró-dança
Há 20 anos, Walkíria Coelho começou a dar aulas de dança aos sábados nas escolas como voluntária. Bailarina e professora de língua portuguesa na rede municipal de ensino, chegou a atender 50 escolas dentro do projeto. Sem apoio, criou a ONG e atualmente atende 700 crianças, que recebem aulas de balé, jazz, street dance, teatro e dança contemporânea. “Não temos ajuda de ninguém. Mantenho a escola com a mensalidade das aulas. Deus me ajuda muito e enquanto eu tiver saúde, vou tocando”, conta.

As crianças que não têm condições de pagar a mensalidade de R$ 35, recebem uma bolsa de 100%, que inclui o material as aulas de dança. Walkíria, hoje com 59 anos, quase não dá mais aulas, e passou a responsabilidade para 24 ex-alunos da ONG. “Sempre falo para os alunos da ONG que eles devem aproveitar a oportunidade que tiveram para transmitir seu conhecimento a outras crianças menos favorecidas”.
A ONG Pródança fica na Rua Fernão Pompeo de Camargo, 222, no Jardim do Trevo, em Campinas, e também conta com uma sede na Vila União e outra em Hortolândia. (Fabiana de Paula – Jornal Eptv.com/ Globo)

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