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Querida Marilyn

GordaaaTu, que ainda não trilhaste os caminhos do mundo por onde eu passei a partir dos tempos de criança. Tu, que jamais esqueces de que a vida é um eterno buscar, planejadamente, deves prestar muita atenção ao que sugere este simples plantador de futuros em meio às searas e roçados juvenis desta época e deste espaço. Tu ainda hás de te lembrar muito das palavras toscas desta crônica cheia das intenções mais dignificantes possíveis.

As palavras aqui apostas têm, realmente, algo de romântico, talvez muito de piegas. Entretanto, o que interessa é que a mensagem chegue a um público carente de princípios básicos para a vida e ávido por informações mais consistentes e melhor elaboradas, o que para muitos críticos pode parecer simplismo em demasia.

Observe-se, de início, que a moderação e o equilíbrio nas pessoas são apenas o medo de provocar a inveja e o desprezo que merecem aqueles que não têm tanta sorte. É uma vã ostentação do nosso espírito. O bom comportamento dos homens e das mulheres, no seu ponto mais elevado, é apenas o desejo de parecerem mais honrados do que a sua própria boa fortuna permite.

Eu serei muito cortês e discreto para que os invejosos não percebam que tenho mais sorte ou que soube melhor aproveitar as oportunidades que me foram dadas. Para os maledicentes e fofoqueiros, então, eu devo parecer sempre digno, numa tentativa de que a sua revolta não recaia sobre mim. Por Deus!

Não sou de andar por aí fazendo poses, como também não dou aulas de etiqueta, de forma alguma. Exijo apenas o mínimo  –  sem muita frescura – e asseguro que os casos aqui tratados são reais, mas os personagens têm nomes fictícios.

Imagine a cena. Uma moça morena clara, pele encerada, vinte e um anos, de mais ou menos cento e dez quilos, está postada à porta da sala de aula com uma pizza de tamanho médio à mão, dobrada em quatro partes, como se fosse uma tapioca. A boca está cheia e as gordas bochechas, meladas de molho de tomate e mostarda. As banhas lhe caem por sobre o cós da calçona apertada. Uma calcinha vermelha de pobres rendinhas brancas imprensadas contra a barriga aparece como um miserável enfeite. Pior ainda é que ela chupa os dedos sujos, sofregamente, como se fosse comê-los também.

Eis então que surge no corredor comprido da escola o professor Baltazar Eleutério, um homem de boa estampa e muito polido a carregar, dentro de um carrinho de supermercado, doses maciças de dignidade, umas tralhas, talvez, dicionários, projetor de imagem, computador portátil, dentre outros. E lá vai ele entrando através da porta sob a vigilância da moça da pizza.

– Ei, professor gato! Sabia que você é um gato? – É esta a frase da moça dita em forma de cantada.

O professor sequer olha para a garotona e vai direto rumo à mesa já pensando no que fazer para ver funcionarem as tralhas eletrônicas.

Terminada a aula, vai-se embora o mestre escola. De chegada à sala de professores, outra aluna vem lhe repetir as impressões da gordinha comilona:

– Sabe, professor, a Sol, lá do 3º G? Ela veio agorinha me dizer que tem certeza de que o senhor é homossexual, gay, pois lhe deu uma tremenda cantada e o senhor sequer olhou para a cara dela.

Há de se considerar, neste caso, a falta completa, primeiro, de comedimento e, depois, de ética, dentre outros fatores. Antes de mais nada, é difícil acreditar que uma moça de bons procedimentos porte-se de forma tão grotesca a comer o que quer que seja na porta da sala, dando abocanhadas no alimento como se dali a pizza fosse empreender fuga. Atente-se, inclusive, para o aspecto falta de higiene, quando ela lambe os dedos como se fosse um macaco a comer piolhos. E mais: não se pode admitir que uma pessoa com um mínimo de discernimento, ou senso do ridículo, coma qualquer alimento que seja no interior de um recinto apropriado tão somente para a aquisição de conhecimento. Não pode.

Com relação ao fator ético, se a moça em questão tivesse orientações equilibradas dos pais, em casa, ela jamais usaria bordões tão esdrúxulos e tão destituídos de raciocínio para fazer abordagens nem aos seus colegas alunos, quanto mais a professores que, no mínimo, devem portar-se apropriadamente, como o Baltazar em questão.

A essa moça gordinha real e concreta, mais carne e mais banha que osso, falta tudo, inclusive e principalmente, educação.

Consideremos, então, as possibilidades de um bom emprego pela via do conhecimento para a moça anteriormente descrita. Depois, avaliemos que você, querida Marilyn  –  que nada tem a ver com a gordinha  –  está realmente preparada para o enfrentamento da vida fora dos muros e portões da escola. É claro que os seus esforços nas salas de aula, aí, terão valido a pena. É óbvio que estou me referindo à menina educada e gentil que busco em todas quantas alunas (e alunos) que procuram em mim alguma ajuda. Se assim for feito, se os estudos forem real-mente levados a sério, você estará, já, fazendo a base a partir da qual o seu avião ganhará os céus na busca da rea-lidade dos sonhos de sucesso. Pense, portanto, na construção do seu aeroporto. É assim que você começará a trilhar os caminhos da felicidade.

