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“Hoje sou quem sou porque primeiro fui aceito na minha terra,” diz Lázaro Ramos

Discutir o racismo com pitadas de humor e ironia, em uma época que o humor está na berlinda por tratar de forma preconceituosa determinados assuntos, é possível? Na opinião do ator Lázaro Ramos, que estreou como diretor na peça “Namíbia, Não!” é possível sim.  

“Tem uma vertente do humor que afirma de uma maneira precisa que o padrão correto pra você ser é ariano, longilíneo e urbano. É muito perigoso. Eu acredito num humor que está junto do amor. Acho que não precisamos pisar em ninguém pra fazer humor, dá pra ser inteligente sem detonar o outro, desmerecer ninguém pra fazer os outros rirem. Eu acho pobre esse tipo de humor,” considerou Lázaro, durante conversa com jornalistas de todo país em São Paulo, no último domingo, 14.

A peça que tem texto de Aldri Anunciação e direção de Lázaro Ramos, estreou em São Paulo, nos últimos dias 14 e 15 de abril, no Auditório Ibirapuera e já percorreu vários estados do país. Apenas na Bahia, terra natal de Lázaro Ramos e de boa parte da equipe que integra a peça, o espetáculo ficou um ano em cartaz. Para Lázaro Ramos, é fundamental que os locais onde são produzidas as artes prestigiem o que é feito na sua terra. Ele rechaça a ideia de que apenas o que vem de fora é bom.

“Eu sempre levanto essa bandeira. Namíbia, Não! só está hoje no Rio e São Paulo porque foi muito bem aceito na Bahia, onde ficamos um ano em cartaz. O público  compareceu, prestigiou. Isso foi fundamental. Hoje estamos passeando com a peça pelo Brasil, mas a gente falou primeiro pra nossa aldeia e a nossa aldeia nos aplaudiu”.

O primeiro passo, segundo Lázaro é se gostar. “Eu sou quem sou porque primeiro fui aceito na minha terra. As leis de fomento ajudam muito, são importantes, mas o primeiro passo é a gente se gostar”.
Provocado sobre ter mudado o padrão de beleza no país, depois de ter feito o galã André, na novela Insensato Coração, da Rede Globo, Lazaro é direto:

“Eu sou muito feliz do jeito que sou. Minha família me deu autoestima, independente de qualquer coisa. Agora esse negócio de mudar padrão é transitório, os padrões vão mudando a cada semana. Talvez eu tenha de alguma maneira provocado uma reflexão do que pode ser considerado também desejável, aceitável. Mas eu acho que a gente está amadurecendo muito o que é aceitar aquilo que nós somos,” finalizou.

“Namíbia, Não”
 É madrugada de 2016, quando André (Aldri Anuncia-ção) chega em casa desesperado e anuncia ao primo Antônio (Flávio Bauraqui) que o Governo brasileiro assinou uma Medida Provisória, determinando que todos aqueles de “melanina acentuada” sejam capturados e enviados de volta a um país africano.

A medida é justificada como uma forma de reparação social a todos que sofreram por 300 anos com a escravidão e que ainda em 2016 sofrem com o preconceito.

Sem ter como fugir ou se esconder, eles ficam trancafiados em seu apartamento discutindo o racismo e avaliando o retorno à África. Com humor, a peça leva os espectadores a refletirem sobre o preconceito e, sobretudo, a aceitação do outro na sociedade.

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