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Que Deus converta os evangélicos em políticos

Não quero falar da convenção tradicional, daquela pela qual o apóstolo Paulo passou. Para ser bem sincero, não posso, não sou a pessoa mais bem indicada. Porém, com relação à convenção política, sem cabotinismo, posso sim, porque passei e sou um intransigente defensor dela.

Sei que estou mexendo em um vespeiro, mas, sinceramente, não estou nem aí. Sendo mais sincero ainda, eu gostaria que um deles viesse respondesse aos meus questiona-mentos. Quase todos não têm moral política e, dessa forma, são ruins para a política. 

Se existe uma coisa que agrade a minha parca inteligência é alguém falar em ‘crítica construtiva’. Crítica é crítica, pouco ou nada importando se ela é isso ou aquilo outro. Quem concebe e pratica a democracia sabe do que estou falando.

Mas isso se dá no campo do intelecto, mas já embute traços marcantes de um mau-caratismo que tomou conta do parlamento acreano.

As únicas experiências exitosas onde Estado e religião caminharam juntos foi nos governos do rei Davi e de seu filho, Salomão. No mais, principalmente depois da imprescindível contribuição das civilizações gregas e romanas, o mundo testemunhou equívocos e horrores praticados por essa fusão.

Fazendo um corte brusco na história, vindo precisamente para a América Latina (Brasil e Acre, especificamente), houve um acontecimento na década de 70, que iria marcar profundamente a vida dos acreanos: a chegada do recém-sagrado bispo Dom Moacyr Grecchi. Ele era adepto da Teologia da Libertação, uma corrente teológica que engloba diversas teologias cristãs desenvolvidas no Terceiro Mundo, baseadas na opção preferencial pelos pobres, contra as desigualdades e pela sua libertação.

sacerdote chegou no exato momento em que se matava a floresta, os índios e posseiros numa  frenética busca por lucros. As Comunidades Eclesiais de Base, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) encontraram campo fértil para suas atuações.

As atrocidades eram tamanhas que o bispo chegou a suspender a eucaristia, protesto esse que enfureceu as classes conservadoras. A organização comunitária, sindical e a consequente política voltada para os menos favorecidos fincou as bases para os avanços sociais vistos hoje. Dom Moacyr foi a ameaçado de morte inúmeras vezes, fato que jamais o fez fugir de seus ideais. Wilson Pinheiro, Chico Mendes, Marina Silva, Manoel Pacífico e Nílson Mourão são alguns expoentes formados na Igreja Catótica. 

Os evangélicos, por sua vez, inflenciados incisivamente pela Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, do escritor Max Weber, ou veêm a política como algo nefasto, demoníaco ou fazem uso dela para servir aos seus próprios interesses. Antony Garotinho, o casal Henandez e Sônia e a turma da Igreja Universal do Reino de Deus são os mais notórios exemplos.

No Acre, além de conservadores e mantenedores da status quo, esse grupo social ocupa cada vez mais espaço na vida pública. Gradativamente, vêm conquistando mais cadeiras no parlamento e, agora, pensam até em chegar ao Executivo. A Marcha para Jesus (ou para o ego de alguns) é uma demonstração de força e poder de mobi-lização. Coincidência ou não, ela acontece no dia do feriado de Corpus Cristi, o que já ocasionou alguns desrespeitos e desordens.

Essa união, no entanto, é só aparente. Principamente depois do advento da ‘visão celular’, que fez algumas igrejas crescerem vertiginosamente. A luta por adeptos e posição social também creceu na mesma proporção. Sem uma proposta política clara para defender na sociedade, alguns de seus membros enveredam por discurso moralista sem nexo com a realidade. Parafra-seando Karl Marx: Pastores de todas as denominaões, voltem para as ‘suas’ igrejas.   

Jorge Natal é jornalista. E-mail: jorgenatalimprensa@gmail.com

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