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As previsões de Mercadante e a práxis de Dilma

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, cotadíssimo para assumir nos próximos dias o Ministério da Educação, se antecipou a uns e outros gurus pitônicos, pródigos em adivinhações ou previsões óbvias, das coisas boas e más que devem acontecer em 2012.  

Mercadante previu, dez dias antes do Natal, que pessoas morre-riam devidos os deslizamentos de terra provocados pelas chuvas. “O Brasil precisa entender que o clima mudou. Nós vamos ter inundações, vamos ter deslizamentos e vamos ter mortes”, enfatizou Mercadante!

A afirmação é duma obviedade olulante, pois essa é uma desgraça que se renova a cada começo de ano, notadamente no sudoeste, de maneira mais atroz. O que espanta é a frie-za dos nossos governantes, deixando ainda transparente, para não dizer evidente, a real impotência dos poderes constituídos, visto que o tempo passa e os governos não possuem meios para sanear os graves problemas sociais que assolam o país. Nesta época do ano, de maneira especial, com esse aguaceiro todo que tem caído em muitas regiões brasileiras o problema se repete de forma mais aguçada, já há mortes inclusive, confirmando as previsões macabras de Mercadante.

E a tão comentada 6ª economia mundial? Pergunta o cidadão comum. Por que não fazer uso dela e priorizar o combate aos males que nos afetam? Afinal estão sendo derramados caminhões de R$ na construção de estádios de futebol, tendo em vista a Copa de 2014.

Na hipótese do Brasil ser mesmo a 6ª economia mundial e não atacar um problema dessa natureza e até dizer, por um de seus ministros, que muitos morrerão, não seria o caso de se dizer, parafraseando os epicuristas da antiguidade, em polemica com os estóicos, que: “O Governo não quer, ou não pode, ou pode e não quer, ou não quer  nem pode, ou quer e pode eliminar o mal. Se quer  e não pode é impotente: o que o Governo não pode ser. Se pode e não quer, é mau, o que igualmente é contrário a função de bem servir. Se não quer  nem pode é impotente, portanto não é Governo. Se quer e pode (única coisa que convém a um Governo sério), qual a origem da existência dessa malvadeza e por que muitos devem morrer?” À luz do entendimento da presidente Dilma Rousseff, o governo pode!

A senhora presidente, em fala recente, tem dito que fará de tudo  para eliminar a miséria no Brasil, pois segundo dados do seu governo ainda existem 16 milhões de miseráveis espalhados pelo país. Em outras palavras: A práxis de Dilma é governar com os pobres espoliados, pessoas que estão “vivendo” em condições econômicas desesperadoras. Pontificam nesta classe as crianças abandonadas; os adultos que vivem e mendigam pelas ruas; as famílias que “moram” debaixo de pontes, palafitas e cafundós, também chamados de “Sapolândia”, “Beco da bosta” “Buraco do pinto” “Bodó da lama” e outras localidades sem a menor infra-estrutura: água encanada; luz elétrica; esgotos, etc. Inditosos que são obrigados a conviver com jacarés, cobras, mosquitos da dengue e outros bichos; isso para só falar da rea-lidade do Norte do Brasil. Pobres despojados da falta de programas de inclusão social (educação, saúde, emprego, habitação, segurança, etc.). Dilma quer governar  com aqueles que são alcunhados de escória da sociedade; com aqueles que são taxados de invasores de propriedades alheias, edifícios, conjuntos habi-tacionais inacabados, e cujo nível de vida assemelha-se a de alguns animais irracionais. Quer governar com os que estão totalmente vulneráveis, em termos de segurança, e privados de mínimas condições de sobrevivência.

Para reverter essa situação endêmica a Senhora Presidente fez, no primeiro de ano governo, investimentos consideráveis em direção ao problema, via Programa de Aceleração de Crescimento ( PAC). Entretanto, para universalizar o serviço, ela sabe que são necessários investimentos cinco vezes maiores dos que aí estão. Talvez, em nome dessa prioridade, a presidente tenha sido constrangida a descartar a possibilidade de conceder novos aumentos aos servidores públicos federais.  Dilma afirmou “que não é hora para isso… Talvez em 2013… Isso vale para todo mundo… ninguém é melhor do que ninguém”.
Especialista em ciências sociais, dizem que um levantamento social da pobreza, ou de qualquer outro problema social, só tem sentido se acreditarmos que algo poderá ser feito para remover  ou minorar tais males. A presidente Dilma está resolvida a comprar esta briga. Estou com ela. Talvez, porque desde menino ouço políticos, a cada nova eleição, prometer “mundos e fundos” para o pobre eleitor pobre que vive eternamente de ilusão em ilusão.

Outra coisa: Há um abismo entre as predições de Mercadante e a efetiva boa vontade da presidente Dilma. Não é à toa que seis de seus ministros caíram em apenas 12 meses de sua gestão. E mais: A medida da presidente fará de 2012 o ano das greves. Quem viver verá!

* Francisco Assis dos Santos é pesquisador bibliográfico em Humanidades. E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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