Aí, a Amazonilde Trigueiro entrou sala de aula adentro gritando feito possessa porque o Benedito Total estava a fazer uso da cadeira onde ela estivera sentada até há pouco. Um acinte incabível. Uma falta imperdoável em meio aos loucos com os quais nos temos acostumado a conviver nas salas de aula.

– Levanta daí, seu babaca! Vai perturbar o cacete, seu idiota, imbecil. Ora, um maconheiro desses! Otário!

Já é ridículo um garoto viver aos gritos em casa, na escola, em meio ao seu convívio diário, imagine uma moça a falar alto, principalmente em público. Menina educada fala baixo, comedida e comportadamente, mas com energia, quando necessário.

– Pelo amor de Deus! Agindo assim, você não conquistará sequer um namorado e muito menos um bom emprego por toda a vida afora. Contenha-se! – Foram as minhas parcas palavras, ao que ouvi dela um pedido de desculpas. Melhor. Hoje a Amazonilde é quase outra e, inclusive, não mais fede a sebo, penteia os cabelos com um creme cheiroso e passou a usar um perfumezinho barato, mas muito menos enjoativo.

Querida Marilyn, garanto a você que fêmea do mundo moderno pode descer do salto, sim, mas tão somente quando levar um empurrão, o que é um caso gravíssimo que já lhe permite agir com energia.

Em outras palavras, mulher é mulher, e só. Não é superior e nem infe-rior ao homem. É apenas diferente. É educada ou procura educar-se, é gentil, é compreensiva, mas, quando necessário, os seus pontos de vista devem ser colocados com muita clareza e veemência de forma a dar a entender que o seu comportamento é regido por princípios firmes e a sua competência fala, em voz comedida, mas convincentemente.

Uma outra guria, que nunca foi minha aluna, estuda no dito colégio há alguns anos. Conta mais ou menos vinte e dois verões cinzentos e libidinosos, mas ainda não conseguiu ir além da primeira série do ensino médio. Dizem ter já um filho criado pelos pais mais omissos e covardes do mundo. Ela fuma cigarros Hollywood, o mais fedido dentre todos, talvez. Fica mais na praça que na sala de aula, arranjou um namorado de uns sessenta anos, empresário. Tem estatura um tanto elevada, mas anda em cima de uns saltos de quinze ou mais centímetros. A fiel escudeira  –  dita colega  –  cujo nome também não sei, é quem agüenta e é a vítima da moça mais boçal que eu já vi. De um lado para o outro da rua, ela grita para a amiga a plenos pulmões:

– Tu vem ou não vem, seu carvalho! Ei, putinha, vê se te apressa porque nós não temos todo o tempo do mundo e as aulas aqui terminam à uma hora da manhã. – É o palavreado pitoresco usada por uma Maria ninguém que, dizem, acalenta o sonho de ser modelo. (Isso, é claro, a partir de quando começar a escovar os dentes ou antes de abrir a boca fedida.)

Não estou a exigir demais de pessoas que não tiveram a oportunidade de uma criação mais equilibrada, tanto as moças quanto os rapazes deste meu mundinho torto. Convém, certamente, ensinar modos, maneiras, posturas, sem querer ser o dono da razão nem o rei da cocada preta. Certo é que não me acostumo, por exemplo, a ver umas mocinhas, inclusive na Ufac, chupando aquele indizível pirulito do palito branco enquanto assistem digressões sobre a Física ou a Matemática. Observações como estas são coisas de gente de uma certa idade, como eu, mas não podem ser toleráveis, de jeito nenhum.

Da mesma forma, causa estranhamento ver umas mocinhas até bem fortes de feições que saem corredor afora com um palito nos dentes como se fossem camponesas ignorantes, sem nenhum demérito aos que cultivam as benesses da terra.

São essas mesmas descuidadas que, em quaisquer lugares públicos, simplesmente, dão longas espreguiçadas e abrem largamente a boca em esgares ridículos.

Em quaisquer dos casos, o mais aconselhável, para qualquer mulher que se pretenda desenvolvida, é manter a classe e tentar não se deixar levar pelos embalos da emoção, esta, uma má companheira quando a ocasião exige bom senso. Calma!

Falar em ponderação é lembrar os que têm dois ouvidos para ouvir, apenas uma boca para falar e dez dedos para escrever, além da cabeça arejada. É rememorar em alto estilo o que escreveu Confúcio, o pensador chinês, quando deixou muito claro que aqueles que são prudentes e humildes dificilmente tropeçam.

 

* O www.claudioxapuri.blog.uol.com.br está entre os sete melhores do Brasil via UOL.

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